Luís Campos (Blind Joker)
Intrigada com o aparecimento repentino daquele jornaleiro no avião,
Nelita interpela Luís:
Nelita - Quem é esse jornaleiro, Luís?
Luís - É o Freddy Freeman!
Malu - O pequeno jornaleiro que se transforma no Capitão Marvel Jr.?
Luís - Ele mesmo!
Nelita - E o que ele tá fazendo nessa novelinha?
Luís - Não tá vendo? Vendendo seus jornais, ora!
Freddy - Extra, Extra!
Avião da Transaaxé desaparece ao sobrevoar o Atlântico!
Leiam agora... notícia quentinha!
Extra, Extra!
Luís - Nelita... compre aí um exemplar desse jornal!
Nelita - Cadê o dinheiro?
Luís - Que coisa feia, Nelita... pedindo dinheiro a um ceguinho!
Nelita - Bonito é eu pagar jornal pra marmanjo, né?
Não tem ceguinho certo, seu mão-de-vaca!
Luís - Eu acho isso lindo... e você ganha em dólar, meu Bem!
Nelita - Como você diria: vai procurar uma jega pra pagar seu jornal!
Marlene - Deixe que eu compro o jornal, Luís!
Luís - Tá vendo, Nelita! Isso é que é amiga!
Nelita - Marlene, não vá na conversa desse cara, não, tá?
Luís - É por isso que dizem que brasileiro não tem memória!
Nelita - O que você quer dizer com isto?
Luís - Você entendeu muito bem!
Marlene - Parem com essa discussão boba e vamos ler a manchete!
Ezequiel - Mas não era jornal, Marlene?
Dudinha - Fique quieto, garoto! Ela está falando da manchete que o
jornaleiro gritava, e não da extinta Revista Manchete!
Ezequiel - Ah, entendi!
Dudinha - Eta guri custoso!
Luís - Leia logo essa manchete, Marlene!
Marlene - As letras são muito miúdas... não dá!
Malu - Me dê o jornal que eu leio, Marlene!
Marlene - Eu não dou nada, Malu... eu empresto! Hahahahaha!
Malu - Hahahahaha! Tá bem, Marlene!
Então me empreste seu jornal!
Luís - Fale alto, pra todo mundo ouvir, Malu!
Malu (Pegando o microfone) - Ok! Vamos lá...
"Avião desaparece no ar ao sobrevoar o Atlântico!
Poucas horas antes de fazer sua primeira escala e voando a trinta mil
pés de altitude, uma aeronave da Transaaaxé desaparece dos radares.
O avião levava cinqüenta e uma pessoas a bordo e, ao sobrevoar a zona
conhecida como Triângulo das Bermudas, perde contato com a torre de
controle, desaparecendo no ar. O avião partiu de Porto Seguro com
destino a Vila Xurupita em vôo fretado. Até o fechamento desta edição,
não se tinha notícia sobre o paradeiro do Constellation C121A/51 da
Transportes Aéreos Axé - Transaaxé. Soubemos que o comandante do vôo
1 7 1 emitiu um "S O S" antes de perder contato com os controladores e
que foi captado pela freqüência da Rádio LC51 FDP, do Reino dos Campos
Livres. As equipes de resgates iniciaram as buscas, mas até o momento
não têm qualquer pista do paradeiro da aeronave."
Marlene - Pelo que entendi, um avião da Transaaxé desapareceu enquanto
voava!
Luís - Preste atenção, Marlene... até parece que a Malu fala tão mal
quanto a "Raquel do seu micro!"
Malu - Pois é, Marlene... a notícia fala desse avião aqui!
Marlene - Desse aqui? Ai meu Deus! Meus sais, por favor!
Nelita - Serve sal de frutas, Marlene?
Ezequiel - Eu quero um de manga, Nelita!
Dudinha - Fique quieto, garoto! Você não ouviu a Malu ler que nosso
avião está desaparecido?
Ezequiel - Como assim? Eu estou tocando nele... aqui ele, ó!
Dudinha - Eu sei, Ezequiel, mas o jornal noticiou que desaparecemos
quando sobrevoávamos o Atlântico!
Ezequiel - E como eles sabem da notícia antes dela acontecer?
- Por causa do fuso horário, Ezequiel!
Ezequiel - Como assim?
- Eu explico: por exemplo, quando é 21:00 horas de sábado no Japão, é
09:00 desse sábado no Brasil. Daí, você estando no Brasil poderá
"saber" o futuro... entendeu?
Ezequiel - Não!
Dudinha - Só mais uma vez: um carro bate no Brasil às 07:00 horas do
domingo e você está no Japão. Às 19:00 horas desse mesmo dia você vê
pela Internet o acidente... daí você está "vendo" o passado... sacou?
Ezequiel - Não
Dudinha - Então não posso fazer nada... e fique quieto, garoto!
Ezequiel - Mas eu preciso aprender essas coisas, Dudinha!
Dudinha - Eta guri custoso!
Não posso explicar mais do que isso, Ezequiel, senão os leitores dirão
que o autor tá querendo encher lingüiça!
Ezequiel - Agora foi que minha cabeça deu um nó!
Dudinha - Cala a boca, Ezequiel!
Ezequiel - Mas eu gosto de saber das coisas, Dudinha!
Dudinha - Então vá pesquisar na Internet, Ezequiel!
Ezequiel - Assim que eu voltar pra casa, farei isso, Dudinha!
Enquanto Malu lia o jornal,do mesmo jeito que apareceu, o jornaleiro
sumiu...
- * -
Passada a surpresa da notícia, a viagem prosseguiu tranqüila, pois,
nem todos os passageiros prestaram atenção ao que Malu dissera pelo
microfone. Alguns dormiam e outros conversavam entre si. De repente,
Rebeca deu um grito que acordou os dorminhocos e chamou a tenção de
todos na cabine de passageiros:
- Geeeeeeente! Hoje é aniversário do Dan!
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
Marlene (Puxando a cantoria) - Parabéns, pra, você...
Todos - ... Nesta daaata, que, ri, da,
muitas fe, li, ci, da, des,
muitos ããããnos, de vida!
Chegou a hora de apagar a velinha,
vamos cantar, aquela musiquinha...
parabéns... pra você, parabéns... pra você,
pelo seu a, ni, ver, sá, ri, o!
É pique, é pique, é pique,
é hora, é hora, é hora...
rá... ti... bum....
Da, ni, lo... Da, ni, lo... Da, ni, lo!
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
Margo (Ao microfone) - Vejam, cambada, o que encontrei na cozinha!
Três garrafas da legítima "Champagne Croix des Esprits!"
Todos - Uuuuuu iupiii uaua uau fiuiiiiiiii plac plac plac!
A festa estava bem animada na cabine de passageiros, deixando claro o
estado de espírito do pessoal. As comissárias pegaram refrigerantes
para quem não bebia, cerveja e uísque e distribuiram entre todos. Essa
festinha improvisada, mas repleta de fraternidade e alegria, por umas
duas horas animou a turma. Aos poucos tudo foi voltando ao normal...
alguns voltaram a dormir e outros a conversar com o companheiro do
lado. Seis horas voou-se sob um céu de brigadeiro, mas ao sobrevoar
uma certa zona do Oceano Atlântico, de repente o avião tremeu todo,
deu uma sacolejada, como um ônibus velho trafegando numa das rodovias
Brasileiras, que estão mais esburacadas do que um queijo suíço. Alguns
dos passageiros, já acostumados com essas turbulências, continuaram
suas conversas ou tirando suas sonecas. No compartimento de carga,
que está situado sob a cabine de passageiros, foi um desastre só. As
malas, caixas, sacolas, mochilas, caixotes e duas gradis de madeira
para transporte de animais, foram atiradas de um lado pro outro.
Atingidas pelas bagagens, as grades, uma com um gato e a outra com uma
cadela, desmantelaram-se libertando os dois pequenos animais de suas
prisões temporárias. A cadela, ao ver-se livre, saiu em perseguição ao
gato...
É isso mesmo que vocês ouviram: Babi, a cadela de Andréa Sousa e
Shompsom, o gato de Patricinha, sem que ninguém mais soubesse, iriam
passear em Vila Xurupita. Até aí, nada demais, porém, na correria dos
animais pelo compartimento de cargas, Babi atrás do Shompsom, pega
daqui, foge dali, malas, caixas, caixotes, mochilas e sacolas iam, por
um e pelo outro, sendo arranhadas, rasgadas, derrubadas dos seus
alojamentos, transformando o lugar num campo de batalha após o embate.
Numa dessas fugas, Shompsom viu-se acuado pela Babi e, saltando por
sobre a cadela, chocou-se com um emaranhado de fios, quebrando alguns
destes. Babi, ao tentar pegar o gato, completou o desastrado serviço e
partiu o restante da fiação. No mesmo instante, as luzes da aeronave
apagaram-se. Os dois contendores, como que compreendendo o dano que
causaram, trataram de se esconder, cada um num canto diferente e
distante do outro, permanecendo "pianinhos". Na cabine de passageiros
não se ouviu qualquer barulho que denunciasse a batalha que se travara
no compartimento de cargas. Assim que as luzes apagaram, ouviu-se a
voz do comandante:
- Senhores passageiros, houve uma pane em nosso sistema elétrico
central, mas logo as luzes de emergências serão acesas e iremos ver
o que aconteceu! Relaxem e tenham uma boa viagem!
Ezequiel - Será que a bateria do avião descarregou, Dudinha?
Dudinha - Cala a boca, guri e vê se dorme!
Pela calma que reinava na cabine, pareceu que ninguém percebera o que
ocorrera, mas alguns medrosos preocuparam-se com o fato e, ao ouvirem
a voz do comandante por pouco não se mijaram. Alguns minutos depois, o
comandante voltou a falar:
- Senhores passageiros: fiquem tranqüilos. Houve um pequeno
problema e perdemos um dos motores. Mas não se preocupem, pois esta
aeronave é capaz de voar com apenas três dos seus quatro motores.
Relaxem e tenham uma boa viagem!
Caco -Uff! Ainda bem!
Com esta afirmação do comandante, a paz continuou a reinar no avião.
Não demorou muito e sentiu-se outra forte vibração. Dessa vez os
passageiros entreolharam-se e já não ficaram assim tão tranqüilos.
e mais uma vez ouve-se a voz do comandante:
- Senhores passageiros, ocorreu um novo problema e fui obrigado a
desligar um dos motores. Mas não se preocupem, pois esta aeronave é
capaz de voar com apenas dois dos seus quatro motores. Relaxem e tenham
uma boa viagem!
Numa situação dessas é difícil recuperar-se a serenidade, mas depois
de algum tempo sem que nada mais acontecesse, os passageiros começaram
a relaxar. Após mais uma hora de vôo, ouviu-se uma tremenda explosão.
O avião sacolejou, tremeu, inclinou-se para um lado, inclinou-se
para o outro, deu uma queda brusca e finalmente estabilizou-se.
As comissárias gritaram, a cegaiada gritou, a cadela latiu e o gato
miou... até que a voz tranqüilizadora do comandante soou:
- Senhores passageiros: perdemos um dos dois motores que ainda
funcionavam, mas não se preocupem porque vamos tomar as providências
que o caso exige. Relaxem, não há motivos para pânico ou alarme.
Mantenham-se em seus lugares e com os cintos afivelados até que a
luzinha vermelha se apague! Relaxem e tenham uma boa viagem!
Apesar da voz confiante do comandante, os cegos, as comissárias, a
cadela Babi e o gato Shompsom ficaram alarmados...
Virgínia - E agora, José?
Antonio José - Eu não tenho nada com isso, Virgínia!
Marlene - Calma, gente... o comandante Adler foi piloto na segunda
guerra mundial... ele tem muita experiência!
Caco - Isso foi há mais de sessenta anos, Marlene!
Marlene - E daí, Caco?
Antonio José - E daí, Marlene, que o cara tá bem velhinho, meu bem!
Marlene - Você já viu personagem de ficção envelhecer?
Marilza - É isso que dá não contratar um piloto de verdade, Marlene!
Marcão - O culpado disso tudo é esse autor abestado, Marilza!
Carmem - Também acho!
De repente, a porta da cabine se abre e saem, apressadamente, o
comandante Adler e o co-piloto Max Vermelho, cada um com uma enorme
mochila nas mãos. Eles prendem a mochila nas costas e se dirigem para
a porta do avião...
Malu - Peraí, seu comandante. O senhor disse que não havia motivo para
pânico, mas o senhor está aí se preparando para quê?
Pat Vision - Isso aí não é um pára-quedas?
Adler (Calmamente) - É sim, mas não há motivo para pânico. Fiquem em
seus lugares com os cintos afivelados e relaxem que nós vamos buscar
ajuda!
E eles abriram a porta e saltaram no vazio...
Tiago Cocci - E agora, José?
Antonio José - Eu não sei de nada, amigo!
Aline - Alguém aqui sabe pilotar um avião?
Nelita - Calma, pessoal... Luís era aeromodelista e pode pilotar essa
bosta... eu acho!
Luís - Preciso da ajuda do Evangel e de uma vidente!
Rita Gonçalves - E nós da ajuda de todos os Santos e Orixás baianos!
Carmem - Calma, Rita... lembre-se que o medo é passageiro!
Rita - Então eu sou o medo!
Evangel - Vamos lá, corno velho!
Renato - Para que os pilotos de avião passam por tantos treinamentos,
se aqui nessa novelinha um cego que nunca entrou numa cabine vai
pilotar o avião?
Ricardo - Esqueceu que nos filmes também é assim?
Renato - É verdade!
Continua...
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