Luís Campos (Blind Joker)
Em terras do Reino dos Campos Livres, após atravessarmos a Floresta da
Fantasia, num antigo castelo medieval, vive Madame Mínima, uma bela e
pequenina bruxa, porém muito poderosa e gostosinha como "MM".
Aborrecida com Danyl, seu gato de olhos amarelos que sempre tentava
comer sua criação de pintos, Mínima o transformou num dragão e o
mantém acorrentado num dos frios calabouços do castelo.
Desde que transformou Danyl, seu gato,em dragão, não tendo mais com
quem fofocar, discutir as novelas e assistir ao BBB, Mínima convidou o
gnomo Lole para morar com ela e ajudá-la nos trabalhos, conforme se lê
numa tabuleta pendurada no portão do castelo:
" Madame Mínima
Mau-olhados infalíveis, feitiços a granel, poções mágicas de vários
tipos, pragas de todos os modelos, os mais modernos encantamentos e
qualquer outro trabalho que pareça estranho nessa área.
Tudo a preços módicos!
Nas horas vagas pinto unhas, corto e aliso cabelo, mato verruga, curo
reumatismo, unheiro, frieira, joanete, pé-de-atleta, calo, etc.
Serviços de carpideira, parteira, rezadeira e outras eiras.
Ligue já, mas nunca a cobrar: 666-666
Atendemos em domicílio!"
Como se vê, Madame Mínima se vira!
Madame Mínima se diz descendente da grande Circe, a famosa feiticeira
da Grécia antiga, de quem Homero falou na Odisséia e que também quis
lascar o Ulisses em uma das suas aventuras.
Mínima usa uma varinha de condão feita em marfim, um anel de ouro que
diz ter pertencido ao Merlin e pelo qual vive em eterno conflito com o
Mago Manblind. Seu caldeirão em aço inoxidável foi presente da amiga
Maga Patalógika que o fundiu nas lavas do Vesúvio.
Quando não está voando em sua bengala mágica vibratória, Mínima está
bolando algum feitiço para sacanear o Mago Manblind ou o Luy Sopmac,
rei do Reino dos Campos Livres.
Se estiver de bom humor e sem nada para fazer, senta-se numa varanda
do castelo para ler as revistas da Mafalda, a personagem contestadora
e filósofa criada pelo argentino Quino.
Na cozinha do castelo, em prateleiras baixinhas, encontram-se alguns
potes de vidro com as coisas que utiliza no seu dia-a-dia de bruxa
e que são repostas pelo gnomo Lole, produto das caçadas noturnas na
Floresta da Fantasia, desse nobre e valente elemental. Os frascos em
várias cores e tamanhos, devidamente etiquetados, contêm pós, grãos,
folhas, líquidos, bolachinhas de gomas, avoador...
- Pare! Pare!
- Que foi, Madame Mínima?
- O Senhor está pensando o quê?
- O que de quê?
- Onde já se viu! Então o Senhor acha que eu, uma bruxa de respeito e
organizada, iria misturar meus apetrechos de bruxaria com alimentos?
- Eu não acho nada, Madame Mínima... apenas descrevi o que vi!
- Por acaso o Senhor é cego?
- Não por acaso, Madame Mínima, mas por um descolamento da retina!
- Aquilo que o Senhor chama de bolachinhas de goma são bolas de
naftalina e o tal do avoador são sais de banho que esqueci de levar
pro banheiro!
- Desculpe-me, Dona Mínima! Prometo ter mais cuidado!
- Espero que sim! Preste mais atenção no que fala... estava indo
tão bem!
- Obrigado! Posso continuar?
- Pode... mas vê lá o que fala! Se disser mais alguma besteira, eu o
transformo num sapo velho!
- Pode deixar! Como eu dizia, numa outra prateleira encontramos mais
alguns frascos, também em tamanhos e cores variadas, contendo umas
coisas muito estranhas... deixe eu me aproximar para ler as etiquetas.
Essas letras horrorosas parecem hieroglifos! Rê rê rê!
- Já vem o Senhor novamente! Agora vai implicar com minha letra, é?
- A Madame me desculpe, mas a Senhora escreve tão feio quanto médico!
- O Senhor não entende, meu caro! Nós bruxas escrevemos dessa forma
para que o leigo não saiba o que está no frasco e assim não invente de
manipulá-los para fazer poções mágicas perigosas!
- Ah! Seria possível a Senhora ler para mim as etiquetas?
- Claro... embora o Senhor não mereça!
- Faça isso em nome da literatura universal, minha Senhora!
- Em respeito aos leitores, farei o que me pede. Anote aí!
Dentes de dragão, bigodes de morcego, escamas de cobra vesga, lava
incandescente, água sulfurosa de vulcão, rabo de escorpião, raspas de
chifre de unicórnio, pelo de morcego indiano, penas de corvo inglês,
rabo de lagartixa francesa, asas de pernilongo africano, pernas de
lacraia americana, couro de rã sueca, grilos defumados, gafanhotos
curtidos, trevo de quatro folhas, pétalas de urtiga, cigarras secas,
casulos do bicho-da-seda, ferrão de maribondo baiano... e esse último
contém falanges de escritores medíocres! Hihihihihihihi!
- Isso é alguma indireta, Madame Mínima?
- Não, filho... é direta mesmo! Hihihihihihihi!
- Como não achei graça, posso continuar meu trabalho?
- À vontade... à vontade! Hihihihihihihi!
Ainda bem que ela foi lá pra dentro, assim posso contar uma coisinha!
Vejam como são as coisas: Madame Mínima é famosa, cheia de poderes e
se acha a rainha da cocada preta, mas se mija de medo quando vê uma
simples barata ou uma pequenina aranha! Rê rê rê!
Eu estava prestando atenção nas etiquetas que ela lia e, por duas
vezes, ela pulou um frasco... esse aqui com asas de barata grega e
esse outro contendo barrigas de aranhas prenhas! Rê rê rê!
Ih, lá vem ela! Acho melhor eu continuar a...
- Alakazam, alakazim,
se você quer me zoar,
no capítulo dou um fim!
Continua...
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