Olá, pessoal.
A novelinha abaixo fiz em homenagem à amiga Elisete, editora do Site
"Planeta Educação", no qual tenho alguns textos publicados, após
indicação do meu nome a esta, pela amiga Marta Gil.
É uma brincadeira com a Elisete e, para minha alegria, ela gostou
e sorriu bastante. (Risos)
Ela e os três filhos criam buldogues em um canil que abriram.
Estou sabendo que, em recente exposição, o Soyuz sagrou-se campeão e
até deixou um monte de "buldogas" apaixonadas... essa é a vida de cão
que eu queria! (Risos)
Espero que vocês gostem e fiquem ansiosos pelos capítulos vindouros!
Abraços e beijos.
Luís Campos (Blind Joker)
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Revista Cego à Vista
Brincar, sorrir e sonhar são coisas sérias!
Editor: Luís Campos (Blind Joker)
Salvador - Bahia - Brasil
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Soyuz, o buldogue meio grogue
@ Capítulo I.
Narrador - Esta é uma das aventuras do Soyuz, um filhote de buldogue
um pouquinho atrapalhado. Soyuz mora num sítio com sua dona e os
filhos desta, mas um dia...
Elisete - Soyuz, Soyuz... venha cá, belezura!
Narrador - A moça tinha nas mãos um grande osso que, após fazer uma
sopa, tirando todo o "tutano", decidira dar ao seu buldogue. O cão,
entretido na brincadeira com as galinhas do sítio, não ouvia seu
chamado. Elisete foi até o quintal e, surpreendida com o que viu, deu
um pequeno grito...
Elisete - Soyuz! Chô, chô...
Narrador - Soyuz estava deitado de lado e três galinhas bicavam seu
corpo. O cão parecia gostar daquilo, pois não demonstrava sinais de
irritabilidade... mas Elisete se irritou e o pegou pela coleira...
Elisete - Venha cá, Soyuz! Que modos são esses? Vai agora mesmo pro
canil!
Narrador - Elisete colocou o cachorro no canil, fechou a grade e
jogou-lhe o osso...
Elisete - Tome esse osso e vê se aprende que cão não brinca com
galinhas!
Narrador - Vendo sua dona retornar à casa, Soyuz deitou-se, triste,
diante da grade que servia de portão ao canil. Alguns segundos depois,
as três galinhas que o bicavam, aproximaram-se da grade...
Garnisé - Có, có! Não fique triste, Soyuz... gente não está acostumada
com essa "misturada"!
Soyuz - Au, au! O que ela entende de cachorro?
Carijó - Có, có! Ora, ora, Soyuz... gente é assim mesmo!
Pintada - Có, có! É, Soyuz... gente não entende nada de bicho!
Soyuz - Au, au! Mas gente também não é bicho?
Pintada - Có, có! É, Soyuz... só que um pouquinho diferente!
Soyuz - Au, au! Diferente? Só porque anda sobre as duas patas? Eu
também sei andar sobre duas patas... vejam!
Narrador - Soyuz afastou-se da grade e deu alguns passos sobre as duas
patas traseiras, mas logo deixou-se cair sobre as quatro patas...
Garnisé - Có, có! Bravo, Soyuz!
Pintada - Có, có! É isso aí, Soyuz!
Carijó - Có, có! Muito bem, Soyuz!
Soyuz - Au, au! Obrigado, amigas... mas isso cansa! Auf, auf!
Pintada - Có, có! Olha, Soyuz... alguns bichos foram criados para
andar sobre duas patas, como nós, por exemplo, e essa gente "humana".
Outros andam sobre as quatro patas... Deus foi quem determinou assim!
Soyuz - Au, au! Deus? Quem é Deus?
Carijó - Có, có! Você nunca ouviu falar de Deus, Soyuz?
Soyuz - Au, au! Não sei... ah, acho que um dia ouvi minha dona falar
nesse nome ! Ela estava ajoelhada e dizia umas palavras baixinho...
só ouvi o nome desse Deus!
Garnisé - Có, có! Deus, Soyuz, é o criador do céu e da terra!
Soyuz - Au, au! Céu? O que é céu, Garnisé?
Garnisé - Có, có! Tá vendo esse azul lindo aí em cima, Soyuz... isto
é o céu!
Soyuz - Au, au! E quando fica tudo escuro? Eu tenho medo do escuro!
Pintada - Có, có! É que chegou a noite, Soyuz!
Soyuz - Au, au! Noite? O que é noite?
Carijó - Có, có! É a divisão do dia, Soyuz!
Soyuz - Au, au! E o que é dia?
Garnisé - Có, có! Olha aqui, Soyuz... nós não sabemos explicar essas
coisas cientificamente, mas sabemos que existe o dia e a noite...
Soyuz - Au, au! E pra que existe dia e noite?
Carijó - Có, có! Bem, Soyuz... a gente humana usa o dia pra trabalhar
e a noite para descansar!
Soyuz - Au, au! Trabalhar? Descansar? E o que é isso?
Pintada - Có, có! Trabalhar é sair pela manhã, vestindo umas coisas
estranhas, com a cara pintada, umas coisas nas patas...
Carijó - Có, có! E quando voltam pela tardinha, ainda trazem uns sacos
nas patas superiores... cheios de coisas gostosas...
Soyuz - Au, au! E isso de descansar? Como eles fazem isso?
Garnisé - Có, có! Muitas vezes, dormindo...
Pintada - Có, có! É, noutras, nos bares e festas...
Carijó - Có, có! E noutras diante de uma caixa que tem umas figurinhas
de gente humana e até mesmo de gente bicho...
Soyuz - Au, au! Ah! Já vi essa caixa... e ela fala...
Garnisé - Có, có! Fala, canta, sorri, bate palmas... e até mostra
gente humana matando e morrendo!
Soyuz - Au, au! Como assim, Garnisé?
Garnisé - Có, có! É um negócio que chamam de guerra...
Soyuz - Au, au! Tomara que os bichos não aprendam isso!
Carijó - Có, có! Nunca os bichos aprenderão isso, Soyuz...
Pintada - Có, có! É, Soyuz... bicho é mais inteligente que o humano!
Soyuz - Au, au! É verdade, Pintada! Minha dona não entendeu que vocês
só estavam catando minhas pulgas e carrapatos!
Garnisé - Có, có! É, Soyuz... ela interrompeu nossa merenda!
Todos - Có có có auf auf auf có có có auf auf auf có có có
Narrador - Já que os bichos estão alegres e sorrindo com a tirada da
Garnisé (E por falta de inspiração do autor - Rê rê rê!), aproveito
para encerrar esse capítulo. Aguardem as novas aventuras de Soyuz!
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@ Capítulo II.
Elisete - Uaiiiiiiiiiiii! Socooooooooorro, meninos!
Narrador - A moça estava sobre uma cadeira e gritava desesperada. Os
meninos jogavam bola no quintal...
Fernando - Acho que ouvi a Mamãe chamar!
Gustavo - Impressão sua... chute logo essa bola!
Elisete (Gritando) - Socoooooooooorro, meninos!
Felipe - Acho que é a Mamãe! Ela está nos chamando!
Gustavo - Que terá acontecido? Vamos lá!
Fernando - E parece que é coisa séria!
Narrador - Eles correram até o quarto de bugigangas, de onde partira
o grito e encontraram a mãe em pé sobre uma cadeira...
Felipe - O que foi, Mamãe? Por que esse desespero?
Elisete - Ai, meninos! Um monstro... um monstro!
Fernando - Que monstro é esse, Mamãe? Não estou vendo nada!
Elisete - Um rato, meu filho... enoooooorme!
Gustavo - E pra onde foi o rato, Mãe?
Elisete - Entrou debaixo desse guarda-roupa aí, filho!
Fernando - Tá bem, Mãe! Desça da cadeira que mataremos o monstro!
Hahahahahahah!
Gustavo - Hahahahahahah!
Felipe - Hahahahahah!
Elisete (Zangada) - Vocês riem porque não viram o tamanho do bicho!
Fernando - Certo, Mamãe... mas desça logo daí!
Elisete - Eu só desço quando ver esse monstro morto!
Fernando - Tá bem, Mãe! Vamos pegar esse seu monstrinho! Hahahahahah!
Felipe e Gustavo - Pegaremos o monstro! Hahahahahah!
Elisete (Fazendo cara de zangada) - Filhos desalmados... rindo de
uma pobre mãe assustada!
Felipe - Só estamos brincando, Mamãe!
Gustavo - É, Mamãe... relaxe!
Elisete - Relaxar? Com esse rato em casa... nunquinha!
Fernando - Daremos um jeito nele, Mamãe!
Narrador - Os rapazes empurraram o guarda-roupa para o lado e Felipe
agachou-se para ver se o rato estava por ali...
Felipe - Não vejo rato algum, Mamãe!
Fernando - Ele já foi embora, Mãe!
Elisete - Como assim?
Gustavo - Ele saiu para o quintal por um buraquinho aqui na parede!
Elisete - Tem certeza, filho?
Fernando - Claro, Mãe... pode descer agora!
Elisete - Tomara que o Soyuz pegue esse monstro!
Fernando - Não creio, Mamãe... mas vamos esperar pra ver!
Elisete - Eu não vou esperar nada! Vou chamar uma dedetizadora agora!
Narrador - A moça desceu da cadeira e correu para a sala. Sentou-se
diante do telefone e pegou a agenda telefônica...
* DISC DISC DISC DISC DISC DISC DISC DISC!
Elisete - Alô!
Voz do outro lado da linha - Dedetizadora Casa limpa, às ordens!
Elisete - Preciso dos seus serviços!
Voz - Pois não, minha Senhora! Qual é o problema?
Elisete - Minha casa está infestada de ratos!
Felipe - Menos, Mamãe, menos!
Voz - Ratos é a nossa especialidade, Senhora!
Elisete - Isso é bom, porque aqui tem mais de mil ratos!
Fernando - Mamãe, então é melhor chamar o Flautista de Hamelin!
Hahahahhahah!
Felipe e Gustavo - Hahahahhahahahaha!
Elisete (Tapando com a mão o bocal do telefone) - Deixem de graça!
(Voltando a falar ao telefone) - E quando você poderá enviar um
preposto aqui em casa?
Voz - Ainda hoje, minha Senhora! Pode me dar o endereço, por favor?
_ * _
Narrador - Naquela tarde, Soyuz descansava sob a sombra de uma árvore,
quando sentiu um cheiro estranho vindo da entrada do sítio. Com as
orelhas em pé, levantou-se rapidamente e, latindo, correu até o
portão...
Soyuz - Au au au au au au!
Narrador - Do outro lado do portão, um gato o olhou assustado...
Gato - Miau! Que é isso, meu camarada? Pra que essa violência?
Soyuz - Au, au! Que bicho é você?
Gato - Miau! Ora, amigo... eu sou um gato!
Soyuz - Au , au! E o que é um gato?
Gato - Miau! Um gato é um gato, ora!
Soyuz - Au, au! Eu nunca vi um gato... você tem um jeito estranho!
Gato - Miau! Estranho, eu? E o que me diz de você?
Soyuz - Au, au! Eu sou um cão... e não vejo nada estranho num cão!
Gato - Miau! Tá bem, amigo, mas eu preciso entrar!
Soyuz - Au, au! Entrar? Por que você quer entrar aqui?
Gato - Miau! Porque sua dona ligou pra nossa Empresa!
Soyuz - Au, au! Empresa? O que é Empresa?
Gato - Miau! Empresa é uma "Pessoa Jurídica" que resolve os problemas
que uma "Pessoa Física" não sabe resolver, por exemplo!
Soyuz - Au, au! Você fala muito complicado!
Gato - Miau! Acho melhor acabarmos essa conversa... preciso trabalhar!
Soyuz - Au, au! Trabalhar em quê?
Gato - Miau! Sua dona disse que aqui está cheio de ratos e eu vim para
exterminá-los!
Soyuz - Au, au! Exterminá-los? O que é isso?
Gato - Miau! Essa sua ignorância está me dando nos nervos!
Soyuz - Au, au! Ignorância? O que é isso?
Gato - Miau! Ai, meu Deus... quanta inocência!
Eu vim para matar os ratos!
Soyuz - Au, au! Matar? É como uma tal de guerra que a Garnisé falou?
Gato - Miau! Não sei o que essa tal Garnisé falou, mas é isso mesmo!
Vou promover uma guerra contra os ratos dessa casa!
Soyuz - Au, au! Você não vai fazer essa tal de guerra aqui... nunca!
Gato - Miau! Por favor, amigo... preciso ganhar meu pão!
Soyuz - Au, au! Por que não vai pedir seu pão à sua dona?
Gato - Miau! Olha aqui, amigo... desde que deixei aquela história das
botas de sete-léguas que estou emancipado!
Soyuz - Au, au! Emancipado? O que é isso?
Gato - Miau! Quero dizer que não tenho dona! Sou um gato independente,
entendeu?
Soyuz - Au, au! Mais ou menos... como é seu nome?
Gato - Miau! Eu me chamo Felpudo... posso entrar?
Soyuz - Au, au! Tá bem... se você me prometer que não fará essa tal de
guerra por aqui!
Felpudo - Miau! Prometo, prometo... mas deixa logo eu entrar!
Soyuz - Au, au! Vou abrir o portão... entre! Meu nome é Soyuz!
Felpudo - Miau! Valeu, Soyuz... acho que seremos bons amigos!
Soyuz - Au, au! Também acho! Você deixa eu ajudá-lo?
Felpudo - Miau! Se você não atrapalhar!
Soyuz - Au, au! Posso chamar a Garnisé, a Carijó e a Pintada para
ajudar também?
Felpudo - Miau! Quem são estas?
Soyuz -Au, au! São umas amigas galinhas... três "bicho-fina"!
Felpudo - Miau! Como tudo nessa história tá meio estranho mesmo, não
vejo nada demais em algumas galinhas, um cão e um gato caçarem ratos!
Os dois - Auf auf auf Miauf miauf miauf auf auf auf miauf miauf miauf!
Narrador - Mais uma vez essa história acaba em risos... melhor que
acabar em pizza! Rê rê rê!
- - -
@ Capítulo III
Narrador - Felpudo acompanhou Soyuz até o quintal onde encontraram as
galinhas que ciscavam à sombra de uma laranjeira...
Soyuz - Au au! Meninas... quero apresentá-las ao Felpudo!
Narrador - Ao verem o gato, as galinhas ficaram assustadas...
Felpudo - Miau! Não se assustem, Senhoras... sou um gato educado!
Soyuz - Au au! Calma, amigas! Acho que esse bicho não é perigoso...
Felpudo - Miau! a não ser pros ratos! Miauf miauf! (Riso felino)
Soyuz - Auf auf auf! (Riso buldoguino)
Carijó - Có có! Sinto muito, mas não achei graça!
Garnisé - Có có! Nem eu!
Pintada - Có có! Soyuz, esse bicho é perigoso!
Soyuz - Au au! Como assim, Pintada?
Pintada - Có có! Ele é uma ameaça à família do Don Ratón!
Garnisé - Có có! Isso mesmo, Soyuz!
Soyuz - Au au! Não é bem assim, Garnisé... já conversei com ele a esse
respeito!
Carijó - Có có! E você vai confiar nos miados de um gato, Soyuz?
Garnisé - Có có! Don Ratón, Giselle e seus filhos são nossos amigos!
Felpudo - Miau! Nunca vi isso! Desde quando galinhas são amigas de
ratos?
Pintada - Có có! Desde quando gatos são amigos de cães?
Felpudo - Miau! Isso não vem ao caso... eu sou pago para exterminar
ratos e devo cumprir meu dever!
Soyuz - Au au! Mais devagar, Felpudo! Não quero saber de mortes em
meu território!
Felpudo - Miau! Não é essa a questão, Soyuz! Sua dona me contratou
para pegar os ratos do sítio e eu devo fazer isso, afinal, tenho um
nome a zelar!
Soyuz - Au au! Concordo em parte, Felpudo! Mas podemos estudar a
questão e evitarmos matanças desnecessárias!
Garnisé - Có có! Muito bem colocado, Soyuz!
Carijó - Có có! Isso é que chamo de bom-senso!
Pintada - Có có! Que tal chamar a Giselle e seus filhos para uma
conversa?
Felpudo - Miau! Por mim está bem! Não quero que vocês pensem que sou
radical! Podem marcar essa conversa!
Soyuz - Au au! Então, Meninas, espalhem pelo sítio que haverá uma
reunião hoje, ao pôr do sol, no pedrão do Pau-Brasil! Também falem
com Dom Pedrês para convocar Don Ratón e sua família!
Garnisé - Có có! Faremos isso, Soyuz! Vamos, Meninas! Até mais ver,
Senhor Felpudo!
Felpudo - Miau! Até mais tarde, Senhoras!
Soyuz - Au au! Até mais, Meninas! Vamos aproveitar para tirarmos uma
soneca até a hora da reunião, Felpudo!
Felpudo - Miau! Boa idéia, Soyuz... estou mesmo precisado!
_ * _
Narrador - Enquanto Soyuz e Peludo dormiam, Carijó, Garnisé e Pintada
foram procurar Dom Pedrês, um galo grande e vermelho, muito sabido,
para que moderasse a reunião, a fim de evitar confusões. Pedrês estava
na beira do riacho que tem no fundo do sítio, conversando com Dona
Perereca, uma rã tão esperta quanto o Pedrês...
Pedrês - Quiquiriqui! Pois é, Dona Perereca... precisamos manter nosso
habitat sempre limpinho!
Perereca - Croá croá! Digo isso aos bichos, Dom Pedrês, mas o bicho
humano é irresponsável quando se trata de salvar a Terra!
Pedrês - Quiquiriqui! E o meio-ambiente é quem sofre as conseqüências
com toda essa agressão! O bicho humano esquece que está destruindo o
planeta!
Perereca - Croá croá! O jeito é nos unirmos, Dom Pedrês e quem sabe,
assim, poderemos...
Carijó -Có có! Dom Pedrês, Dom Pedrês... olá, Dona Perereca!
Perereca - Croá croá! Olá, Meninas!
Pintada - Có có! Oi, Dona Perereca!
Garnisé - Có có! Olá, Dona Perereca... como vai Seu Cururu?
Perereca - Croá croá! Aquele traste que se diz meu marido deve estar
na beira da lagoa pescando mosquitos com seus amigos desocupados!
Pedrês - Quiquiriqui! O que vocês querem, Meninas?
Carijó - Có có! Viemos trazer um recado do Soyuz!
Pintada - Có có! Ele mandou avisá-lo que haverá uma reunião hoje...
Garnisé - Có có!... Ao pôr do sol, no pedrão do Pau-Brasil!
Pedrês - Quiquiriqui! Reunião para discutir o quê?
Garnisé - Có có! É que nossa dona contratou um gato para acabar com
os ratos do sítio...
Pintada - Có có!... E não podemos deixar que esse gato malvado pegue
nossos amigos!
Perereca - Croá croá! Isso é verdade!
Pedrês - Quiquiriqui! Vamos procurar esse gato que vou expulsá-lo do
sítio a bicadas!
Perereca - Croá croá! É assim que se fala, Dom Pedrês!
Garnisé - Có có! Calma, Dom Pedrês! Violência gera violência!
Carijó - Có có! Mas o Soyuz marcou essa reunião para decidirmos o que
faremos!
Mocha - Ru ru! Sábias palavras, Dona Garnisé!
Perereca - Croá croá! Bons ventos a tragam, Dona Mocha!
Mocha - Ru ru! Eu ia passando e ouvi a conversa de vocês!
Pintada - Có có! Também com uns ouvidos tão grandes... cori cocó!
Carijó e Garnisé - Cori cocó cori cocó! (Risada galinácea)
Perereca - Croá croá! Meninas... respeitem a idade de Dona Mocha!
Carijó, Garnisé e Pintada - Có có! É só brincadeirinha, Dona Coruja!
Mocha - Ru ru! Eu compreendo, Meninas! Não estou zangada com vocês!
Carijó, Garnisé e Pintada - Có có! Obrigada, Dona Mocha!
Mocha - Ru ru! De nada, Meninas... mas quero participar dessa reunião!
Pedrês - Quiquiriqui! A Senhora e seus conhecimentos serão úteis, Dona
Mocha! Conto com sua sapiência!
Mocha - Ru ru! Obrigada, Dom Pedrês! Estarei lá na hora marcada!
Pintada - Có có! Será hoje ao pôr do sol...
Carijó - Có có! No pedrão do Pau-Brasil...
Garnisé - Có có! No bosque da mata!
Mocha - Ru ru! Não faltarei! Até mais tarde, gente! Fui!
Pedrês - Quiquiriqui! O Soyuz é meio grogue, mas é sensato. Convoquem
toda a bicharada do sítio para essa reunião, Meninas!
Garnisé - Có có! Faremos isso agora mesmo... tchau, Dona Perereca!
Perereca - Croá croá! Tchau, Meninas!
Pedrês - Quiquiriqui! Bem, Dona Perereca... vou procurar Don Ratón
para avisá-lo da tal reunião! Até mais ver!
Perereca - Croá croá! Até, Dom Pedrês!
Narrador - Pintada, Carijó e Garnisé percorreram o sítio convocando
os bichos para a reunião, exigindo a presença de todos.
Assim que se despediu de Dona Perereca, Dom Pedrês foi até a toca de
Don Ratón e... aguardem o próximo capítulo!
- - -
@ Capítulo IV
Narrador - Dom Pedrês foi até a toca dos ratos...
Pedrês - Quiquiriqui! Ô de casa!
Narrador - Giselle, uma ratazana gorda, seu marido, Don Ratón e seus
filhos, Queijinho, Calunga e Mus Musculus, como fazem todos os ratos
durante o dia, dormiam em sua toca, no tronco de velha amendoeira.
Acordaram com o chamado do Pedrês...
Giselle - Quinch! Que querr Dom Pedrês a esta hour?
Ratón - Guinch! Será que el piensa que ya es noche?
Pedrês - Quiquiriqui! Acordem, dorminhocos!
Giselle - Quinch! Vá lá fora, chéri, ver o que ele quer!
Ratón - Guinch! Yo aynda estoy com sueno... vai usted, mujer, que
necesita hacer unos ejercícios!
Giselle - Quinch! Que querr dizerr com isso, chéri?
Ratón - Guinch! Nada, Querida... io voy!
Narrador - Espreguiçando-se, Don Ratón chegou à entrada da toca...
Ratón - Guinch! Holá, Dom Pedrês... que quieres?
Pedrês - Quiquiriqui! Olá, Don Ratón... é para avisá-los da reunião
que haverá hoje à tardinha ao pé do Pau-Brasil!
Ratón - Guinch! Reunión? Y nosotros com iso?
Pedrês - Quiquiriqui! Sua família é o motivo da reunião!
Ratón - Guinch! Como asi?
Pedrês - Quiquiriqui! É que Dona Elisete contratou um gato para
exterminá-los!
Ratón - Guinch! Que mujer má... nosotros somos tan bonzitos!
Pedrês - Quiquiriqui! Nós sabemos que não é bem assim, Don Ratón!
Ratón - Guinch! Que usted quieres decir con iso, Dom Pedrês?
Pedrês - Quiquiriqui! Vocês roem tudo que encontram...
Ratón - Guinch! Más tiemos que roer para que nuestros dentes no
cresçan demasiado!
Pedrês - Quiquiriqui! Mas precisam destruir tudo que encontram pela
frente?
Ratón - Guinch! No ejagere, Dom Pedrês, no ejagere!
Pedrês - Quiquiriqui! Bem, deixemos essa conversa para a reunião...
até mais tarde, Don Ratón!
Ratón - Guinch! Hasta luego, Dom Pedrês!
Narrador - Don Ratón retornou à toca e Dona Giselle o interpelou...
Giselle - Quinch! O que ele querria, chéri?
Ratón - Guinch! Avisarrnos de una reunión Hoy!
Giselle - Quinch! Que reunião?
Ratón - Guinch! En la hora usted saberá!
Narrador - Dona Giselle, curiosa, perdeu o sono. Saiu da toca e foi
procurar o coelho Veludo e o achou ali perto, roendo uma cenoura...
Giselle - Quinch! Olá, Veludo... tá sabendo de uma reunião que haverá
hoje?
Veludo - Roc roc! Claro! As galinhas me avisaram!
Giselle - Quinch! E pra que essa reunião?
Veludo - Roc roc! Isso eu não sei, mas elas disseram que era muito
importante!
Giselle - Quinch! O que estará acontecendo no sítio, Veludo?
Veludo - Roc roc! Isso eu não sei... vamos esperar a reunião, né?
Giselle - Quinch! Parece que será o jeito! Tchau, Veludo!
Veludo - Roc roc! Tchau, Dona Giselle!
Narrador - Insatisfeita, Dona Giselle retornou à sua toca. Antes do
sol se pôr, em todo o sítio, ouviu-se o canto do Pedrês...
Pedrês - Quiquiriqui Cocorocó! Quiquiriqui cocorocó! Quiquiriqui!
_ * _
Narrador - Dentro de casa,Elisete e Inalda, a empregada, aprontavam
o jantar...
Inalda - Tu visse, Dona Elisete... galo cantá essas hora num é bom
siná, visse?
Elisete - Deixe de bobagem, Inalda. Vai ver se ele está bem!
Inalda - Ieu é qui num vô lá, visse? Vai qui é lubisome?
Elisete - Pare com essa tolice, Inalda! Lobisomem não existe!
Inalda - Num injiste, num injiste... a Sinhora qui pensa, visse?
Narrador - Elisete olha pela porta da cozinha e não vê os animais...
Elisete - Acho que os bichos foram dormir mais cedo hoje!
Inalda - Qui fôro drumi, qui nada... inté Poligrota num tá no pulero,
visse?
Elisete - Poliglota, Inalda... o nome do louro é poliglota!
Inalda - E num foi isso qui ieu disse, visse?
Elisete - Está bem, Inalda! Vamos acabar o jantar que logo os meninos
estarão em casa!
Inalda - Será qui eles vão trazê as namorada,Visse?
Elisete - Se trouxerem será ótimo! Assim teremos mais gente pra
conversar!
Inalda - E mais prato pra ieu lavá, visse!
Elisete - Não se preocupe... eu e as meninas ajudaremos!
Inalda - Num carece! Num foi isso qui ieu quis dizê... falei pro
falá, visse?
Elisete - Eu sei, Inalda, mas não custa ajudarmos, né?
Inalda - A Sinhora qui sabe... dexa ieu butá os bife pra assá, visse?
Elisete - Está bem, Inalda... enquanto isso, vou arrumar a mesa!
Narrador - Enquanto Dona Elisete arruma a mesa e a Inalda prepara seus
suculentos bifes, voltemos ao quintal...
_ * _
Narrador - Se Dona Elisete e Inalda fossem até o pequeno bosque que há
ao fundo do sítio, resquício da Mata Atlântica, veriam uma cena bem
interessante: sobre uma grande pedra, ao lado de um Pau-Brasil, via-se
o Pedrês, o Poliglota, a coruja Mocha, o Soyuz e o Felpudo. Diante
destes, na platéia, sentados, em pé ou deitados, estavam os demais
bichos do sítio; o bode Barbicha, a vaca Estrela, o porco Barrão,
o cavalo Pangaré, a cigarra Cici, o coelho Pompom, o boi Bumbá, a égua
Potranca, o pinto Pipiu, a rã Perereca, o sapo Cururu, a pomba Girra,
a ovelha Negra, o grilo Ianque, o rouxinol Tenor , a abelha Mel, a
pata Choca, a aranha Aracne, o peru Natalino, as galinhas, Pintada,
Carijó e Garnisé, Don Ratón e família. Outros animais que vivem no
sítio foram convidados pra reunião, mas não apareceram... nem na
terceira e última chamada! Assim, não serão citados enquanto suas
presenças não forem requisitadas pelo autor dessa historinha. Voltemos
ao local da reunião... o quê? Acabou o capítulo?
Que saco... eu tava indo tão bem!
- - -
@ Capítulo V
Narrador (Falando baixinho) - Hoje levantei com o pé esquerdo. Estou
cansado de ser explorado por esse ceguinho baiano metido a escritor.
Todas as porcarias que ele criou até hoje, eu tenho sido o narrador.
E vocês pensam que ganho bem? Que nada! O cara é mão-de-vaca e ainda
faço hora extra e nunca vejo a cor desse cobre... além da micharia
sair sempre atrasada! Pego no batente às oito da manhã e não tenho
hora pra largar o trabalho. E tem mais... em todas as novelas desse
autorzinho medíocre, tenho que dar meu pitaco, porque ele vai dormir
e larga as histórias pelo caminho... e vocês pensam que ele agradece?
Que nada! Ainda diz que não fiz mais que minha obrigação.
Qualquer dia eu me reto e me pico daqui! Aí eu quero ver ele arranjar
alguém que saiba narrar as besteiras que escreve melhor do que eu...
e que também saiba escrever tão bem quanto o papai aqui! Rê rê rê!
Hã! Ele tá acordando... é melhor eu voltar à narração... com os bichos
todos atentos, Dom Pedrês deu por aberta a reunião...
Pedrês - Quiquiriqui! Respeitável público! Senhoras e Senhores...
Mocha - Ru ru! Menos, Dom Pedrês, menos! Você não está num circo!
Poliglota - Curupaco! E nem é a Xuxa! Curupaco paco paco!
Pedrês - Quiquiriqi! Desculpem! Me deixei empolgar!
Felpudo - Miau! Nem eu, Don Pedrês, que servi por tantos anos ao
Marquês de Carabás, me empolgo assim! Miauuuuuu! (Riso gatal)
Soyuz - Au au! Então você é o famoso Gato de Botas, Felpudo?
Felpudo - Miau! Com muita honra, Soyuz!
Mocha - Ru ru! Senhores, Senhores... estamos aqui para resolver o
destino da família de Don Ratón... vamos ao que interessa!
Ratón - Guinch! Nuestro destino?
Pedrês - Quiquiriqui! Sim, Don Ratón!
Mocha - Ru ru! Dona Elisete contratou o Senhor Felpudo para dar cabo
de vocês...
Giselle - Quinch! O que nous fizemos?
Soyuz - Au au! Por que ela fala assim, Poliglota?
Poliglota - Curupaco! É que ela é filha de um rato francês, Soyuz!
Soyuz - Au au! Ah! Tá explicado porque ela mistura o francês com o
português!
Narrador (Baixinho) - A verdade é que, o autor dessa historinha não
manja nada de francês! Rê rê rê!
Giselle - Quinch! Que fizerron mons petits, Monsieur Soyuz?
Soyuz - Au au! Seus filhos andaram assustando minha dona!
Giselle - Quinch! Mons petits son uns anjes!
Mel - Zum zum! Anjos, Dona Giselle? Eles roem tudo que encontram...
até minha colméia esses anjinhos roeram!
Negra - Mééé! Eles vivem arrancando minha lã para empinar pipa!
Barbicha - Béééé! E fazem o mesmo com os fios da minha barba!
Pangaré - Rinch! E arrancam também fios do meu rabo e crina... e fazem
o mesmo com a Potranca!
Bumbá - Môôôn! É isso aí, companheiro! Eu e a Estrela sofremos nas
mãos desses pestinhas!
Mocha - Ru ru! Senhores... se ficarmos aqui contando as peraltices das
crionças de Dona Giselle, não daremos cabo da nossa missão!
Don Ratón - Guinch! Crionças? Qué es crionças?
Ianque - Cri cri! Crionças, Don Ratón, são crianças traquinas!
Mocha - Ru ru! Acho que devemos voltar ao motivo dessa reunião!
Poliglota - Curupaco! Aprovado, Dona Mocha!
Soyuz - Au au! É isso mesmo... voltemos à pauta!
Choca - Quac quac! O que eu tenho a ver com isso, Soyuz?
Soyuz - Au au! Nada, Dona Choca... eu falei pauta e não, pata!
Felpudo - Miau! É melhor mesmo, Soyuz! Já está escurecendo!
Soyuz - Au au! Tá bem, Felpudo! Pessoal, o Felpudo foi contratado
com a missão de exterminar os ratos do sítio, a pedido da minha Dona!
Aracne - Fiip fiip! Sua Dona é má, hein, Soyuz?
Soyuz - Au au! Ela não é má, Dona Aracne... apenas se assustou com o
Calunga e o Queijinho!
Pipiu - Piu piu! Até eu me assusto com esses meninos!
Tenor - Pi pi pi! Não esqueçam que ela nos trata muito bem!
Cururu - Weub weub! Não tenho nada contra ela... mas não gostava
quando ela cantava pros filhotes dela que eu não lavava o pé!
Que grande mentira!
Natalino - Glu glu! Ora, ora, Senhor Cururu... isso é só uma cantiga
infantil! Glux glux glux! (Riso perual)
Aracne - Fiip fiip! Se não fosse assim o Bumbá se zangaria quando essa
gente canta aquela cantiga de ninar, "boi da cara preta"!
Bumbá - Môôôn! E quem disse que não me zango? Ficar cantando pras
criancinhas que vou pegá-las, é sadismo!
Estrela - Muuu! Ainda bem que não cantam nada com as vaquinhas!
Muu muu muu muu! (Riso vacal)
Potranca - Inrrinch! Nem com as éguas! Irrin irrin irrin! (Riso egual)
Mocha - Ru ru! Pessoal... tudo é muito engraçado, mas voltemos ao
tema da reunião!
Pedrês - Quiquiriqui! Isso aqui tá parecendo reunião de condomínio...
Choca - Quac quac! É mesmo! Tem muita conversa paralela e ninguém ouve
os oradores! Quarac quarac! (Riso patal)
Negra - Mééé! Todo mundo fala e não se resolve nada! Méc méc mec! (
Riso ovelhal)
Pedrês - Quiquiriqui! Mas aqui será resolvido!
Soyuz - Au au! O Pedrês tem razão!
Poliglota - Curupaco! Nossa Dona é gente boa... esse seu medo é
normal!
Pompom - Roc roc! Tem gente que tem medo até de barata, né?
Garnisé - Có có! Umas bichinhas tão gostosinhas!
Pipiu - Piu piu! Gosto mais das minhoquinhas!
Soyuz - Au au! Gente, vamos mudar o rumo dessa prosa, afinal, o
Felpudo precisa saber o que irá fazer!
Felpudo - Miau! Disse bem, Soyuz! Além do mais, quero honrar minha
palavra! É uma questão de ética profissional!
Mocha - Ru ru! Nós entendemos sua posição, Senhor Felpudo, mas da
forma que pretende fazer seu trabalho, não concordamos!
Carijó - Có có! Apoiada!
Garnisé - Có có! Concordo!
Pintada - Có có! Muito bem, Dona Mocha!
Perereca - Croac croac! Que tal se cada um dos presentes desse uma
sugestão?
Barrão - Oinc oinc! Isso é que é democracia!
Cici - Si si si si! Então vamos votar o que será feito com nossos
amiguinhos!
Girra - Arrow arrow! Oba! Adoro votação!
Mocha - Ru ru! Tenho uma sugestão a fazer...
Poliglota - Curupaco! Fale logo, Dona Mocha!
Soyuz - Au au! É, Dona Mocha... sugira, sugira!
Mocha - Ru ru! Proponho que Don Ratón e sua família sejam proibidos
de entrar em qualquer dependência da casa grande!
Ratón - Guinch! Que injusticia!
Giselle - Quinch! E nosso dirreito constitucional de ir e vir?
Mocha - Ru ru! E o direito de Dona Elisete de não ter ratos roendo
suas coisas e a assustando?
Soyuz - Au au! Falou pouco, mas falou bem, Dona Mocha!
Mocha - Ru ru! Obrigada, Soyuz!
Queijinho - Iiicq! E as coisas gostosinhas que tem na casa grande?
Calunga - Iiicq! Vamos ter que esquecer?
Pedrês - Quiquiriqui! Vão ter que esquecer, sim!
Poliglota - Curupaco! Vocês têm o resto do sítio para andarem à
vontade e roerem o que quiserem!
Perereca - Croac croac! E podem procurar comida no estábulo...
Carijó - Có có! E no celeiro...
Barbicha - Bééé! E em todo o bosque!
Mel - Zum zum! Desde que não queiram comer minha colméia novamente!
Mocha - Ru ru! Bem, gente... vamos à votação! Quem estiver de acordo,
levante a pata, a asa ou diga se concorda ou não!
Pedrês - Quiquiriqui! E eu conto os votos...
Narrador - Embora também tenha ficado curioso para saber o resultado
dessa votação, teremos que esperar o próximo capítulo... droga!
- - -
@ Capítulo VI
Narrador - Oba! Hoje saberemos o resultado da tal reunião...
Elisete - Já era tempo, né, Seu Narrador?
Narrador - Olha, Dona Elisete, esses escritores baianos são assim...
só querem saber de rede, água de coco e acarajé!
Elisete - Não é bem assim, Seu Narrador! Semana passada falei com o
autor dessa novelinha e ele me explicou tudo!
Narrador - E a Senhora acreditou? Tudo conversa... o problema do cara
é preguiça mesmo, Dona Elisete! Baiano é baiano, né?
Elisete - Mas eu compreendi as razões dele e...
Autor - Com licença, Elisete! Seu narradorzinho de pelada, por acaso
tem conhecimento do índice de desemprego nesse país?
Narrador - Pa-patrãozinho... o Senhor não estava dormindo?
Autor - Não, Seu energúmeno... além de outros afazeres, tive problemas
com meu micro e ainda estou arrumando as coisas por aqui, entendeu?
Narrador - Des-desculpe, Patrãozinho... eu estava só brincando!
Autor - Brincando em serviço? Quer levar uma "Justa Causa", paspalho?
Elisete - Seja um pouquinho mais tolerante, Luís... ele não falou
por mal!
Luís - Ser mais tolerante, Elisete? Eu sustento esse abestado desde
minha primeira novelinha! Ele tem narrado todas as demais e está
sempre aprontando ou me intrigando com meus leitores e ouvintes!
Narrador - Que eu saiba, Patrãozinho, o Senhor tem apenas um leitor...
que também é seu único ouvinte!
Elisete - Não concordo, Senhor Narrador... só aqui em casa ele tem,
pelo menos, quatro ouvintes!
Luís - Viu, Elisete, como esse indivíduo é abusado? Qualquer hora
me aborreço e o mando plantar batatas no asfalto quente!
Narrador - Não faça isso, Patrãozinho... tenho sete inchadinhos pra
dar de comer!
Luís - Sete? Em uma das minhas novelinhas o Senhor disse que tinha
apenas quatro remelentos!
Narrador - Sabe como é, né Patrãozinho? Como não havia o que narrar,
procurei o que fazer - Rê rê rê!
Luís - Sei, sei... foi fazer mais alguns barrigudinhos, né?
Elisete - Desculpem se interrompo esse diálogo tão interessante, mas
gostaria de saber em que resultou a tal reunião!
Luís - Viu, papudo? Acho melhor você voltar a narrar a novelinha e
deixar de conversa fiada!
Narrador - Como o meu salário que não vejo a cor, né Patrãozinho?
Luís - Depois falamos sobre isso... roupa suja se lava em casa,
seu mentecapto!
Narrador - (Rê rê rê... peguei ele!). Certo, Patrãozinho! O ouvinte
tem sempre razão! Então, voltemos ao quintal do sítio...
_ * _
Mocha - Ru ru! Por favor, Soyuz... ajude Dom Pedrês a contar os votos!
Soyuz - Au au! Certo! Eu conto os "não" e o Pedrês conta os "sim"!
Mocha - Ru ru! Como eu, Poliglota, Pedrês, Soyuz e Felpudo fazemos
parte da mesa, digo, da pedra, não votaremos!
Pedrês - Quiquiriqui! Combinado! Então vamos lá! Sim, sim, sim, sim,
sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim,
sim!
Soyuz - Au au! Não, não, não, não, não!
Mocha - Ru ru! Don Ratón... o Senhor, Dona Giselle e seus três filhos
não podem votar!
Ratón - Guinch! Y por que non?
Poliglota - Curupaco! Porque vocês são partes interessadas no pleito!
Felpudo - Miau! Além do mais, seus filhos são "menores"!
Soyuz - Au au! Dona Mocha poderia anunciar o resultado da votação?
Mocha - Ru ru! Claro, Soyuz! Senhores e Senhoras, como os votos da
família de Dom Ratón não serão contados, declaro que, por unanimidade,
os membros dessa família estão terminantemente proibidos de adentrar
qualquer dependência da casa grande!
Ratón - Guinch! Que injusticia!
Felpudo - Miau! Em vista do resultado, nada mais me resta fazer por
aqui! Creio que, se Dona Elisete nunca mais pôr os olhos nesses ratos,
minha reputação está a salvo!
Soyuz - Au au! É isso aí, Felpudo... mas sempre que quiser, apareça!
Felpudo - Miau! Obrigado, Soyuz! Vocês são grandes amigos!
Poliglota - Curupaco! Não se vá ainda, Felpudo! Gostaria de aproveitar
a presença de todos para sugerir uma coisinha!
Pedrês - Quiquiriqui! Que coisinha, Poliglota?
Poliglota - Curupaco! Eu ouvi que Dona Elisete vai hoje ver o Papa
Bento XVI que está visitando o Brasil, então...
Mocha - Ru ru! Deixe de suspense e desembucha, Poliglota! Então o quê?
Poliglota - Curupaco! Bem... só nós estaremos no sítio... então... que
tal fazermos um baile à fantasia?
Todos os bichos presentes - FIUIIIII! UUUUUUUU! PLAC PLAC PLAC PLAC!
FIUIIII! VIVA! VIVA! UUUUUUU! FIUIIII! PLAC PLAC PLAC! VIVA! FIUIIII!
Pedrês - Quiquiriqui! Legal! Será uma noite bem divertida!
Soyuz - Au au! E quem animará nossa festinha?
Mocha - Ru ru! Vou procurar uns amigos... deixem isso comigo!
Todos os bichos presentes - FIUIIIII! UUUUUUUU! PLAC PLAC PLAC PLAC!
FIUIIII! VIVA! VIVA! UUUUUUU! FIUIIII! PLAC PLAC PLAC! VIVA! FIUIIII!
_ * _
Narrador - Enquanto isso, na cozinha da casa grande...
Elisete - Que barulho é esse? Que estará acontecendo nesse quintal?
Inalda - Aiiiii, meu Jesuszinho Cristinho... deve di sê o diluvo,
Dona Elisete, visse?
Elisete - Que dilúvio, que nada, Inalda... nem está chovendo!
Inalda - Intonce é um diluvo seco, visse?
Elisete - Assim que um dos meninos chegar, eu peço para ver o que
está ocorrendo!
Inalda - Quano ieu digo qui nesse sítio tem insombração, a Sinhora num
querdita, visse?
Elisete - Deixe de bobagem, Inalda! Pronto! Acabou a barulheira!
Inalda - Incabô pra Sinhora... inda tá ni minha cabeça, visse?
Elisete - Voltemos aos nossos afazeres! Já está quase na hora de
sairmos para ver a chegada do Papa!
_ * _
Narrador - Voltando ao quintal...
Soyuz - Au au! Certo, Dona Mocha. Eu, Poliglota e o Pedrês ficamos
responsáveis pela decoração!
Felpudo - Miau! Que idéia supimpa, Poliglota! Essa eu não vou perder!
Poliglota - Curupaco! Nesse caso, Felpudo, poderá nos ajudar a decorar
o quintal!
Felpudo - Miau! Claro, claro... com prazer!
Mocha - Ru ru! Já que está tudo combinado, vão todos para suas
casas, vistam as fantasias e voltem às vinte e uma horas!
Ratón - Guinch! Y nosotros?
Mocha- Ru ru! Que está esperando, Dom Ratón? Vocês também poderão
participar do baile! Vão logo vestir suas fantasias!
Ratón - Guinch! Iuipiii! Vamos, gente!
Pedrês - Quiquiriqui! Soyuz, chamarei as meninas para nos ajudar!
Poliglota - Curupaco! Boa idéia, Pedrês!
Mocha - Ru ru! Bem, rapazes... vou atrás da orquestra! Até logo!
Narrador - Dona Mocha saiu voando. Os animais que não estavam na
comissão organizadora correram para suas casas ou tocas, como queiram,
enquanto Soyuz, Pedrês, Poliglota e Felpudo ultimavam os preparativos
para realizar o primeiro baile carnavalesco do sítio. Sabem como é,
né? Quando o gato não está, o rato passeia! Assim...
_ * _
Narrador - Acompanhemos Dona Mocha que sobrevoava o bosque existente
nos arredores do sítio...
Mocha - Ru ru! Devo encontrá-los por aqui! Acho melhor pousar e
procurá-los!
Narrador - Dona Mocha, com grande atenção, caminhava entre as árvores,
chamando, vez por outra, pelos amigos...
Mocha - Ru ru! Mac Spo... Nat Oni... Oulis... preciso falar com vocês!
Narrador - Após caminhar cerca de quinze minutos, Dona Mocha ouviu
cantos e sons de flautas e harpas, embora bem baixinhos, que vinham
de uma moita próxima. Rodeou os arbustos, caminhou um pouco e, entre
alguns carvalhos, sentados sobre algumas pedras, encontrou o que
procurava. Alguns seres de pequena estatura, variando entre três e
trinta centímetros, peles cinza, grandes narizes redondos, orelhas
pontudas, olhos aguçados e longos - alguns violetas, azuis, vermelhos
e até mesmo brancos - e cabelos compridos, nessas mesmas cores. Os
homens vestiam batas azuis, calças verdes ou marrons. Alguns usavam
sapatos de casca de bétula, botas de feltro ou tamancos de madeira,
além de chapéus pontiagudos, feitos de feltro e sólidos desde a base,
na cor vermelha. As mulheres, por questão de camuflagem, vestiam
vestidos cáqui. As cores dos seus chapéus dependia do seu estado
civil. As casadas usavam verde escuro e as solteiras verde claro.
Alguns tocavam, outros cantavam e a maioria dançava. Nos galhos mais
baixos das árvores próximas, viam-se gnomos deitados, comendo amoras
silvestres, morangos e pêssegos...
Mocha - Ru ru! Eu vos saúdo, gnomos e gnomíadas! Preciso falar com o
Mac Spo!
Narrador - A música parou de repente e um dos gnomos levantou-se e,
na língua da coruja, respondeu-lhe...
Dlinb - Ru ru! Olá, Dona Mocha... quanto tempo, hein?
Mocha - Ru ru! Olá, Dlinb! Não o tinha visto!
Dlinb - Ru ru! E o que deseja do nosso Rei?
Mocha - Ru ru! Preciso falar com o Mac Spo, o Nat Oni ou o Oulis!
Dlinb - Ru ru! Os Ministros Nat Oni e Oulis estão em missão, mas
mandarei chamar nosso Rei! Sente-se e aguarde um pouco!
Mocha - Ru ru! Obrigada, Dlinb e desculpem ter interrompido a festa!
Dlinb - Ru ru! Tudo bem... logo a gente começa outra!
(Falando em rúnico, língua dos gnomos) - Rejok, vá chamar nosso Rei!
Diga-lhe que Dona Mocha quer falar com ele!
Narrador - Um gnomo gordinho desceu duma pedra e sumiu atrás desta.
Alguns segundos depois retornava acompanhado por muitos outros...
Mac Spo - Ru ru! Bons ventos a tragam, amiga Mocha! Folgo em vê-la!
Mocha - Ru ru! Digo o mesmo, amigo Mac! Você não envelhece, né?
Mac Spo - Ru ru! Como não, amiga... já passei dos trezentos e setenta
e oito anos!
Mocha - Ru ru! Não parece ter mais que cento e vinte anos!
Mac Spo - Ru ru! Gentileza sua! Em que podemos ajudá-la?
Mocha - Ru ru! Vai haver um baile carnavalesco lá no sítio e gostaria
que vocês tocassem pra nós!
Mac Spo - Ru ru! Será um prazer tocar para vocês! Quando será o baile?
Mocha - Ru ru! Hoje, às vinte e uma horas!
Mac Spo - Ru ru! Diga à bicharada que estaremos lá!
Mocha - Ru ru! Não sei como agradecer, amigo Mac!
Mac Spo - Ru ru! Não precisa agradecer, Mocha. Amigo é pra isso mesmo!
Mocha - Ru ru! Bem, vou indo! Seu povo está convidado para a festa!
Mac Spo - Ru ru! Agradeço em nome da comunidade! Estaremos todos lá!
Até mais tarde!
Mocha - Ru ru! Até mais, gente! Obrigada, Dlinb e Rejok... valeu!
Dlinb e Rejok - Ru ru! De nada, Dona Mocha!
Narrador - Dona Mocha saiu do local e, assim que foi possível, alçou
voo rumo ao sítio...
_ * _
Narrador - O quintal estava todo enfeitado. Via-se bolas coloridas
penduradas nas árvores, serpentinas entrelaçadas nos galhos e muito
confete pelo chão. O local estava muito bonito...
Soyuz - Au au! Finalmente acabamos!
Pedrês - Quiquiriqui! Foi um trabalhão, mas ficou uma belezura!
Poliglota - Curupaco! Nossa decoração está digna dos melhores bailes
carnavalescos de antigamente!
Felpudo - Miau! E sem a ajuda das meninas não faríamos nada!
Carijó, Garnisé e Pintada - Có có! Obrigada, Felpudo!
Narrador - Nesse momento, Dona Mocha pousa perto deles e lhes diz:
(Ainda bem que Dona Elisete foi ver o Papa, senão ficaria doidinha pra
saber o que a coruja falou - rê rê rê! Se não houvesse acabado esse
capítulo, né?)
- - -
Continua...
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