sexta-feira, 4 de março de 2011

A história de Danyl Capítulo I

Luís Campos (Blind Joker)


Nas terras altas de Samlasadzurc, um dos condados do Reino dos Campos
Livres, vivia o Conde Rodavlas e sua mulher Anigroj, um casal feliz.
Ela, uma mulher prendada nas artes domésticas, tinha um sonho: ter
filhos. Ele, gostando da coisa e por amar muito a esposa, resolveu
fazer-lhe a vontade e, nove meses depois nascia uma bela menina.
Deram-lhe o nome de Anadria. Alguns anos depois nascia um varão e
batizaram-no, Danyl.
Como ocorreu no batizado da primogênita, foi no do menino: houve uma
grandiosa festa no castelo, regada à cervejota e uma lauta e gostosa
feijoada, especialidade da Condessa Anigroj. Todos sorriam, dançavam,
comiam, bebiam e se divertiam... com gosto de pato!
Quase toda a nobreza camposlivrense estava ali, afinal, esse povo
rico não perde uma boca-livre. Mas dessa vez o Rei Lui Sopmac levou
um presente pro recém-nascido... uma chupeta com o brasão real!
O Rei, sabedor que havia comida e bebida a 0800, fez questão de levar
alguns dos Cavaleiros da Bengala Branca, vendo-se entre estes, Sir
Bialio, Sir Tar Ciss, Sir Ezek EL, Sir Joaq Card, Sir Kakobw, Sir Lind
Merg, Sir Marcon, Sir Oswall, Sir Ric Lex, Sir Serg Pin, Sir Vini
Vlac, Sir Vic Thor e Sir Will, o que comprovava, mais uma vez, a
sovinice do rei. Além dos citados Cavaleiros, grande parte da corte
compareceu ao furdunço. Via-se ali, entre tantos, Natore Holl, Marquês
das Lagoas; Nemarle, Marquesa de Roiteni; Taline, Condessa de Niagoia;
Dreana, Princesa da Riamoura; Toannio Sejo, Marquês dos Recifes;
Zamaril, Duquesa de Rabar; Ahtri Gon, Duquesa do Buiim; Tair Desmen,
Condessa de Corinthians; Cocis Vairde, Marquês de Nadrilon; Luma,
Marquesa de la Moderacion; Duque Vadorsal e sua esposa, Duquesa Giali;
Pat Braill, Marquesa de los Libros; Zialu, Princesa de Arief; Menalu,
Duquesa de la Playa; Anne Lucy, Duquesa de Jampa; Mary Margô, Marquesa
dos Temperos e seu esposo, Iomar, Marquês del Espeto; Condessa Écari
Lin; Duquesa Marnele Gars; Duquesa Eliami; Ramisa Yltau, Condessa de
Nadrilon; as Baronesas Ceni Tespon, Aneli e Mexines; Daiau, Marquesa
do Bucala e a Princesa Duds...

A alegria era geral, até que...

De repente, sem que ninguém esperasse, adentrou o salão de festas do
castelo, Ahninot, uma bruxa muito gostosa, digo, retada, que, por não
haver sido convidada desta vez, rogando pragas, lançou um feitiço
sobre o menininho, transformando-o num gato de pelo verde com as
pontas roxas, olhos amarelos, bigodes e franja rosa... coisa de Bruxa
perua!

Todos, pegos de surpresa, apenas emitiram um "Oh"!

Antes de Ahninot ir embora, pegou de um garçom um abridor de garrafa
em forma de falo, comeu e bebeu tudo que tinha direito e, trôpega,
voltou ao Pântano das Espadas Flamejantes, onde vivia, deixando o povo
presente à festa com cara de quem comeu e não gostou, embora o repasto
estivesse delicioso!

Assim que a bruxa saiu, uma fada apareceu e disse num tom fadal:

- Sou Ecinue, a Fada-madrinha do Danyl. Embora Não possa desfazer
imediatamente o feitiço da bruxa Ahninot, posso torná-lo transitório!

- Pô, Dona Fada... faça logo isso! - gritaram os presentes.

Ecinue pegou sua varinha de condão e deu uma porrada firme na cabeça
do gato que, miando de dor, correu e foi se esconder sob a saia da
Condessa Anigroj, sua mãezinha.

- Precisava bater tão forte no bichinho, Dona fada? - perguntou O
Conde Rodavlav, de cara fechada.

- Esse gato tem a cabeça dura, compadre! - respondeu a fada que,
percebendo os olhares de desaprovação, saiu voando de fininho em
direção ao bosque que circundava o castelo. Antes de desaparecer entre
as árvores, gritando, profetizou:

- No dia em que Danyl entregar seu coração a uma paixão verdadeira e
deixar de ser donzelo, ele voltará a ser humano!

Como não havia mais clima para festas, O Conde Rodavlas encerrou a
orgia e os convivas, à contragosto, se retiraram.

O buxixo correu solto no Reino dos Campos Livres. Em todos os castelos
a conversa versava sobre a cor do gato Danyl que, para alguns era meio
fresca. Outros já achavam que Danyl poderia ser símbolo de escola de
samba... se eles soubessem o que era isso!

Até o Rei Lui Sopmac reuniu seus Cavaleiros da Bengala Branca para
fofocar sobre o futuro do Danyl.

Durante um mês o gato estranho foi tema de conversa em portões,
cozinhas, estrebarias e salões de castelos... até que o esqueceram!

Nas terras altas de Samlasadzurc a vida voltou ao normal, mesmo
sabendo-se que, daquele dia em diante, as coisas não seriam como
dantes no castelo de Abrantes!

Embora seus pais o tratassem com extremo carinho, Danyl só queria
saber de rua. Assim que o sol nascia, o gato se pirulitava, voltando
para casa quando a noite surgia. Seus pais viviam preocupados com a
vida desregrada que o bichano levava e a Anadria era sempre mandada
atrás do fujão, mas voltava sozinha pra casa, pois nunca encontrava o
irmão.

Danyl vivia metido numa cambada que conhecerá nas cercanias de
Samlasadzurc, armando das suas com uma cáfila de gatos vadios que
conhecera em suas andanças e vadiagens diárias. Antes de voltar para
o castelo de seus pais, sempre passava diante duma discoteca e ficava
horas ouvindo os últimos hits.
Com o passar do tempo, Danyl deu-se conta que entendia tudo que os
humanos falavam, mas não compreendia a dimensão disso tudo. Após
sete anos como gato, Danyl conheceu Franslu, um papagaio pinguço e,
com este, descobriu que também podia falar... e não parou mais!

Continua...

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