sábado, 12 de março de 2011

A história de Danyl Capítulo IV

Luís Campos (Blind Joker)


Na manhã seguinte Danyl acordou de bigodes virados e, como já estava
de "mala e cuia" pronta, decidiu que deveria partir e foi despedir-se
dos pais e das irmãs:

- Pai, Mãe, manas... tô indo!

O Conde e a Condessa, mais uma vez, tentaram dissuadir Danyl:

- Filho, o mundo está tão violento e tem dengue em tudo que é lugar! -
disse a Condessa com os olhos marejados.

- Ora, Dona Anigroj... isso aqui é só uma historinha!

- Eu sei, Filho, mas o autor quer pôr um pouco de drama na história!

- Pois é, Mamãe... não demora e ele põe a gente falando com sotaque
baiano!

- Oxente, Filho! Não acredite em tudo que dizem dele... eu até gosto
do rapaz!

- Ó paí, ó, Mãe! Eu não disse? Acho melhor me picar dessa historinha!

- Calma, filhinho... se você sair, ninguém saberá como você virou
dragão e foi parar no castelo da Madame Mínima!

- A Senhora tem razão, Mamãe... mas isso acabaria a carreira desse
escritorzinho medíocre!

- Não fale assim do moço, filho... ele não é dos piores!

- A Senhora diz isso porque nunca leu as porcarias que ele escreve!
E tem mais uma coisinha... se eu hoje sou um gato, a culpa é só dele!

- Eu sei, filhinho, mas acho que ele vai consertar as coisas!

- Pode até ser, Mamãe, mas tenho certeza que antes de voltar a ser
humano, comerei o pão que o diabo amassou!

- Se beber seu leitinho depois, filhinho, você não se engasga com esse
pão aí!

- Tá bem, Mamãe... deixa pra lá! Fui!

- Filho, não esqueça que o mundo é cruel com os humanos, imagine com
um gato que fala! - disse o Conde Rodavlas.

- Ora, Papai! Eu já tenho mais de oito anos gatal e continuo donzelo!

- Filho, tem tanta gata de programa aqui em Samlasadzurc. Por que
sair por aí, que nem um gato vadio?

- Ora, Papai! Eu tenho que procurar minha gata-metade, meu pedaço da
laranja...

- Mas Filho... tem muitas laranjeiras no pomar do nosso castelo!

- Não estou falando dessas laranjas, Mamãe!
Eu preciso molhar o biscoito...

- Mas Filho, eu sempre coloquei uns biscoitinhos em seu leitinho!

- Não é isso, Mamãe... eu quero afogar o ganso...

- Que maldade, filhinho... por que fazer isso com um bichinho tão
bonitinho?

- Papai, por favor, explique pra Mamãe o que a Fada-Madrinha falou!
Ter mãe loura é uma zorra!

- Tudo bem, Filho! Eu o compreendo, afinal, aquilo é muito bom!

- Então fui, pessoal!
Adeus, Mamãe, adeus Papai, adeus manas!

- Adeus não... nos diga até breve! - disse a pequena Enidale.

E assim, antes que se molhasse no rio de lágrimas que escorria pelas
escadarias do castelo, Danyl cruzou a ponte levadiça sem se voltar,
levando ao ombro uma pequena bolsa com a grana que seu pai lhe dera,
algumas barras de cereais e a própria pele como único agasalho para
as noites frias do inverno vindouro!

Nessa manhã ensolarada de outono, de uma das janelas do castelo,
seus pais, abraçados à suas duas irmãs, com lágrimas nos olhos,
viram-no partir sem destino e sem data para voltar.

Danyl pegou a estrada, deixando para trás as terras de Samlasadzurc.
Andou durante todo o dia, cruzando pontes, subindo e descendo serras,
atravessando aldeias e florestas até o entardecer, quando decidiu que
merecia um descanso. Adentrou um pequeno bosque e sentou-se recostado
a uma grande pedra à beira dum rio. Já cochilava quando foi despertado
pela voz de um homem que, afinado, cantava:

- "Eu sou um cego...
Não tenho a alegria
de ver a luz do dia
nem o esplendor do sol...

Não vejo a luz da aurora
o clarão da lua cheia
o azul do arrebol..."

Danyl, levantando-se, aproximou-se do local onde o homem se banhava.

- Olá, amigo! Você canta muito bem!

- Obrigado! E você, quem é? O que faz por aqui? - perguntou o homem
virando-se em direção a Danyl.

- Eu sou Danyl... estou viajando sem destino em busca de aventuras!

- Aventuras? É o que não falta nesse mundão de meu Deus, amigo Danyl!

- Pois é... e eu pretendo vivê-las!

- Tome cuidado... há muita gente ruim nessa terra!

- Estarei atento, amigo...

- Meu nome é Iul e moro numa cabana aqui perto!

- E o que você faz na vida?

- Sou poeta e canto a beleza da vida!

- Mas a poesia não dá roupa a ninguém... você vive de quê?

- A natureza alimenta meu corpo e a poesia minha alma!

- E isso é o bastante? Não sente falta de alguém pra conversar?

- Não! Sempre converso com as plantas, os bichinhos e as estrelas!

- Tudo isso é muito poético, mas não dá camisa pra ninguém!

- Mas quem precisa de camisa? Eu vivo muito bem com o que tenho!

- Sei, mas percebo que suas roupas são de marca... você é nobre?

- Fui! Tenho, em algum lugar, um irmão gêmeo que é um rei!

- E o que aconteceu? Como veio parar aqui?

- Essa é uma longa história e como o capítulo já acabou, se o autor
quiser, num outro capítulo eu lhe conto!

- Eu ficarei ansioso para ouvi-la... e acho que os leitores também!

- Amarra-se o burro à vontade do dono, né?

- É verdade! Fazer o quê?

Continua...

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