quarta-feira, 29 de abril de 2020

As Aventuras de Danyl - Partes 15 a 18

@ Parte XV


O leão deu outro rugido, ainda mais forte do que o anterior...

- Manso? Eu vou é me esconder, isso sim! - exclamou Danyl.

- Eu é que não fico aqui! - disse o espantalho.

- Pois eu ficarei aqui! Totó me protegerá! - falou Dorothy!

- Eu também fico, Dorothy! - disse o homem de lata.

- Nós tomaremos conta de Totó! - exclamou a menina decidida.

Danyl, mais rápido do que um foguete, empoleirou-se no galho de uma
árvore próxima, mas o espantalho não teve tempo de esconder-se e levou
uma patada do imenso leão e foi parar do outro lado da cerca que
beirava a estrada...

* TUMP! VUUUUM! BONC!

Depois o leão atacou o homem de lata, tentando enfiar suas garras no
corpo deste, mas sequer o arranhou, conseguindo apenas derrubá-lo e
este ficou deitado no chão, imóvel...

*REINH! REINH! TUMP!

Totó afinal pode demonstrar sua valentia e, latindo, sem temer o
perigo, atacou a fera...

- Au au au au! Au au au au!

- Grounnnn!

O leão abriu a bocarra para morder o cachorro, mas levou um sonoro tapa
no focinho, desferido por Dorothy...

* PLAFT!

- Atrevido! Um leãozão do seu tamanho querendo morder um cachorrinho
pequenininho!

- Não cheguei a mordê-lo - respondeu o leão, esfregando o nariz com a
pata...

- Não mordeu, mas quis morder! Você não passa dum leão covarde!

- Sei disso - disse o leão, baixando a cabeça, envergonhado. - Sempre
soube disso. Mas, que vou fazer?

- Ora! Que vergonha! Bater num homem de palha como o espantalho!

- De palha? - perguntou surpreso o leão ao ver Dorothy colocar de pé o
espantalho, dando-lhe pancadinhas para restituir-lhe a antiga forma...

* PANK! PANK! PANK!

- Aiiiiii! Uiiiii!

Calma, Scarecrow! Logo você estará perfeito! - e voltando-se para o
leão, com ar de zangada - Claro que ele é de palha!

- Ah, então foi por isso que saiu voando por cima da cerca! O outro
também é de palha?

- Não! - disse Dorothy, ajudando Tin Man a erguer-se. - É de lata!

- Ah, então foi por isso que quase fiquei sem minhas unhas! Deu-me
até arrepios! E que bichinho é esse? E aquele outro naquela árvore,
que bicho é?

- Esse é Totó, meu cachorrinho e aquele lá é Danyl, um gato!

- E eles são de lata ou de palha?

- Que leão ignorante! Eles são de carne e osso... que nem você!

- Hummm! Que bichos estranhos!

- Não vejo nada de estranho neles... e nem em você!

- Mas, visto de perto, esse Totó é tão pequeno! Só um covarde como eu
atacaria um animalzinho tão pequeno!

Ao ouvir o que dizia o leão, Danyl desceu da árvore e juntou-se aos
demais...

- Por que você é tão covarde? - perguntou Dorothy.

- É um mistério! - respondeu o leão. - Devo ter nascido assim!

- Todos os outros animais esperam que você seja corajoso, afinal, o
leão é considerado o rei dos animais! - replicou Danyl.

- Me disseram que bastava eu rugir com força para que todos saíssem de
minha frente!

- E quando você encontra um homem, o que faz? - perguntou Scarecrow.

- Levo um susto danado, mas dou o meu rugido e ele foge em disparada!

- Hahahahahahaahahahahaha! - riram todos.

- e se um elefante, um tigre ou um urso tentassem enfrentá-lo?

- Eu fugiria logo de tão covarde que sou, mas, quando um desses bichos
ouvem o meu rugido, fogem antes e eu não preciso nem lutar!

- Mas é um erro! - aparteou o espantalho. - O Rei dos Animais não pode
ser um covarde!

- Sei disso! - retrucou o leão, enxugando uma lágrima com a ponta da
cauda. - É por isso que sou um infeliz. Sempre que enfrento um perigo,
meu coração dispara!

- Talvez você sofra de alguma doença cardíaca! - observou Tin Man.

- É mesmo! Quem sabe? respondeu o leão.

- Que felicidade! - exclamou o homem de lata.

- Felicidade ter uma doença do coração? indagou o leão.

- Não é isso! Isso prova que você tem um coração. Eu, pobre de mim,
não tenho coração, portanto, não posso ter moléstia cardíaca!

- Você tem cérebro? - perguntou o espantalho.

- Acho que tenho! - respondeu o leão.

- Pois eu não e por esse motivo vou à procura do Grande Oz, pedir-lhe
que me dê um cérebro. Minha cabeça é cheia de palha!

- E eu vou pedir-lhe um coração! Meu peito de lata está vazio!

- E eu, que me mande de volta para casa! falou Dorothy.

- E eu preciso continuar minha peregrinação em busca de aventuras!

- E você não tem medo de meter-se em enrascadas, gato? - perguntou o
leão.

- Que medo que nada! Tenho o espírito aventureiro!

- E há quanto tempo você vive essas aventuras, Danyl?

- Bem, Dorothy... há quatorze capítulos! Hahahahahaha!

- Hahahahahahahaha! - riram todos.

- Au au au au au!

- Até o Totó achou graça! - riu Dorothy.

- Vocês acham que esse tal de Oz poderia me dar um pouco de coragem?

- Por que não, se ele puder me dar um cérebro e um coração pro Tin Man,
poderá também lhe dar coragem e fazer com que Dorothy, Totó e Danyl
voltem para onde vieram!

- Muito bem, seu espantalho! Se me permitem, irei com vocês. Minha vida
é horrível sem um pouco de coragem!

- Acho que é uma boa idéia - disse Dorothy. - Assim, os outros animais
ferozes não atacarão a gente. São mais covardes ainda!

- É verdade! - disse o leão. - Mas nem isso me dá coragem!

- E como é seu nome, seu leão?

- Eu me chamo Lyon, menina...

- Dorothy! E estes são Danyl, Scarecrown e Tin Man... e essa coisinha
fofa é o Totó!

- Muito prazer, gente!

- Au au au!

- Prazer, Lyon! - responderam todos a uma só voz.

Mais uma vez o grupo se pôs a caminho. De início Totó não aprovou o
novo companheiro, mas passado algum tempo, acostumou-se e logo eram
bons amigos. Após caminharem um pouco, o homem de lata, sem querer,
esmagou uma joaninha e ficou muito triste, derramando algumas lágrimas
que enferrujaram as dobradiças do seu queixo, impedindo-o de falar.
Aflito, através de gestos, chamou a atenção dos companheiros para sua
situação...

- Calma, Tin... vou resolver isso agora mesmo! - disse Danyl.

Todos pararam e sentaram-se na beira do caminho. Danyl adentrou o
canteiro que margeava a estrada dos tijolos amarelos e recolheu de
uns girassóis, algumas sementes. Retornou para junto do grupo, pegou
duas pedras de tamanhos diferentes e começou a moer as sementes,
colocando antes, sob a pedra maior, uma enorme folha para recolher o
óleo que saía das sementes pisadas. Pegou esse óleo de girassol e
jogou sobre as dobradiças emperradas do queixo do homem de lata,
dizendo...

- Agora, Tin, abra e feche a boca algumas vezes!

Obedecendo a ordem do gato, logo o homem de lata tinha restituído o
movimento da boca...

- Que isso me sirva de lição para olhar onde piso! - foram as primeiras
palavras de Tin.

- É só ter um pouco de atenção, Tin! - disse Dorothy.

- Se matar outro inseto, choro de novo e meu queixo se enferruja outra
vez!

- Não se preocupe, Tin... há bastante girassóis nesta estrada! - disse
Danyl, sorrindo.

A partir daquele momento, o homem de lata passou a andar com mais
cuidado, olhos atentos ao caminho, pulando até as formigas para não ser
cruel ou indelicado...

- Vocês, que têm coração, nunca erram. Eu, porém, preciso tomar o
máximo cuidado até que o Mágico de Oz resolva o meu caso!

- E quem lhe disse que quem tem coração não erra, Tin? - falou Dorothy.

- Pois é, Tin... há muita gente por aí que parece não ter coração!

- Você diz isso pra me agradar, Danyl!

- E também há muita gente que parece não ter cérebro, Scarecrow!

- Quem, por exemplo, Danyl?

- Ora, Scarecrow... políticos, bandidos, viciados... é tanta gente!

A conversa ia animada, mas, de repente, Lyon deu um rugido de medo...

- Grrrrr! Uaiiiii! Um monstro!

Temendo o pior, todos pararam...

- Que monstro você viu, Lyon?

- Ali, Dorothy... atrás daquela árvore!

- Irei até lá! Vamos Totó!

- Au au au au!

- Não vá lá, Dorothy... pode ser perigoso!

- Não parece haver qualquer monstro por aqui, Lyon!

- Ele deve estar escondido para lhe pegar de surpresa, Dorothy!

- Que nada, Lyon!

- Dorothy... olhe para cima! - gritou Danyl.

- Hahahahaha! É esse o monstro, Lyon? Isso é apenas um gambá!

- M-mas ele parecia tão feroz!

- Desculpe-me Lyon, mas você é realmente um leão muito do covarde!

- Sou covarde mesmo, mas bem que gostaria de não ser!

- Se você agisse como o Rei dos Animais que é, não teria medo de
nada... nem de um pequeno gambá! - disse Danyl.

- Nem de nada, nem de ninguém! - falou Scarecrow.

- Nem mesmo de um rinoceronte! - completou Tin Man.

- Impossível! Sou um covarde!

- E de um hipopótamo? - perguntou Dorothy.

- Eu sairia correndo!

- Pois eu botaria cangalha nele e saía galopando! - disse Danyl.

- E se fosse um elefante, Danyl? - indagou Dorothy.

- Eu o embrulharia em papel celofane e o daria a você de presente!

- Obrigada, Danyl, mas estou satisfeita com o Totó! Hahahahahaha!

- Au au au au!

- Totó concordou contigo, Dorothy! Hahahahaha! - disse Danyl.

- E se fosse um brontossauro, Danyl?

- Eu faria ele comer toda sua palha, Scarecrow! Hahahahahaha!

- Que maldade, Danyl! - disse Dorothy.

- E o Rei da Floresta não faria nada? - indagou Tin Man.

- Eu? Fazer o quê? Correr?

- Nada disso, seu leão... você tem que mostrar que não é medroso!

- Muito bem, Danyl!

- Obrigado, Dorothy!

- O que faz de um homem, herói? - perguntou Dorothy.

- Coragem! - responderam todos... menos o leão e Totó.

- O que faz de um cavaleiro, Senhor? - perguntou o homem de lata.

- Coragem! - responderam todos.

- O que liberta um povo da opressão? - pergunto o espantalho.

- Coragem! - responderam os demais.

- O que mostra o pavilhão no mastro às vagas? - perguntou Danyl.

- Coragem! - responderam todos os demais.

- O que faz o homem enfrentar o crepúsculo sombrio? - perguntou Dorothy.

- Coragem! - responderam todos.

- O que eles têm que eu não tenho? - perguntou Lyon.

- Coragem! - exclamaram todos os outros.

- - -

@ Parte XVI


E eles continuaram a caminhada em direção à Cidade das Esmeraldas...

- Dorothy, calce o outro sapatinho de rubi! Cansei de andar mancando,
afinal, não somos sacis! Hahahahahaha!

- Hahahahahahahaha! - riram todos.

- Eu também cansei, Danyl! Obrigada!

Naquela noite, não encontrando nenhuma habitação por perto, acamparam
debaixo duma enorme e frondosa árvore. Dorothy acendeu uma fogueira a
fim de aquecer-se e sentir-se menos deprimida por estar com saudade de
sua casa e de seus tios e logo adormecera, tendo Totó ao seu lado.
Como a noite esfriara um pouco, Danyl pegou algumas folhas secas e
cobriu a menina. O cobertor improvisado manteve Dorothy aquecida até
que o dia amanhecesse. Depois de cobrir a menina, comeu umas frutas,
conversou um pouco com Lyon, Scarecrow e Tin Man e logo todos dormiam
também. Na manhã seguinte, Dorothy e Danyl lavaram o rosto num pequeno
regato e todos retornaram à estrada de tijolos amarelos...

- O que comeremos hoje? - perguntou Danyl.

- Se vocês quiserem, eu mato um veado para assarmos!

- Oh, por favor, não faça isso! - suplicou o Homem de Lata. - Não
quero chorar de novo!

- Nada disso, Lyon... comeremos frutas! Tome aqui uma castanha!

- Obrigado, Dorothy, mas eu sou um animal carnívoro!

- Era, Lyon, era! Enquanto estiver comigo será vegetariano!

- Argh! - exclamou Lyon com desalento.

Dorothy, Danyl e Totó comeram algumas frutas, mas Lyon embrenhou-se
na floresta que era cortada pela estrada de tijolos amarelos. Retornou
meia hora depois e alcançou os demais que já iam longe. O que ele
comeu ninguém ficou sabendo, pois não tocou no assunto. Danyl, pelo
caminho, colhia castanhas, morangos, cajus, pitangas, nozes, tâmaras,
maçãs, ameixas, jabuticabas, uvas, pêssegos, amoras, peras, carambolas,
damascos e outras frutas silvestres que encontrava, colocando todas num
cesto que fizera trançando alguns cipós e que, hora ele carregava nas
costas, hora era o homem de lata, o espantalho ou o leão.
E os seis companheiros viajaram muitos dias pela estrada de tijolos
amarelos, cantando, brincando, contando histórias, acampando sob
árvores, em casas desabitadas ou de pessoas hospitaleiras . Dorothy,
Danyl, Totó e Lyon bebiam água nos rios, regatos, lagoas e riachos que
encontravam e, à exceção do leão, alimentavam-se de frutas e plantas
comestíveis. Lyon, nas horas da fome, desaparecia entre as árvores,
voltando a juntar-se ao grupo após alguns minutos. Nunca dissera uma
palavra sobre o que fazia nessas suas escapadelas.
Um dia encontraram uma casinha à beira da estrada e, como já escurecia,
resolveram pedir pouso. Ali morava um casal simpático que, apesar de
receosos pela presença de um leão entre eles, resolveu acolhê-los. A
senhora preparou-lhes uma gostosíssima sopa de verduras, pedaços de
toucinho e grãos-de-bico. Dorothy, Danyl, Totó e Lyon comeram a
fartar-se, afinal, há muito que não comiam uma comidinha caseira.
Após a sopa, a dona da casa serviu-lhes um cafezinho com torradas e
queijo. Assim que acabaram de jantar, foram convidados pelo dono da
casa a prosearem um pouco, antes de dormirem. Todos foram para a
sala de visita e acomodaram-se como foi possível, pois a sala era
pequena...

- Então vocês estão indo à Cidade das Esmeraldas? perguntou o senhor.

- Isso mesmo! - respondeu Dorothy.

- E o que pretendem fazer por lá? - indagou a senhora.

- Iremos falar com o Mágico de Oz! - disse Danyl.

- E o que pretendem dele?

- Eu, Totó, meu cachorrinho e o Danyl queremos voltar para casa; o
espantalho Scarecrow deseja ganhar um cérebro; o homem de lata, Tin
Man, que é lenhador, deseja ganhar um coração e o Lyon, esse leãozão
aí, quer deixar de ser medroso e deseja ganhar um pouco de coragem!

- Os pedidos até que são razoáveis, mas será que o Mágico de Oz lhes
concederá esses desejos? - perguntou o dono da casa.

- Cremos que sim, pois a Bruxa Boa do Norte disse que só ele poderia
nos ajudar!

- Foi ela quem lhe deu esses sapatinhos de rubi?

- Sim, senhora! Além destes sapatinhos mágicos, ela, antes de ir, me
deu um beijo na testa dizendo que seria meu salvo-conduto nas Terras de
Oz! Veja aqui!

- A marca do beijo é quase imperceptível, Dorothy!

- Eu sei, senhor, mas ela disse que quem precisaria ver, que a veria!

- É bom viajar com as graças da Bruxa Boa do Norte, pois os obstáculos
a transpor podem ser bastante difíceis!

- Sabemos disso, senhora, mas estamos dispostos a lutar por nossos
objetivos, mesmo que nossa caminhada seja árdua!

- Gostei da perseverança! É uma atitude muito importante para quem
deseja alcançar suas metas!

- Senhor Scarecrow, fiquei curioso em conhecer sua história!

- Minha história é curta: fui criado por um fazendeiro para proteger
seu milharal de corvos e alguns outros pássaros. Por uns dois meses,
cumpri bem meu papel, mas um corvo mais velho e esperto descobriu que
eu pouco faria se ele resolvesse comer as espigas e debochou de mim,
comendo alguns grãos pousado em meu ombro. Os outros corvos e pássaros,
ao verem a atitude dele, tomaram conta do milharal e comeram quase todas
as espigas. O fazendeiro que me criara, ao ver aquele desaforo, me pegou
pelo cangote e me pendurou numa árvore. Alguns dias depois, Dorothy e
Danyl me encontraram e salvaram minha vida... meu pescoço estava quase
sem palha!

- Interessante! E para que você quer um cérebro?

- Eu sou um fracasso porque não tenho um cérebro. Se eu tivesse um,
saberia raciocinar, poderia pensar, tomar decisões, discernir entre
o bem e o mal, sonhar e imaginar coisas maravilhosas e até poderia
aprender a ler!

- Tem lógica e sensatez! E qual é sua história, senhor Tin Man?

- Eu era lenhador, senhor, nas terras da Bruxa Má do Oeste!

- Mas quem o fez assim de lata?

- Eu não era de lata, senhor, mas sim um homem normal! Como eu não
quis fazer as vontades dessa bruxa má, ela enfeitiçou meu machado!

- E o que ela queria que você fizesse?

- Que eu derrubasse, indiscriminadamente, as árvores de uma floresta
que cercava sua casa, para criar gado e plantar arroz!

- Mas ela era agricultora e pecuarista?

- Ela era só má, Senhor... ela tinha os Pimpolhos sob seu domínio e
os fazia trabalhar dia e noite para ela!

- E daí?

- Como meu machado estava enfeitiçado, cada vez que eu dava uma
machadada numa árvore seca ou podre que ameaçava as demais, o machado
saía do cabo e cortava um dos meus membros. Depois todo meu corpo e
até minha cabeça foi cortada pelo machado enfeitiçado!

- E como o senhor acabou assim todo de lata?

- Um grande amigo era ferreiro e, cada vez que eu tinha um membro
cortado pelo machado, ele fazia um de lata... até que fiquei assim!

- Mas você não tem coração?

- Não... nem cérebro!

- Você deseja um coração... e o cérebro?

- Para mim, Senhor, um coração é mais importante do que um cérebro!

- Ué! Por quê? - admirou-se a dona da casa.

- Senhora, após experimentar os dois, prefiro mil vezes o coração!

- Essa eu não entendi!

- Por ser muito sensível e romântico, preciso urgentemente um coração!
A inteligência nunca fez ninguém feliz, e não há nada melhor no mundo
do que a felicidade!

- Faz muito bem, Senhor Tin! - disse a senhora.

- E você, Senhor Lyon... por que é tão covarde?

- Eu já nasci assim, Senhor!

- Mas você tem medo de tudo? De qualquer outro animal?

- Só se ele for maior do que eu ou "estranho"!

- Animal estranho? Você, por acaso, está falando do canguru ou do
onintorrinco?

- Que bichos são esses, Senhor?

- São mais feios do que um gambá, Lyon! - disse Danyl, sorrindo.

- Ai meu Jesuszinho! Esse tal de gambá é muito feio!

- Não é não, Lyon... você é que é medroso! - falou Dorothy a sorrir.

- E vocês, Scarecrow e Tin Man... têm medo do que?

- Eu, sendo de palha, só tenho medo de fogo!

- E eu, como sou de lata e cheio de dobradiças, tenho medo da chuva...
posso enferrujar!

- Pessoal, a prosa está boa, mas amanhã teremos que acordar cedo!

- É verdade, mulher... acho melhor irmos dormir, gente!

- Vocês se acomodarão no quartinho da despensa... acho que dá pra todo
mundo!

- Eu dormirei no celeiro! - disse Lyon.

- Eu e Tin Man, que não precisamos dormir, ficaremos na varanda olhando
as estrelas e conversando!

- Mas vejam se falam baixinho para não incomodar os donos da casa, viu,
Scarecrow?

- Tudo bem, Dorothy, não se preocupe!

- Boas noites, gente!

- Boa-noite, Dorothy!

- Boa-noite, pessoal!

- Boa, Danyl!

Lyon se dirigiu ao celeiro, acomodando-se sobre as palhas de milho e
a alfafa. Danyl, Dorothy e Totó se acomodaram no quarto indicado pela
dona da casa. Os donos da casa foram para seu quarto e logo todos
dormiam o sono dos justos. Por volta das cinco horas da manhã, o dono
da casa já ordenhava uma vaquinha e sua mulher acendia o fogão à
lenha para preparar o desjejum. Lyon, assim que ouviu barulho na casa,
levantou-se e foi procurar o que comer numa mata próxima. Por volta das
oito horas, Dorothy e Danyl acordaram. Totó acordara antes deles e
estava no quintal brincando com os pintos e as galinhas. A dona da
casa deixara uma bacia cheia de água e uma toalha limpa para que ela
lavasse o rosto. Após os cumprimentos matinais, Dorothy lavou o rosto e
foi, juntamente com Danyl, sentar-se à mesa, conforme indicação da dona
da casa. A primeira refeição do dia, além do gostoso café, tinha leite,
cuscuz de milho, batata-doce cozida, banana frita, ovos mexidos e
requeijão. Logo os donos da casa juntavam-se a eles. Totó, sentado aos
pés de Dorothy, comia tudo que sua dona colocava em sua boca. Da
varanda, o espantalho e o homem de lata viram quando o leão saiu para
caçar seu "café da manhã", mas nada comentaram. Eles entraram em casa
quando viram que o povo tomava seu desjejum...

- Bom-dia, amigos! - disseram os dois em uníssono.

- Bom-dia! - responderam os demais.

- E o Lyon, ainda dorme?

- Não, Danyl... ele foi dar uma volta!

- Sei, Scarecrow!

- Logo partiremos, amigos, precisamos chegar na Cidade das Esmeraldas o
mais cedo possível!

- Acalme-se, menina... vocês ainda vão caminhar alguns dias!

- Tudo isso, Senhor?

- Pois é! Por isso acho melhor que descansem mais um pouco!

- Não podemos nos demorar, Senhora... estou com muita saudade do Tio
Henry e da Tia Emma!

- Compreendo, Dorothy! Então vou preparar uma cestinha com algumas
coisas para vocês comerem durante a viagem!

- Oh, Senhora... não é preciso! Temos ainda algumas frutas no cesto!

- Não importa, Danyl... será um complemento!

- A senhora é muito generosa, aliás, vocês são pessoas muito especiais!

- Nada disso, Dorothy! Apenas dividimos aquilo que Deus nos proporciona
sem que peçamos!

- Seremos sempre gratos a vocês!

- É isso aí, Dorothy! - falou Danyl.

- Au au au au!

- Acho que o Totó também está agradecendo a hospitalidade!

- Com certeza, Dorothy!

Assim que acabaram de comer, Dorothy, Danyl, Totó, Lyon, Scarecrow e
Tin Man, despediram-se do simpático casal...

- Nem perguntamos seus nomes? - disse Dorothy.

- Eu me chamo Maria e ele, José!

E, entre lágrimas e acenos, foi a despedida!

Após caminharem umas duas horas, os viajantes pararam sob a sombra de
um enorme jacarandá para um pequeno descanso. Totó era o único que não
parava quieto. Corria daqui e dali, hora atrás de uma borboleta, hora
brincando com as flores que a brisa balançava. Após uns quinze minutos
reiniciaram a caminhada. Quando haviam caminhado cerca de uma légua,
foram surpreendidos por um abismo que cortava a estrada. Lá embaixo,
rochas pontudas esperavam os incautos. As escarpas do desfiladeiro eram
tão íngremes que não havia como descer por um lado e subir pelo outro.
O desânimo tomou conta dos viajantes...

- Acho que nossa viagem acabou! - disse o homem de lata.

- Que não podemos voar, já sabemos. Também sabemos que não poderemos
descer por paredes tão íngremes e lisas. Portanto, se não conseguirmos
pular este precipício, teremos que ficar por aqui!

- Scarecrow tem razão! - disse Lyon.

- E o que poderemos fazer?

- Não tenho a menor idéia! - replicou o espantalho.

Lyon sacudiu a juba como se quisesse desembaraçá-la. Ficou pensativo
por alguns instantes a calcular a distância dos paredões e disse:

- Acho que serei capaz de saltar!

- Então está tudo resolvido! - afirmou Danyl.

- Bem, não custa tentar! Quem será o primeiro?

- Eu, Lyon! Se você errar o pulo não me acontecerá nada, afinal, sou
feito de palha!

- Mas eu não! Se eu, Dorothy, Danyl ou Totó cairmos nesse abismo,
certamente morreremos! - disse Lyon.

- E eu ficarei todo amassado!

- E lá embaixo acabaria se enferrujando todo, Tin!

- É verdade, Scarecrow!

- Então trate de não errar esse pulo, amigo Lyon!

- - -

@ Parte XVII


E na beira do precipício, a conversa continuava...

- Embora esteja receoso, não errarei o salto, Danyl!

- Confiamos em você, Lyon!

- Obrigado, Dorothy! Scarecrow, suba em minhas costas e agarre-se à
minha juba!

O leão chegou até a beira do precipício, preparando-se para o salto...

- Por que não toma distância, Lyon? - perguntou o espantalho.

- Porque os leões não saltam desse jeito, Scarecrow!

Com um forte impulso Lyon atirou-se para a frente, alcançando com
segurança o outro lado do despenhadeiro...

- Iupiii! Viva!

Todos festejaram a proeza do leão e mais ainda o salto de volta. A
próxima a ser transportada foi Dorothy. Segurando Totó no colo, com a
outra mão, segurou a juba do leão e fechou os olhos na hora do salto.
Depois de transportar o Homem de Lata e Danyl, Lyon, ofegante, foi
obrigado a descansar um pouco, afinal, saltara por oito vezes sobre o
precipício. Assim que a respiração do leão voltou ao normal, eles
prosseguiram sua jornada. Após caminharem por meia hora, a floresta que
cercava a estrada tornou-se fechada e sombria. Os galhos das imensas
árvores ultrapassavam o leito da estrada, juntando-se e formando uma
espécie de túnel escuro e fantasmagórico. A disposição dos galhos e
das folhas formavam figuras grotescas, assustando ao passante que
tivesse uma imaginação fértil. Os viajantes, no íntimo, pensavam se
veriam novamente a luz do sol. Para aumentar a aflição, começaram a
ouvir ruídos estranhos e Lyon, em voz baixa, disse-lhes que estavam
na região dos Dakalis...

- Dakalis? Que coisa é esta?

- Dakalis são seres terríveis, Danyl!

- Como assim, Lyon? - indagou Dorothy.

- São animais monstruosos com corpo de urso e cabeça de tigre. Suas
garras são tão afiadas que podem me massacrar com a mesma facilidade
com que eu mataria Totó! Morro de medo dos Dakalis, gente!

- Seu medo é natural, Lyon! - replicou Dorothy.

Nem bem haviam caminhado dois quilômetros quando descobriram outro
precipício, ainda mais largo e profundo do que o anterior, a dividir a
estrada e, desta vez, o leão não conseguiria saltá-lo. Sentaram-se para
discutir o problema e,desta vez, Scarecrow teve uma brilhante idéia...

- Vejam aquela árvore enorme na beira do abismo. Se Tin conseguir
derrubá-la, teremos uma bela ponte!

- Genial! - exclamou Lyon. - Quem não soubesse, pensaria que você tem
um cérebro dentro da cabeça, ao invés de palha, Scarecrow!

- Então vou pôr mãos à obra!

O lenhador trabalhou com tanto afinco que, em pouco tempo a árvore
estava por cair. Com a ajuda de Lyon que, com as patas dianteiras deu
um empurrão no tronco, a árvore caiu com estrondo e seus galhos se
apoiaram na margem oposta do precipício. Eles iam iniciar a travessia
da ponte improvisada, quando ouviram grunhidos terríveis que deixou
todos apavorados. Duas feras se aproximavam ameaçadoramente do grupo,
aos urros...

- São os Dakalis! - exclamou Lyon, já tremendo.

- Depressa! - gritou Scarecrow.

Dorothy, com Totó nos braços, foi a primeira a atravessar a ponte,
seguida por Danyl, Scarecrow e Tin Man. Lyon, apesar do medo, voltou-se
para enfrentar os Dakalis e deu um rugido tão feroz que Dorothy deu um
grito de pavor e o espantalho caiu de costas no chão, com o susto. As
feras, admiradas com o urro do leão, pararam e ficaram a olhá-lo, mas
ao perceberem que eram maiores e tinham a vantagem numérica, voltaram a
investir contra Lyon. O leão, gritando para os demais, atravessou o
tronco rapidinho...

- Estamos perdidos! Eles não desistirão enquanto não nos reduzirem a
pedaços! Fiquem atrás de mim: vou lutar com eles até morrer!

Mas Scarecrow teve uma idéia melhor: pediu ao lenhador que cortasse a
extremidade do tronco que se apoiava no lado do abismo que eles
estavam. Tin Man trabalhou febrilmente com seu machado. Os Dakalis já
se encontravam a meio caminho da travessia, quando a árvore caiu com
estrondo no fundo do precipício, arrastando na queda as duas feras
ululantes, que se despedaçaram sobre as rochas pontudas...

- Ai! - exclamou o leão Covarde, com um profundo suspiro de alívio.

- Ainda estamos vivos! - disse Danyl.

- Morrer não deve ser nada agradável! - completou Dorothy.

- Meu coração está dando pulos até agora! - exclamou Lyon.

- Engraçado! - disse Tin. - Bem que eu gostaria de ter um coração que
batesse, mesmo que fosse de medo!

- Relaxe, amigo Tin... logo você ganhará seu coração! - disse Dorothy.

O episódio deixou a turma ainda mais ansiosa para sair dessa tenebrosa
floresta. Caminhavam tão depressa que logo Dorothy sentiu-se cansada...

- Amigo Lyon... posso subir em suas costas? Me sinto tão cansada!

- Claro que sim, Dorothy! Suba e segure-se em minha juba!

Para alegria geral, o arvoredo, aos poucos, ia ficando menos fechado e,
ao fim da tarde, atingiram a margem dum grande rio. Do outro lado a
estrada de tijolos amarelos avançava através de campos verdejantes,
pontilhados de flores e frutas coloridas. Foi uma festa. O problema era
saber como atravessar o rio...

- Temos que fazer uma jangada!

- Excelente idéia, Scarecrow! Vou começar agora mesmo!

E Tin Man pôs mãos à obra. Enquanto ele trabalhava, Dorothy, Danyl,
Lyon e Totó comiam algumas das guloseimas que Dona Maria lhes dera. A
construção da jangada demorou mais do que esperavam, embora o homem de
lata se esforçasse para trabalhar rapidinho. Eles tiveram que passar
a noite por ali e dormiram embaixo de algumas árvores.
Nesta noite, Dorothy, para proteger-se da friagem, dormiu recostada ao
corpo do leão e sonhou que o Mágico de Oz a levava de volta para casa.
Na manhã seguinte eles acordaram animados. Dorothy, após lavar o rosto
no rio, saciou a fome comendo alguns pêssegos e ameixas. Desta vez, Lyon
não se arriscou a entrar na floresta como fazia habitualmente nas
manhãs ou quando a fome batia, limitou-se a comer, assim como Danyl e
Totó, algumas frutas que lhes ofereceu a menina. Do outro lado do rio
a estrada de tijolos amarelos estendia-se entre um campo alegre e
luminoso, como um convite ao prosseguimento da caminhada em direção à
Cidade das Esmeraldas. Um pouco antes do meio-dia, Tin Man concluiu seu
trabalho. Com a ajuda de Danyl e de Scarecrow, colocaram a jangada na
água. Dorothy, com Totó ao colo, sentou-se no centro desta e Danyl
sentou-se ao seu lado. Quando Lyon subiu na embarcação, esta perdeu o
equilíbrio e adernou para um dos lados. Scarecrow e Tin Man correram
para o lado oposto a fim de evitar que a jangada virasse com o peso
do leão. Com as coisas ajeitadas, eles iniciaram a travessia. Fincando
no leito do rio as varas que o lenhador fizera, Danyl, Scarecrow e Tin
Man faziam a jangada navegar. Tudo ia muito bem, até que, ao chegaram no
meio do rio, a correnteza levou a jangada para longe da estrada de
tijolos amarelos. Os varapaus que serviam para empurrar a jangada,
agora se mostravam inúteis, pois já não atingiam o fundo do rio...

- A coisa está feia! - observou o homem de lata.

- Pelo visto, iremos parar no mar!

- Se não atingirmos a margem, Danyl, será muito pior do que parar no
mar!

- Como assim, Tin? - perguntou Dorothy.

- Seremos levados às terras da Bruxa Má do Oeste e ela nos fará seus
escravos para o resto das nossas vidas!

- Que terrível! - exclamou Dorothy.

- Lá se vai meu cérebro!

- E a minha coragem!

- E o meu coração!

- E a minha família!

- E as minhas aventuras!

- Chegaremos à Cidade das Esmeraldas de qualquer jeito! - gritou
Scarecrow, enfiando a vara na água com tanta força que esta ficou
presa no fundo com o pobre coitado agarrado na ponta, no meio da
correnteza, enquanto a jangada se afastava...

- Adeus! - gritou para os amigos.

Consternados, os amigos viram a jangada afastar-se cada vez mais do
espantalho...

- Au au au au!

Penalizado, Tin Man deixou escorrer algumas lágrimas, mas lembrando-se
de que poderia enferrujar suas dobradiças, tratou de enxugá-las na
barra do vestido de Dorothy. A situação de Scarecrow não era nada boa.
Pendurado naquela vara, no meio do rio, refletia angustiado...

- Estou agora em piores condições do que antes. No campo, pelo menos
podia fingir que assustava os corvos. Mas... de que serve um espantalho
cercado de água por todos os lados?

Scarecrow via a jangada afastar-se cada vez mais e suas esperanças de
sair daquela situação se desvaneciam. Lyon achou que era o momento de
tomar uma atitude, antes que o rio os levasse para mais longe ainda do
amigo espantalho...

- Preciso fazer alguma coisa!

- E o que pensa fazer, Lyon? - indagou Danyl.

- Acho que posso nadar até a margem, puxando a jangada comigo!

- Que idéia fabulosa, Lyon! - falou Dorothy.

- E como você puxara a jangada? - quis saber Tin Man.

- Você e Danyl seguram com firmeza minha cauda e eu puxo a jangada!

E assim foi feito. Lyon jogou-se na água, Danyl e Tin seguraram a
cauda dele com força e o leão nadou contra a forte correnteza do rio,
empregando todos os esforços necessários a façanha tão árdua e contando
com uma mãozinha de Dorothy que, com a vara que sobrara, procurava
tornar a missão do amigo menos penosa. Aos poucos foram se aproximando
da margem e logo pisavam em terra firme. Exaustos, deitaram-se na relva
para descansar um pouco. Perceberam que estavam bem longe da estrada de
tijolos amarelos...

- A correnteza nos deixou muito longe da estrada!

- E agora? - perguntou Tin.

- Temos que voltar à estrada! - falou Lyon, enquanto se espichava na
grama para secar-se.

- A melhor solução é subirmos outra vez a margem do rio, até chegarmos
à estrada! - observou Danyl.

Depois de descansados, puseram-se a caminho pela margem do rio, na
direção oposta a que este corria, atravessando um bosque florido.
Caminhavam depressa, parando às vezes um instantinho para que Dorothy
colhesse uma flor mais tentadora, até que um grito do homem de lata
chamou a atenção dos demais...

- Olhem o Scarecrow ali!

Eles avistaram o espantalho com uma expressão tristonha de abandono.

- Como faremos para salvá-lo? - perguntou Dorothy.

Sentaram-se todos à margem do rio e ficaram, pensativos, olhando para
o amigo, sem nada dizerem. De repente, uma voz os tirou do devaneio...

- Quem são vocês?

Era uma cegonha que pousara para beber um pouco de água que falara...

- Eu sou Dorothy! - respondeu a menina. - Os outros são meus amigos,
Danyl, Tin Man e Lyon!

- Para onde vão? - perguntou a cegonha.

- Vamos para a Cidade das Esmeraldas!

- Mas o caminho não é este! - replicou a cegonha, revirando o longo
pescoço para ver melhor aquele bando esquisito.

- Eu sei! - retrucou Dorothy.

- Se sabe, por que então estão aqui?

- É que perdemos o amigo Scarecrow e estamos pensando de que forma
poderemos salvá-lo!

- Onde está ele? - perguntou a Cegonha.

- Ali, no meio do rio!

- Se ele não fosse tão grande e pesado, eu poderia apanhá-lo para
vocês! - observou a Cegonha.

- Ele não pesa quase nada... é de palha! - disse Dorothy, ansiosa.

- Bem, vou tentar, mas, se ele for pesado demais, serei obrigada a
soltá-lo no rio!


- Ficaremos muito gratos se a senhora tentar salvá-lo, Dona Cegonha!

- Farei o possível, menina!

A cegonha voou até onde estava o espantalho e o segurou com as garras,
trazendo até a margem, para junto dos seus amigos...

- Iupiiii! Viva! - gritaram todos assim que a cegonha chegou na margem
com o espantalho.

- Que alívio, Scarecrow... estávamos aflitos! - disse Dorothy.

- Obrigado, Dona Cegonha, em nome de todos! - disse Danyl.

- Não foi nada, companheiros!

Scarecrow estava tão contente que abraçou a todos, inclusive Totó e a
cegonha...

- Muito grato, Dona Cegonha... sinto que nasci de novo!

- Não foi nada, amigo, essa é a minha função!

- Obrigada, Dona Cegonha! Não sabíamos como salvar nosso amigo!

- Tudo bem, menina Dorothy! Me desculpem, mas tenho que ir embora!

- Por que a pressa, Dona Cegonha? Fique mais um pouco!

- Não posso, amigo Scarecrow... tenho que entregar esse bebê a uma
ceguinha lá na Bahia! Tchau, amigos!

- Se eu conseguir um cérebro, irei procurá-la para demonstrar minha
gratidão, afinal, devo-lhe a vida!

- Não se preocupe com isso, Scarecrow... estou sempre pronta a ajudar a
quem se encontra em dificuldade!

- Tchau, Dona Cegonha e faça uma boa viagem!

- Obrigada, Dorothy! - respondeu a cegonha, alçando vôo.

- - -

@ Parte XVIII


Assim que eles perderam a cegonha de vista, recomeçaram a marcha de
volta à estrada de tijolos amarelos...

- Tive medo de ficar dentro do rio o resto da minha vida! - confessou
o espantalho.

- Nós não sabíamos como salvá-lo, mas não desistiríamos nunca!

- Obrigado, amigo Danyl!

Agora ouviam o canto dos pássaros e admiravam a beleza do campo:
flores amarelas, brancas, azuis, roxas e vermelhas estendiam-se como um
tapete na orla do rio. Mais adiante estas flores foram substituídas
por canteiros de papoulas rubras, de um exuberante colorido e perfume
inebriante. Como o odor da papoula pode causar sono e até provocar a
morte, Dorothy, que se aproximara demais das papoulas, sentia as
pálpebras pesadas e caiu adormecida no meio destas flores. Ao vê-la no
chão, Danyl correu em seu socorro...

- E agora? - perguntou, perplexo, Danyl.

- Se abandonarmos Dorothy aqui, fatalmente ela morrerá! - ponderou
Scarecrow.

- Eu mal consigo manter os olhos abertos! - disse Lyon.

- E eu também! Até Totó dormiu! - disse Danyl.

- Danyl e Lyon, saiam daqui! Eu e o Scarecrow levaremos Dorothy e Totó
para um lugar seguro! - disse Tin Man.

No mesmo instante Lyon e Danyl desapareceram. Scarecrow e Tin Man
fizeram uma cadeirinha com os braços e transportaram Dorothy, colocando
Totó no colo da menina. Andaram por um bom tempo e encontraram Lyon
caído, dormindo entre algumas papoulas. O campo das papoulas parecia
não ter fim, até que, finalmente, após uma curva do rio já não havia
qualquer destas flores. Scarecrow e Tin Man andaram mais um pouco e
encontraram Danyl dormindo sob uma árvore, à beira do rio. Deitaram
Dorothy e Totó ao lado dele e sentaram-se para descansar...

- Mesmo para um leão robusto como o Lyon, o aroma dessas flores é
violento demais! - falou Tin Man.

- Pelo menos, onde estamos agora, eles não correm perigo!

- Teremos que trazer o Lyon para cá!

- E como faremos isso, Tin?

- Eu não sei, Scarecrow, mas teremos que dar um jeito!

- É verdade! Se Lyon ficar lá por muito tempo, é capaz de morrer!

Scarecrow e Tin calaram-se, aguardando que o vento acordasse os amigos.
Os dois, em vigília, passaram a noite. Já eram quase nove horas do dia
seguinte, quando Dorothy despertou. Pouco depois foi a vez do Danyl e
em seguida, do Totó. Depois que a menina se restabeleceu, Scarecrow
deu-lhe algumas frutas, bem como ao Danyl e ao Totó...

- Que aconteceu?

- Você, Danyl, Totó e Lyon foram narcotizados pela papoula, Dorothy!

- Caramba! E eu dormi muito?

- Você, Danyl e Totó dormiram desde ontem à tarde!

- Cadê o Lyon, Tin? - perguntou Dorothy.

- Ele está caído perto das papoulas e está adormecido desde ontem!

- E agora? Que faremos, Scarecrow?

- Se eu tivesse cérebro, Danyl, saberia o que fazer... acho!

- O Lyon, coitado, deve estar sofrendo com aquele fedor terrível!

- Acho que não, Tin, pois está entorpecido pelo cheiro da papoula!

- Eu sei, Scarecrow, mas ele ainda não acordou!

- E eu acho que não acordará tão cedo, Tin!

- E agora, Danyl... o que faremos?

- Eu acho que devemos aguardar o Lyon despertar, Dorothy!

- E se ele não acordar, Danyl?

- Será que ele morreu, Tin?

- Acho que... ainda não, mas corre esse risco, Dorothy!

- Temos que tirá-lo de lá, Dorothy!

- Eu sei, Tin, mas como?

- Lyon é pesado demais para que possamos carregá-lo, Dorothy!

- Teremos de deixá-lo aqui, dormindo por toda a eternidade. É capaz
dele sonhar que encontrou a coragem!

- Não podemos fazer isso, Danyl!

- Sinto muito! - disse o espantalho. - O Lyon, apesar de covarde,
era um bom sujeito!

- Mas temos de ir em frente!

- Nada disso, Danyl! Vamos esperar mais algum tempo!

- Tudo bem, Dorothy... eu não tenho pressa mesmo!

E eles continuaram ali sentados. Cerca de uma hora depois eles ouviram
um miado agressivo...

- Que foi isso? - indagou Dorothy.

O homem de lata ia responder quando avistou um estranho animal que
avançava aos pulos sobre um capinzal perto do local onde eles estavam.
Um enorme gato-do-mato, orelhas coladas à cabeça, a boca escancarada,
deixando à mostra duas fileiras de dentes assustadores. Seus olhos
brilhavam como fogo. O lenhador viu, correndo desesperado à frente da
fera, um ratinho cinzento. Apesar de não ter coração, Tin sabia que
aquele gatão não se comportava de maneira decente ao perseguir um
bichinho tão pequenino e que lhe pareceu inofensivo e até bonitinho.
Tin Man ergueu seu machado e, quando a fera passou por ele, decepou-lhe
a cabeça. Livre do inimigo, o camundongo parou e agradeceu ao seu
salvador...

- Obrigada, Senhor Lenhador!

- Por nada, amigo...

- Amiga, Senhor...

- Meu nome é Tin Man... sou um homem de lata e estou sempre pronto a
ajudar os mais necessitados... mesmo que seja apenas uma ratinha!

- "Apenas uma ratinha"! - exclamou a ratinha, indignada.

- Eu não quis ofendê-la, Madame!

- Pois saiba que sou uma rainha... a Rainha dos ratos silvestres!

- Mil perdões, Majestade! - disse Tin, curvando-se numa reverência.

- Salvando minha vida, o Senhor executou um feito importante, além de
ter praticado um ato de bravura!

Nesse momento, de dentro do capinzal, saíram centenas de ratinhos...

- Oh, Alteza, pensamos que tivesse morrido! - disse um dos ratinhos.

- Como escapou das garras do monstro, Majestade? - perguntou um outro.

Os demais ratinhos do bando, à proporção que chegavam diante da rainha,
saudavam-na com salamaleques exagerados.

- Este estranho homem de lata matou o gato e me salvou, Ministro!

- Em nome da nação dos ratos silvestres de Oz, agradecemos por ter
salvo nossa rainha e parabenizamo-lo pela proeza!

- Como gratidão e por seu ato de louvor, devemos satisfazer todos os
seus caprichos!

- Perfeitamente, Majestade! - guincharam os ratinhos em coro.

Totó, ao ver aquele bando de ratos, pensou logo em brincar com eles,
como fazia na fazenda dos tios de Dorothy...

- Au au au au!

Ao ouvirem o latido e o cachorrinho, os ratos debandaram em todas as
direções. Imediatamente Tin carregou Totó...

- Calma, gente... ele só queria brincar com vocês! - gritou Tin Man.

Botando a cabeça pra fora, do meio duma touceira, a rainha dos ratos
perguntou timidamente...

- Tem certeza de que ele não vai nos atacar?

- Pode ficar tranqüila, Majestade! - respondeu o homem de lata.

Embora desconfiados, os ratinhos foram se aproximando. Um dos maiores
fez uso da palavra, curvando-se numa reverência...

- Podemos fazer alguma coisa em retribuição ao seu nobre gesto?

- Que eu saiba, nada! - respondeu Tin.

O espantalho aproximou-se do homem de lata e dos ratinhos...

- Podem, sim: podem salvar um leão amigo!

- Um leão? - sobressaltou-se a rainha. - Ora, ele vai nos devorar!

- Qual nada! - retrucou o Scarecrow. - O nosso leão é um covarde!

- É mesmo? - perguntou a Rainha, admirada.

- Estamos indo à Cidade das Esmeraldas para pedirmos alguns
benefícios ao Mágico de Oz... e ele vai pedir pra ser corajoso!

- Foi ele mesmo quem disse! - completou Tin.

- Garanto que, quando ele souber que vocês salvaram a vida dele, vai
tratá-los com gratidão, educação e respeito! - disse Dorothy, que se
aproximara do grupo.

- Está bem! - consentiu a Rainha. - confiaremos em vocês!

- Que devemos fazer? - perguntou o rato ministro.

- São muitos os seus leais súditos? - perguntou Dorothy.

- Milhares, milhares! - respondeu a rainha.

- Então, chame todos aqui... e que cada um traga consigo um barbante
comprido! - falou Dorothy.

- Ministros... convoquem todo o nosso povo! Quero todos aqui e com um!
bom pedaço de cordão!

- Sua ordem será cumprida, Majestade! - responderam os três ministros,
a uma só voz.

Os ratinhos desapareceram em todas as direções. Scarecrow virou-se para
Tin...

- Agora, amigo Tin, é com você!

- Qual é a idéia, Scarecrow?

- Vá até a margem do rio e faça uma carreta capaz de transportar Lyon!

O lenhador fez rapidamente uma carreta de madeira. Pouco depois, os
ratinhos começaram a chegar de todos os lados, aos milhares, pequenos,
médios e grandes, cada um trazendo nos dentes um pedaço de barbante.
Dorothy ficou de boca aberta ao ver-se cercada por milhares de ratos.
Os camundongos a olhavam com espanto e timidez, mas ao verem sua rainha
conversando amigavelmente com a menina, descontraiam. Scarecrow e Tin
Man, com os barbantes em forma de laço, ataram os ratinhos à carreta,
depois os guiaram até onde estava Lyon. Foi uma dificuldade colocar o
leão na carreta, mas os ratinhos eram incentivados por sua rainha e,
com a ajuda do espantalho e do homem de lata, conseguiram colocá-lo
sobre esta, bem como puxar a carreta até onde ficara Dorothy. Assim
que chegaram ali, foram desatados da carreta por Scarecrow e Tin...

- Obrigada, amigos! - agradeceu Dorothy, com entusiasmo.

- Se precisarem novamente de nós, é só soprar este pequeno apito que
viremos! Adeus, amiga!

- Obrigada, amiga! Adeus, amigos!

- Adeus! - responderam todos os ratinhos, dispersando-se pela relva,
indo cada um para sua casa. Dorothy, com Totó nos braços, Scarecrow e
Tin Man foram sentar-se junto a Danyl que, durante todo esse movimento,
dormira um bom sono...

- Agora vamos esperar que Lyon acorde para prosseguirmos nossa viagem!

- É isso aí, Dorothy! - disse Tin Man.

Pelo meio da tarde o leão despertou. Tin Man contou-lhe como ele fora
salvo e ele ficou muito agradecido aos amigos. Levantou-se da carreta,
deu uma espreguiçada, um bocejo e deu uma corridinha para esticar as
pernas...

- Já estou em forma, pessoal! Podemos partir!

- Vamos procurar a estrada dos tijolos amarelos! - disse Dorothy.

Acordaram Danyl e se puseram a caminho...

Vocês vejam como a vida é engraçada: eu sempre me achei o máximo, mesmo
sendo um covarde e fui derrotado por umas flores de nada e salvo por
pequenos camundongos!

- Agora você aprendeu que, tamanho não é documento! - disse Danyl.

- Pois é, amigo Lyon, vocês que são de carne e osso pensam que são
fortes e que podem tudo, mas não é verdade!

- Você está certo, Scarecrow! - disse Tin Man.

Após alguns minutos de caminhada sobre a relva verde e macia, eles
encontraram a estrada que os levaria à Cidade das Esmeraldas. Com
prazer, descobriram que o calçamento era perfeito, a paisagem alegre
e , entusiasmados, viram que a cerca que ladeava a estrada agora era
pintada de verde e, aqui e ali, havia uma casinha na mesma cor...

- Que alívio, gente, ver essa cerca verdinha! - exclamou Dorothy.

- Acho que já estamos chegando à Cidade das Esmeraldas!

- É possível que, depois daquela curva, já avistemos a cidade, Tin!

- Estou tão ansiosa! - disse Dorothy.

- Acho que todos nós sentimos o mesmo, Dorothy... até mesmo o Totó!

- Au au au au!

- Eu não disse! Hahahahaha! - falou Danyl, dando uma boa risada.

- Hahahahahahaha! - Sorriram todos.

À proporção que caminhavam, aumentava o número de habitações e os
moradores de algumas dessas casas, curiosos, chegavam à porta só
para ver o estranho cortejo composto de uma menina, um cachorrinho, um
gato que andava como gente, um espantalho, um homem de lata e aquele
enorme leão. Todos se vestiam de verde e tinham chapéus pontiagudos,
iguais aos usados pelos Pimpolhos que foram libertados da escravidão
quando a casa de Dorothy caiu sobre a da Bruxa Má do Leste, matando-a
soterrada. Pareciam querer puxar conversa, mas a presença de Lyon era
bastante para que se retraíssem amedrontados...

- Só pode ser o Reino de Oz! - observou Dorothy.

- Devemos estar bem perto da Cidade das Esmeraldas! - completou Tin.

- É mesmo! - concordou o espantalho.

- Tudo aqui é verde. no País dos Pimpolhos era azul! - disse Danyl.

- O povo não parece tão simpático! - disse Lyon.

- É você quem os assusta, Lyon! Hahahahaha!

- Ora, Danyl... eles teriam medo de um leão covarde como eu?

- Mas eles não sabem disso, Lyon! - disse Scarecrow.

- Você já comprovou que não é nem um pouco covarde, Lyon!

- Obrigado, Dorothy, mas sei que sou medroso!

- Acho que não vai ser fácil encontrar hospedagem por estas bandas!

- Talvez não, Lyon... pode ser que encontremos um certo baiano ou uma
simpática niteroiense! - Falou Dorothy.

- Eu também acho! - concordou Danyl.

- Continua... -

As Aventuras de Frankenstinha - Capítulos 1 a 7

Revista Cego à Vista


- - -


As Aventuras de Frankenstinha


@ Capítulo I


A lua, embora estivesse cheia (talvez do mau tempo), escondia-se atrás
das negras e grossas nuvens. A tempestade, de tão brava (não se sabe
com quem ou com o quê), parecia querer afundar a cidade e deixar seus
habitantes como náufragos, em um mar de lama e escombros.
Relâmpagos iluminam a escuridão da noite, trovões ecoam nas montanhas
próximas, denunciando os belos e apavorantes raios que riscaram o céu
segundos antes destes, numa velocidade incrível, descarregando toda
sua potência elétrica na Terra, muitas vezes provocando mortes e danos
ambientais.
As pedras de granizo davam cascudos nas velhas telhas do casarão,
quebrando-as e provocando, aqui e ali, goteiras que, como finas
cachoeiras, transformavam os corredores em pequenos rios que desciam
pelas escadas de mármore de Carrara como corredeiras, desembocando
no jardim mal cuidado que cerca a habitação.
Na maior sala do piso superior está o laboratório dos cientistas,
Bad Crazy e Worst Mad. Ali eles realizam suas experiências...

* KABRUM BRUUMM

- Que noite maravilhosa, Crazy!

- Como a gente esperava, né, Worst?

- Vamos ser rápidos, Crazy! Temos que aproveitar essa energia!

- Será que agora dará certo, Worst?

- Espero, Crazy... dessa vez a gente fica rico!

- Esse ouro vai bancar nossas pesquisas, Worst!

- Ainda bem, Crazy... já estou cansadinho!

- Eu lhe disse que era mais fácil clonar um bichinho qualquer, Worst!

- Ora, Crazy... clonar um caracol nos daria tanta fama quanto tem o
Rubinho!

- Mas a gente ganharia uma grana vendendo pros restaurantes europeus,
Worst!

- Já clonaram ovelha, boi, cavalo, macaco, rato, porco... e você quer
clonar um caramujo, Crazy?

- Mas o caracol é tão bonitinho, Worst!

- Bonitinho, mas está proibida sua criação no Brasil, Crazy!

- Tá bem, Worst! Vamos checar o equipamento!
Os sensores já estão detectando as ondas eletromagnéticas?

- Estou registrando o padrão de reflexão delas! A velocidade já é de
trezentos mil quilômetros por segundo!

- Tá bem, Worst... se você já direcionou o pára-raio, pode ligar a
chave comutadora!

- A antena está direcionada e os conectores acoplados ao acumulador,
Crazy!

- Então liga logo essa zorra, Worst!

- É um, é dois, é três... já!

* BIZZZZZZZ TUIIIINCH TOIMMMMM ZIIIIIIG

* BUM CRÁS SPLOCH

E o laboratório foi pelos ares...

Ao ouvir a explosão, Fran Kensbeca, a jovem cozinheira dos cientistas,
subiu a escada de dois em dois degraus. Ainda havia muita fumaça no
ambiente e a chuva molhava toda a sala pelo enorme buraco que havia
no telhado...

- Doutor Bad Crazy, Doutor Worst Mad... onde estão vocês? - perguntou
aflita e estupefata a pequena e prestativa cozinheira, tentando
dissipar a fumaceira com os braços e um pano de prato que trouxera da
cozinha.

- Aquiiii, Fran!

- Aqui onde, Doutor Crazy?

- Aqui... pendurado numa viga do telhado!

- Ainda não consigo vê-lo, Doutor Crazy!

- Alguém poderia lembrar-se de mim?

- Oh, Doutor Worst... cadê o Senhor?

- Estou dentro do microondas, Fran!

- Hihihihihihihi!

- Você tem coragem de rir de nós, Fran?

- Não é isso, Doutor Crazy... é que, quando fico nervosa, eu começo a
rir!

- Farei de conta que acredito, Fran!

- Eu também, Fran!

- Logo vamos tirá-los daí!

- Como, "Vamos", Fran?

- Claro, Doutor Crazy... vou chamar o Rein Ald pra me ajudar, viu?

- É, Fran! Vai logo telefonar pro cara que já estou ficando cansado
dessa posição!

- Agora mesmo, Doutor Crazy! Hihihihihihihihi!

E Fran desceu pra fazer a ligação...

- Crazy, tô desconfiado que ela tá rindo da gente!

- Né não, Worst... é só nervoso!

Uns vinte minutos depois o quebra-galho Rein Ald chegava no casarão
carregando uma grande maleta e uma escada. Fran o conduziu ao andar
superior...

- Uau! Como foi que aconteceu isso, Fran? Hahahahahaha!

- Isso não importa agora, Rein... trate de tirar os Doutores dessas
posições ridículas! Hihihihihihihihi!

- Vocês vão ficar aí rindo ou vão nos ajudar?

- É isso aí, Crazy! - elogiou Doutor Worst.

- Calma, Doutores... eu trouxe tudo que preciso!

O faz-tudo Rein Ald pegou algumas ferramentas em sua caixa e...

* BLAM CLONC PLIM BONG CRUNCH BEIN POC BOF CLANC CRASH PLAF CRAS

- Pronto, Doutores... estão livres!

- Obrigado, Rein! Estou todo quebrado!

- Eu também, Crazy! - complementou Doutor Worst.

- Vou preparar um banho de ervas bem quente pros Doutores!

- Que delícia, Fran! - disse Doutor Worst.

- Vamos ficar devendo essa, Fran! - completou Doutor Crazy.

- É só o que os Doutores fazem... me dever!

- Isso é uma indireta, Fran?

- Acho que essa foi direta mesmo, Crazy! - disse Doutor Worst.

- Mas a mim ninguém fica devendo não. São quarenta pilas o serviço!

- Fran... pague logo a esse canguinha!

- Com que dinheiro, Doutor Crazy?

- Com o seu, claro, Fran! - respondeu Doutor Worst.

- M-mas... grrrrrrrr! - gaguejou, grunhindo de raiva, Fran.

- Rein... volte amanhã pela manhã pra consertar o telhado!

- E o material, Doutor Worst?

- Compre tudo que for preciso!

- E a grana pra pagar o material, Doutor Crazy?

- Pegue com a Fran, Rein! Tchau!

- Tá certo, Doutor Worst! Até amanhã! Tchau!

Fran, de cara feia, seguida por Rein Ald, desceu as escadas e foi até
seu quarto. Na gaveta da cômoda pegou a grana e entregou ao Rein...

- Aí tem o suficiente, Rein! Não esqueça meu troco, viu, lindinho?

- Ok! E aí, Franzinha... quando daremos uma voltinha?

- Vê se se enxerga, Rein... quem gosta de gente feia é cirurgião
plástico, lindinho!

- Feio, eu?

- Não, Rein... seu pai!

- Ah, pensei!

- Vá logo embora, Rein... tenho que subir pra arrumar aquela bagunça!

- Ainda bem que parou a tempestade, né, Fran?

- É... mas vê se não esquece e volta amanhã pra consertar o telhado!

- Seu pedido é uma ordem, Franzinha! Fui! Hahahahahaha!

- Vai... sai!

Quando Rein Ald saiu, Fran foi cuidar do banho dos cientistas...

- O sol, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...

Fran pegou algumas ervas e jogou num caldeirão. Colocou água até quase
a borda deste e o pôs no fogão pra ferver o banho.
Alguns minutos depois os dois cientistas entraram na cozinha...

- O banho tá pronto, Fran?

- Acabei de por na banheira, Doutor Crazy!

- Tem alguma coisa pra comer, Fran?

- Claro, Doutor Worst... tem um Filé Au Poivre que fiz ontem!

- Então vou colocá-lo no microondas...

- Ora, Worst... esqueceu que destruímos o microondas?

- E agora, Crazy? Como vou esquentar a comida?

- Deixe comigo, Doutor Worst. Vou pegar o microondas do meu enxoval e
trazê-lo pra cozinha!

- Oh, Fran! Não sei o que seria de nós sem você!

- Eu sei, Doutor Crazy, eu sei! Acho melhor vocês irem tomar banho!

- Estamos indo, Fran!

Os cientistas se dirigiram ao banheiro e Fran foi pegar o microondas e
o colocou na cozinha e foi arrumar a mesa...

- Fran... Fran... cadê nossos navios? - gritou do banheiro, Doutor
Crazy.

- Já vou levá-los!

E Fran foi levar os barquinhos para os cientistas brincarem de Batalha
Naval, como sempre faziam enquanto tomavam banho...

- - -

@ Capítulo II


Enquanto os cientistas se banhavam, Fran Kensbeca subiu pra dar uma
arrumadinha no laboratório. O estrago fora feio, mas Fran ajeitou
algumas coisas e deixou o resto pro outro dia, após o telhado ser
consertado, afinal, haveria mais sujeira pra limpar. Voltou à cozinha
pra ultimar os preparativos da janta e levar as toalhas com motivos
de desenho animado pros cientistas se enxugarem e suas pijamas.
Assim que eles saíram do banho, Fran colocou o jantar...

- Doutor Crazy, Doutor Worst... a comida está na mesa!

Não demorou muito e logo os três estavam jantando...

- A comida está uma delícia, Fran!

- Também acho, Worst!

- Obrigada, Doutores!

- Depois do jantar, a gente pode ver televisão, Fran?

- Se prometerem que irão dormir antes das onze, tudo bem!

- Prometemos, Fran! - responderam os dois ao mesmo tempo.

Após jantarem, Fran tirou os vasilhames da mesa e levou pra cozinha.
Guardou as sobras do jantar na geladeira e foi lavar os pratos. Na
sala de visitas, os cientistas, sentados no sofá, assistiam tevê...

- Eu quero ver Cocoricó, Crazy!

- E eu quero ver Chaves, Worst!

- Assim não dá, Crazy... você nunca deixa eu ver o que quero!

- Eu sou mais velho, Worst e sei o que é melhor pra nós dois!

- Não sabe nada, Crazy... vou chamar Fran!

- Chame, Worst... quer um cavalinho?

- Eu não, Crazy... tenho medo de cavalo!

- Tem, é? Então fique aí quietinho, tá?

- Eu quero ver Cocoricó... eu quero ver Cocoricó!

- Não vai ver nada... veja Chaves... olha aí a Chiquinha!

- Ah, é? É? Fran... Fran! - gritou Doutor Worst.

Fran veio ver o que estava acontecendo na sala...

- Qual é o problema, Doutor Worst?

- O Crazy não quer deixar eu ver Cocoricó, Fran!

- Por que isso, Doutor Crazy?

- Porque eu quero ver Chaves, Fran!

- Tudo bem! Vamos resolver isso de maneira democrática, certo?

- Certo! - responderam os cientistas em uníssono.

Fran tomo o controle remoto da mão do Doutor Crazy e... mudou o canal.

- Para não haver briga, vamos assistir a novela das oito!

- Mas Fran, eu tenho medo da Madame Mínima!

- Ora, Doutor Worst... é só uma novelinha!

- Mas ela é uma bruxa, Fran!

- Mas é uma bruxa boazinha, Doutor Worst!

- Né nada, Fran! Ela transformou o gato Danyl num dragão!

- Aquilo foi um engano dela, Doutor Worst! Logo ela conserta isso!

- Eu queria ver Chaves, Fran! - disse Doutor Crazy.

- Vocês querem saber de uma coisa?

- Queremos, Fran! - responderam juntos os cientistas.

- Vão os dois pra caminha! Os Senhores estão cansadinhos e precisam
descansar!

- Mas, Fran...

- Não tem nada de mas! Vão os dois dormir... e agora! - sentenciou
Fran, autoritária.

- Viu, seu Crazy?

- Viu, seu Worst?

- Vão pro quarto que já vou levar os ursinhos de pelúcia de vocês!

Os dois cientistas, com cara de choro, dirigiram-se ao quarto. Assim
que houve o intervalo da novelinha, Fran foi levar os ursinhos deles e
desejar-lhes uma boa noite de sono...

- Já fizeram as orações?

- Já, Fran! - responderam os cientistas a uma só voz.

- Então tomem seus ursinhos e tratem de dormir!

- E o nosso beijinho de boa-noite, Fran?

- Eu não iria esquecer, Doutor Worst!

* SMACK! SMACK!

- Boa-noite, Fran! - disseram em coro os cientistas.

Fran saiu do quarto e, após verificar se as portas e janelas da casa
estavam trancadas, voltou pra assistir a novelinha da Madame Mínima, a
Bruxinha Baixinha. Quando acabou a novelinha, foi pro seu quarto.
Ela também estava cansada e sabia que, no dia seguinte teria muito
trabalho para arrumar a bagunça no laboratório. Foi deitar e dormir.

O dia amanheceu bonito. pelo buraco do telhado o sol iluminava o
laboratório. Fran já arrumara o que ficara inteiro e o que era lixo
estava a um dos cantos da sala. Quase toda a vidraria do laboratório
havia quebrado: alambique, almofariz, ampolas de decantação, bastões
agitadores, cadinhos, cálices, canecas, cápsulas, colheres de medida,
conta-gotas, espátulas, frascos, funis, lâminas, lâmpadas, pipetas,
provetas, retortas, tubos de ensaio e até seringas. Dois armários
estavam sem as portas; bacias, bandejas e jarras de inox estavam
amassadas; o microondas, a balança de precisão, a estufa e a bomba de
vácuo foram destruídas; um bico de Bunsen virou farelo; o microscópio
desmantelou-se; algumas caixas de filtro de papel queimaram e até um
velho esqueleto foi "esquartejado na explosão". Havia muito caco de
telha e pedaços da madeira do telhado espalhados pela sala. Como a
chuva dera uma mãozinha, quase não havia lama por ali. Fran fazia uma
vistoria final quando a campanhinha tocou...

* BLIM BLOM! BLIM BLOM!

- Já vai! - gritou Fran.

Fran desceu com um saco de lixo numa das mãos para abrir a porta...

- Bom-dia, Fran!

- Bom-dia, Rein!

- Aqui está o troco, Fran!

- Trouxe tudo que precisava pra consertar o telhado?

- Claro, Fran! Eu sou competente, coisa fofa!

- Deixe de gracinha e suba pra trabalhar!

- Tem razão, Fran... eu não ganho pra ficar parado, né?

- Pois é, Rein... e vê se não faz muito barulho pra não acordar os
doutores!

- Isso é quase impossível, Fran, mas tentarei!

- Tá bem, Rein! Não esqueça de consertar os armários e, quando acabar,
por favor, desça com a lixaria, tá?

- Não se preocupe, Fran do meu coração... farei o mínimo de barulho
possível e descerei o lixo!

- É assim que gosto de você, Rein: sempre muito prestativo!

- E eu gosto desse seu jeitinho mandão, Fran!

- Ah, é? Então suba logo pra trabalhar!

- Tô indo, Fran, tô indo! Coisinha fofa! Hahahahahaha!

- Gaiato!

- Ah, Fran... eu ia esquecendo!

- Esquecendo o quê, Rein?

- Esse torrone e essas balas de geléia que eu trouxe pra você! Tome!

- Poxa, Rein... que gentil da sua parte!

- Isso é pra você não pensar que eu sou um brutamontes!

- Mas eu não penso isso de você, Rein! - falou docilmente Fran.

- Ainda bem, Fran! Fui!

Rein Ald subiu ao pavimento superior e Fran dirigiu-se à cozinha. Já
eram quase oito horas e ela precisava preparar o desjejum. Pôs água na
chaleira para o café, colocou bananas da terra e batatas doces pra
cozinhar, preparou alguns sanduíches e pôs no forno. Quando estava
tudo pronto, foi acordar os doutores...

- Vamos levantar, Doutores! Bom-dia!

- Ah, Fran... eu quero dormir mais um pouquinho!

- Nada disso, Doutor Worst! Vamos levantando! Acorda, Doutor Crazy!

- Mas ainda é madrugada, Fran!

- Madrugada pra quem é preguiçoso! Levante-se!

- Droga!

- Olhe, Fran... Crazy disse, "droga"!

- E você repete, né, Doutor Worst?

- Eu não repeti, Fran... eu só falei o que Crazy falou!

- Tá bem, tá bem! Levantem-se! Aqui estão suas roupas! Vistam-se e vão
lavar a cara! Daqui a dez minutos quero os dois lá na copa!

Fran saiu do quarto e voltou à cozinha. Preparou uma xícara de café com
leite, desligou o forno e pegou um dos sanduíches e foi levar pro
Rein...

* BLAM CLONC PLIM BONG CRUNCH BEIN POC BOF CLANC CRASH PLAF CRAS

- Que barulheira, Rein!

- Oi, Fran!

- Trouxe um café pra você!

- Valeu, Fran! - disse Rein descendo da escada.

- Mas vá lavar essas mãos!

- Certo, fofinha! Você manda!

Rein dirigiu-se à pia do laboratório...

- Ainda bem que a explosão não destruiu o encanamento e nem a parte
elétrica do casarão, né, Fran!

- Já pensou como seria terrível, Rein?

- Eu imagino, Fran, mas...

- Depois conversamos, Rein... tenho que descer pra dar o café dos
Doutores!

- Vá lá, Fran!

Quando Fran chegou na copa os cientistas já a aguardavam sentados à
mesa. Fran colocou o desjejum dos dois e sentou-se ao lado deles...

- Rein já está consertando as coisas no laboratório, Doutores!

- E ele acaba o serviço ainda hoje, Fran?

- Isso eu não sei, Doutor Crazy... só sei que este capítulo acabou!

- - -

@ Capítulo III


- Agora posso responder sua pergunta, Doutor Crazy!

- Então responda, Fran!

- Não será preciso, Doutor Crazy... olha o Rein Ald aí!

- Então, Rein... acabou o serviço?

- Claro, Doutor Crazy!

- E aí?

- Está tudo nos conforme, Doutor Worst!

- Podemos subir para brinc... trabalhar?

- Claro, Doutor Crazy!

- Oba! Iuipi! - exclamaram os cientistas.

- Calminha aí, Doutores! Eu subirei com os Senhores para ver se está
tudo direitinho!

- Não confia em meu taco, Fran?

- Não! Nunca vi você jogar sinuca, Rein!

- Tá bem, Fran... pode subir pra conferir!
Tô indo ao banheiro!

- Eu vou mesmo! Vamos Doutores!

Fran Kensbeca, acompanhada pelos doutores Bad Crazy e Worst Made,
subiu ao andar superior. Rein Ald foi ao banheiro que ficava após a
cozinha. Nesse meio tempo, adentrava o casarão o Professor Lutonium,
assistente dos cientistas. Como não vira ninguém por ali, subiu ao
laboratório...

- Bom-dia, Doutores! Bom-dia, Senhorita Fran!

- Bom-dia, Professor Lutonium! - responderam os três.

- Fizeram um novo telhado?

- Foi! Ontem aconteceu uma pequena explosão por aqui! - disse Fran.

- A culpa não foi minha! - disse Doutor Worst.

- Nem minha! - falou Doutor Crazy.

- Claro que não foi de ninguém... foi da tempestade!

- Isso mesmo, Fran! O raio veio com mais energia do que a gente
esperava! Não foi, Worst?

- Foi, foi, Crazy!

- Vejo que quase toda a vidraria do laboratório já era!

- Pois é, Professor Lutonium! Estou indo com os Doutores à cidade pra
eles receberem suas aposentadorias e comprar alguns materiais!

- Tudo certo, Fran! Ficarei por aqui ajeitando algumas coisas!

- Obrigada, Professor Lutonium! Vamos descer para vestirmos algumas
roupas decentes, Doutores!

- Uauauaua! Vamos pra cidade... vamos pra cidade! - cantarolou Doutor
Worst!

- Eu quero ir no bate-bate, Fran!

- Primeiro vamos receber as aposentadorias, depois comprar o que
precisamos e aí sim, eu levo os Doutores ao parquinho, tá?

- Tá bom, Fran! - falaram os cientistas ao mesmo tempo.

_ * _

Quando Rein voltava do banheiro passou diante do quarto de Fran e, ao
ver a porta aberta, não resistiu e deu uma entradinha. O quarto era
arejado e estava cheiroso. Ele sentou-se na cama e aspirou o perfume
de Fran que impregnava o ambiente. Ficou ali sonhando acordado até que
viu, dentro da cesta de roupa suja, uma calcinha da moça. Pegou a peça
e saiu do quarto com ela na mão. Ao chegar na cozinha, percebeu que
Fran e os cientistas vinham em sua direção e iriam pegá-lo com a boca
na botija, digo, com a calcinha na mão. Abriu rapidamente o forno
microondas e jogou a calcinha lá dentro...

- Que cara é essa, Rein?

- É a minha, Fran... só tenho essa!

- Você está suando! Assustou-se com alguma coisa?

- N-não, Fran... o banheiro estava muito quente!

- Por que você não ligou o ar-condicionado?

- O quê? Tem ar-condicionado no banheiro?

- Claro, Rein... em todo lugar do casarão tem ar-condicionado!

- Mas aqui também tem aquecedor em tudo que é lugar, Fran!

- Claro, Rein... assim a gente pode controlar a temperatura em todos
os ambientes! - disse Doutor Crazy.

- Pois é, Rein! Em algumas experiências precisamos ter uma temperatura
adequada! - concluiu Doutor Worst.

- Entendeu, Rein?

- Eu não, Fran!

- Nem eu entendo, Rein, mas, amarra-se o burro conforme o dono, né?

- Eu tenho medo de cavalo, Fran!

- Calma, Doutor Worst! Eu falei burro... burro!

- Hahahahahaha! Ele tem medo até de cavalinho de carrossel, Fran!

- E você tem medo de barata, Crazy! Hahahahahaha!

- A conversa tá boa, mas temos que nos arrumar!

- Vão sair, Fran?

- Vamos ao centro comprar algumas coisas pro laboratório, Rein!

- Vocês querem uma carona, Fran? Estou indo pra cidade!

- Valeu, Rein! Pode arrumar suas coisas no carro que vou apressar os
Doutores!

- Ok, Fran!

Rein pegou sua maleta de ferramentas e dirigiu-se à garagem. Fran foi
até o quarto dos cientistas...

- Já vestiram suas roupas?

- Fran... eu posso ir com a roupa do Superblind?

- Pode, Doutor Worst!

- Então eu vou com minha roupa do Bill Blind, Fran!

- Tudo bem, Doutor Crazy!

- Por que você não vai de Lua Furada, Fran?

- Está insinuando alguma coisa, Doutor Crazy?

Não, Fran... é que ela é loirinha e pequenininha que nem você!

- Ah! Vou ao meu quarto e quando voltar quero encontrá-los prontos!

Dez minutos depois Fran retornava ao quarto dos cientistas...

- Vamos, Doutores?

- Vamos, Fran! - disseram os cientistas.

Todos entraram na "Carrocinha", apelido que Rein Ald dera à sua Rural
Willys 1957, azul e branca e meia hora depois Rein os deixava na
porta do banco...

- Doutor Worst, Doutor Crazy! Querem parar de ficar entrando e saindo
na porta giratória?

- É que é divertido, Fran! Hahahahaha!

- O segurança não acha, Doutor Crazy!

- Olhe a cara feia dele, Fran! Hahahahahaha!

- Estou vendo, Doutor Worst! Mas saiam já dessa porta! Agora!

Os cientistas, emburrados, abandonaram a brincadeira, mas ao passarem
diante do segurança, sem que Fran percebesse, mostraram a língua pro
moço...

- Vamos aproveitar que a fila tá pequena, Doutores!

- Tá pequena, Fran, porque isso aqui é ficção! Hahahahahaha!

- Essa foi boa, Crazy! Hahahahahahaha!

- Obrigado, Worst! Hahahahahaha!

- Deixem de gracinhas e fiquem aqui ao meu lado!

- Veja, Fran... tem seis caixas e só três têm funcionários pra atender
o pessoal, Fran!

- Em todas as agências bancárias é a mesma coisa, Worst!

- E isso é certo, Crazy?

- Pros donos dos bancos é normal, Worst!

- Acho melhor os Senhores deixarem essa discussão pra depois!

- Por que, Fran? - indagaram os cientistas numa só voz.

- Porque chegou a nossa vez, Doutores! Vamos!

_ * _

Cerca de uma hora depois que o povo saíra, Professor Lutonium resolveu
descer para tomar um cafezinho. Por estar com fome, decidiu fazer um
sanduíche. Pegou na geladeira o que foi encontrando, pois queria dar
um sabor especial ao mesmo e foi colocando dentro do pão de gergelim.
Como não havia suco ou refrigerante na geladeira, pegou leite de cabra
e outros líquidos que encontrou ali, fazendo uma beberagem para ajudar
a descer o estranho lanchinho. Tudo pronto, abriu o forno microondas
e jogou o sanduíche lá dentro. dois minutos depois que ligou o bicho,
este explodiu, jogando-o no quintal e melando toda a cozinha. Após
ficar uns dez minutos desacordado, voltou a si e descobriu, envoltos
em farrapos, três pequenos ovos. Percebeu que os trapos eram restos de
uma calcinha. Como todo cientista que se preza, subiu com os ovinhos
ao laboratório para examiná-los. Após alguns exames ao microscópio,
descobriu que havia vida no interior destes. Colocando-os numa estufa,
desceu e tratou de fazer uma rápida limpeza na bagunça que deixara
na cozinha. Voltou ao laboratório, pegou os ovinhos na estufa e foi
embora do casarão. Quando Fran e os cientistas chegaram, o Professor
Lutonium já não estava mais ali...

- Professor Lutonium, por favor, desça para ajudar a subir o material
que compramos! - gritou Fran.

Como não houvesse resposta, Fran mandou que os cientistas subissem com
alguns dos pacotes e subiu com outros...

- O Professor Lutonium não está aqui, Fran! - disse Doutor Worst.

- Onde será que ele se meteu, Fran?

- Eu não sei, Doutor Crazy! Talvez esteja no banheiro!

- Acho que ele quer brincar de esconde-esconde, Crazy!

- Então vamos procurá-lo, Worst!

- Quem o encontrar primeiro é o próximo a se esconder, tá?

- Certo, Worst! Vamos atrás dele!

- Parem aí! Antes de brincar, desçam para pegar os pacotes que estão
lá embaixo!

- Poxa, Fran! Você é uma estraga-prazeres!

- Isso mesmo, Worst!

- Aprendam, Doutores: primeiro a obrigação, depois a devoção!

- Isso é conversa de gente velha, Fran!

- Nada disso, Doutor Crazy! Isso é conversa de gente responsável!

- Essa gente responsável é muito chata, isso sim!

- Falou e disse, Crazy!

- Obrigado, Worst! Eu também sei falar bonito!

- Os Senhores ficaram com tanta conversa fiada que o capítulo acabou!

- - -

@ Capítulo IV


- Deixem de papo furado e desçam agora mesmo! Quero todos aqueles
pacotes aqui em cima em dez minutos! Ouviram?

- Tá bom, Fran... estamos descendo! Vamos, Crazy!

- Vamos, Worst!

Os dois cientistas, cada um sobre um corrimão, escorregaram até o
térreo...

* SCHUIPIII! SCHUIPIII!

- Iupiiii!

- Uauuuuu!

- Vocês não têm jeito mesmo!

Uma vez embaixo, os cientistas começaram a subir com os pacotes, mas
sempre desciam escorregando pelo corrimão, afinal, a brincadeira era
o mais gostoso...

- Agora que já trouxeram tudo, vamos colocar as coisas nos devidos
lugares... e sem quebrar nada, ouviram?

- Sim, generala! - disse Worst sorrindo.

- Seu desejo é uma ordem, Madame! - completou Crazy irônico.

Uma hora depois o laboratório estava arrumado e todos os equipamentos
ligados, como antes da explosão...

- Bem, Crazy, voltemos à nossa experiência!

- O gerador já está ligado, Worst!

- Então, ao trabalho, Crazy!

- Meu nome é trabalho, Worst!

Enquanto os cientistas ficavam trabalhando, Fran saiu do laboratório
decidida a preparar o jantar dos três. Ao chegar diante da escada,
desequilibrou-se e, aos tombos, desceu a escadaria...

- Epa! Uaiiiiiii!

* THIBUMK SPLOCHH THIBUMK SPLOCH THIBUMK SPLOCH THIBUMK!

Após descer as escadas rolando e se batendo nos degraus, Fran chegou ao
térreo e estatelou-se no chão, gemendo de dor...

* PLENCH SPLAFHT!

- Aiiiiiiiii! Como dói! Uiiiiiiiiii!

Ao ouvirem o barulho que Fran fizera ao rolar escada abaixo, os
cientistas acorreram aos gemidos da governanta...

- O que houve, Fran? - perguntou Worst.

- Por que está aí embaixo deitada no chão, Fran? - completou Crazy.

- Você quis descer pelo corrimão também, foi Fran? - perguntou Worst.

- D-desçam... uiiii... daí, d-doutores... aiiii... e-eu estou... uiiii
ma-machucada... aiiii! - gaguejou Fran entre gemidos.

Os dois cientistas escorregaram pelos corrimãos até onde estava Fran
caída...

* SCHUIPIII! SCHUIPIII!

- Estamos chegando, Fran! Iupiii!

- o socorro está a caminho, Fran! Uauuuuu!

- N-nem numa... aiiii... hora destas... uiiii... v-vocês deixam de...
aiiii... b-brincar... uiiii! - gemeu e gaguejou Fran.

- Ói nós aqui, Fran!

- No que podemos ajudá-la, Fran?

- Q-que tal... aiii... pegar uma... uiii... maca... aiii?

- Vamos subir de novo, Worst, pra pegar a maca!

- Vamos, Crazy! Olha a ambulância aí, gente! Uon uon uon uon uon uon!

- S-sejam... aiii... r-rápidos... uiii!

- Seremos mais velozes do que o vento, Fran!

- E mais rápidos do que o Flash ou o Superman!

- E-espero... aiiii!

Em menos de um minuto os cientistas estavam de volta com a maca...

- Vamos colocá-la na maca, Crazy!

- Mas com todo cuidado, viu Worst!

Eles colocaram Fran na maca e a amarraram a esta...

- M-me levem... aiiii... a um h-hospital... uiiii!

- Nada disso, Fran! Nós cuidaremos de Você!

- Muito bem, Crazy!

- N-nãããããão! Aiiiii... uiiiii!

Os cientistas iniciaram a subida da escada com extremo cuidado. Crazy
segurava na frente e Worst atrás, ambos mantendo a maca nivelada,
elevando-a na parte traseira...

- Fique quietinha, Fran! Cuidado, Worst, pra ela não escorregar da
maca!

- Deixe comigo, Crazy!

Após cinco minutos eles estavam no pavimento superior do casarão...

- Pronto, Worst! Vamos colocá-la sobre a bancada!

- Claro, Crazy! Preciso examiná-la direitinho!

- Eu a examino, Worst... eu tenho conhecimentos ortopédicos!

- E eu tenho conhecimentos biológicos, Crazy!

- Então a examinaremos juntos, Worst!

- Vamos tira a roupa dela, Worst!

- N-nada... aiii... disso... uiii... d-doutores... aiii!

- Que bobagem, Fran... já a vimos nua tantas vezes, não foi, Crazy!

- Muitas vezes, Worst!

- C-como... aiii... q-quando... uiii?

- Pelo buraco da fechadura, Fran! - disse Worst.

- Em seu quarto e no banheiro, Fran! - completou Crazy.

- V-vocês... aiii... são dois... uiii... sem-vergonhas... aiiii!

- Nada disso, Fran... estávamos apenas curiosos! - disse Worst.

- Como um certo autor, né, Fran! - falou Crazy sorrindo.

- N-não... aiii... sei disso... uiii!

- Porque não quer saber, né, Fran? - disse Worst a sorrir.

- C-chega de... aiii... papo... uiii... e-eu tenho... aiii... dores...
uiii... doutores... aiii!

- Vamos anestesiá-la, Worst!

- Boa idéia, Crazy! Aqui está a seringa!

- N-nããããão! E-eu quer...

- Pronto! Ela dormiu, Worst!

- Vamos tirar a roupa dela, Crazy!

- Puxa, Worst... é melhor do que olhar pelo buraco da fechadura, né?

- É mesmo, Crazy... agora não precisamos mais fazer isso!

- É... agora que a gente já sabe como é uma mulher, perdeu a graça!

- Bem, Crazy... parece que Fran só quebrou a perna e o pé esquerdo!

- Também acho, Worst... a perna direita está direitinha!

- Vamos fazer uma radiografia dessa perna e desse pé, Crazy!

- Vou pegar o aparelho portátil de raio-x, Worst!

Após radiografarem a perna e o pé de Fran, eles revelaram a chapa e
concluiram...

- A tíbia e a fíbula (nome atual do perônio) estão fraturadas, Crazy!

- E o tarso também, Worst!

- Vou pegar meu Manual de Primeiros Socorros para conhecer os ossos
do pé, Crazy!

- Boa idéia, Worst, mas não demore, senão passa o efeito da anestesia!

- Vou num pé e volto no outro, Crazy!

- Você foi ligeirinho, Worst... só demorou duas linhas!

- Foi mesmo! Deixe eu ler: "Tarso é a parte superior do pé e é formado
por vários ossos:
O astrágalo, que articula com os ossos da perna (tíbia e fíbula),
formando o tornozelo e que articula com o calcâneo, que forma o
calcanhar dos bípedes e que articula com dois ossos: o cubóide, que
articula com os dois últimos metatarsais e o navicular, que articula
com três cuneiformes que, por sua vez, articulam com os primeiros
três metatarsais.
Metatarso é a parte mediana do pé. É formado pelos cinco metatarsais,
ossos que articulam com o tarso pelas suas extremidades proximais e
com as primeiras falanges pelas extremidades distais. As falanges são
os ossos que formam os dedos das mãos e dos pés. O homem tem três,
exceto no polegar e no hálux (dedão do pé) que só têm duas.
No homem e outros bípedes, o tarso faz parte da "planta" ou "sola" do
pé, a parte que assenta no solo". Se formos...

- Já tá bom, Worst! Quem quiser saber mais que vá estudar biologia!
Vamos começar a "operação Fran"!

- - -

@ Capítulo V


- Ao trabalho, Worst! Pegue a furadeira, uma broca de nove e outra de
seis milímetros, chaves de boca treze e dez, e o alicate de corte!

Doutor Worst pegou a caixa de ferramentas e trouxe pro laboratório...

- Pronto, Crazy! Está tudo aqui!
E como vamos unir os ossos, Crazy?

- Desarme aquela "antena parabélica" que foi da Segunda Guerra Mundial
e tire os parafusos, porcas e os arames, Worst!

- É pra já, Crazy!

E Worst foi desarmar a velha antena, enquanto Crazy fazia algumas
incisões na perna e no pé de Fran. Depois, com a furadeira e a broca
de nove milímetros, fez três furos na tíbia e, com a broca de seis
milímetros, fez mais três furos: um no astrágalo, outro no calcâneo e
o último no cubóide. Assim que ele acabou a furação, Doutor Worst
chegou trazendo o material da antena...

- Que fedor terrível, Crazy!

- É o fedor do osso que foi queimado pela broca, Worst!

- Aqui estão os parafusos, as porcas e o arame, Crazy!

- Tem algum enferrujado, Worst?

- Não Crazy... são de aço inoxidável e estão novinhos!

- Coloque tudo no esterilizador biônico, Worst! Ligue o gerador de
íons refratários para evitar a corrosão. Quando a carga da solução
eletrolítica alcançar cento e cinqüenta e um amperes, você fecha o
circuito, Worst!

- Vamos precisar de uma corrente de mil volts, Crazy!

- A reação do cátodo e do ânodo quando a magnitude da tensão inverter
a polaridade, teremos a descarga no arco voltaico que precisamos!

- Vou captar a alta tensão através do pára-raios e criar um campo
elétrico de carga não linear. O conversor de freqüência nos dará uma
corrente de fuga à terra, impedindo um curto-circuito e o efeito
termiônico oriundo da ionização negativa do pólo. O fluxo da corrente
no raio catódico criará a resistividade da tensão positiva!
Entendeu, Crazy?

- Nem eu, nem os leitores dessa novelinha, Worst!

- Mas é pra eles não entenderem mesmo, Crazy! Basta pensarem que o que
eu disse faz qualquer sentido! Hahahahaha!

- Aliás, Worst, nada nessa novelinha faz sentido! Hahahahaha!

- É verdade, Crazy! Hahahahahaha!

- Bem, vamos continuar com a novelinha, Worst. Enquanto você faz tudo
isso que falou, vou colocar os parafusos na perna e no pé da Fran!

* SPREECH SPREECH SPREECH! SPRINCH SPRINCH SPRINCH! CRECK CRECK CRECK!

* TLAX TLAX BLAX! ZYMMMMPICH ZIMMMPCH ZIMMMPICH! BLOP BLOP BLOP!

- Pronto, Worst! Já coloquei os seis parafusos e a malha de arame de
antimônio na perna e no pé da Fran!

- Vou ligar os eletrodos para cauterizar os ferimentos, Crazy!

- Manda brasa, Worst!

- É um, é dois, é três, é quatro, é...

- Cheeeeeega, Worst! Ligue logo essa droga!

- Ninguém tem paciência comigo!

- Liga essa merda, Worst!

- Tá bom, tá bom! Ligandóóóóó!

* CLICK! TRIXCHZWM! BIZZZZZZZZZ! TECHT! FRUMMMMMMM!

Dois minutos depois...

- Veja, Worst... criamos um arco voltaico na cabeça dela e tá soltando
centelhas elétricas!

- Será que torrou o cérebro dela, Crazy?

- Que nada, Worst... Fran tem a cabeça dura! Hahahahahahahah!

- Olhe, Crazy... os mamilos dela estão pegando fogo! e a...

- Cale-se, Worst... vá pegar o extintor!

- Já estava aqui, Crazy! Sai de baixo!

* FUNCHFUNCHFUNCHFUNCHFUNCHFUNCHFUNCH! SPRACHUM!

- Bom trabalho, Worst!

- Obrigado, Crazy!

- Agora é só esperar o efeito da anestesia passar, Worst!

- Eu não quero estar perto, Crazy!

- Não se preocupe, Worst! Fizemos um belo trabalho!

- Espero que ela pense o mesmo, Crazy!

- Enquanto ela não acorda, vamos jogar o jogo da velha, Worst?

- Vamos, Crazy! Desenhe o tabuleiro na barriga da Fran, assim, quando
ela acordar, a gente tá por perto!

- Boa idéia, Worst! Vou desenhar o tabuleiro com iodo!

- Vamos usar as pedras da dama... eu fico com as brancas!

- Pronto, Worst! Você começa!

E assim, por cerca de uma hora os cientistas jogaram o jogo da velha
sobre a barriga de Fran, até que...

- Que zorra é essa? - disse Fran sentando-se na bancada.

- Poxa, Fran... na hora que eu ia ganhar o jogo?

- E desde quando minha barriga é tabuleiro de jogo, Doutor Crazy?

- Desde que eu pintei um nela, Fran! Tem mais ou menos uma hora!

- E por que eu estou nua?

- Porque nós tiramos sua roupa, Fran!

- E posso saber pra que vocês tiraram minha roupa, Doutor Worst?

- Para operá-la, Fran!

- O quê? Que ferros são esses em minha perna e no meu pé?

- Não fui eu, Fran... foi o Crazy!

- Mas você ajudou, Worst!

- Só um pouquinho, Fran... só um pouquinho!

- Depois eu acerto as contas com vocês! Me dê minhas roupas, Doutor
Worst!

- Pode ficar assim, Fran... é melhor que não sua!

- Me dê logo essa calcinha, Doutor Crazy!

- Tá bem, Fran... mas não se zangue!

- Tome aqui o resto, Fran!

- Obrigada, Doutor Worst! Olhem pro outro lado, Doutores!

- Agora isso não importa, Fran!

- É mesmo, Crazy... a gente já viu ela nua!

- Não quero saber! Virem de costas!

Fran vestiu a blusa, a calcinha e a saia, mas ao dar um impulso no
corpo para levantar-se...

- Uaiiiii!

- Ih, Crazy... Fran tá voando! Hahahahaha!

- Fran, desça aqui!

- Não sei como, Doutor Crazy!

- Pegue essa corda que eu a puxo, Fran!

- Segurei, Doutor Crazy! Pode puxar!

Com a ajuda do cientista Fran "pousou" no chão...

- Não pise no chão com a perna esquerda, Fran!

- Certo, Doutor Crazy! O que aconteceu? por que voei?

- Ainda não sabemos, Fran! Acho que a operação afetou seu cérebro!

- Como assim, Doutor Worst?

- Seu cérebro ficou disparando centelhas elétricas, Fran!

- E seus mamilos e a... bichinha pegou fogo, Fran!

- Que loucura é essa, Doutores?

- Pergunte ao autor dessa novelinha, Fran!

- A gente não tem nada com isso, Fran!

- Se eu pegar esse autorzinho, eu...

Autor - Você faria o quê, Fran?

- Eu, eu...

- Deixe de ingratidão... eu lhe dou superpoderes e você ainda reclama?

- - -

@ Capítulo VI


A discussão entre Fran Kensbeca e o autor dessa novelinha continua...

- Você quer que eu fique satisfeita com o que você fez comigo, seu
autorzinho de meia tigela?

- Eu não fiz nada que um outro autor de folhetim não faria, Fran!

- Como não? Você me colocou nua diante desses adoráveis, mas ingênuos
cientistas!

- Ingênuos, Fran? Você já leu o capítulo anterior?

- Eu não li nada... e não pretendo ler porcaria alguma!

- Pois deveria! Assim saberia que seus adoráveis e ingênuos cientistas
já a viram por várias vezes como veio ao mundo!

- Como assim? Não acredito em você!

- Não acredita porque quer fazer vista grossa, Fran!

- Pare de falar besteiras e me conte logo o que sabe!

- Acho melhor, quando você entrar no banheiro, colocar um tampão no
buraco da fechadura! Hahahahahaha!

- Você tá insinuando que os doutores ficam me olhando pelo buraco da
fechadura?

- Acertou, Fran! E tampe a do quarto também, viu mocinha?

- O quê? Não acredito! Eles são tão infantis!

- Eu sei, Fran... eu os criei! Mas quem resiste a um corpinho desses,
Fran? E que seios lindos você tem, Fran!

- Você é um autor muito descarado... e seus personagens também!

- Eles não fizeram nada que eu não faria, Fran! Hahahahaha!

- Você ainda ri, seu sem-vergonha?

- E por que eu choraria, Fran? O que é belo é pra ser apreciado!

- Não quero mais conversa com você, entendeu?

- Poxa, Franzinha... que maldade!
Depois de tudo que fiz por você?

- O que você fez por mim? Botar fogo nos meus mamilos e na minha...
baratinha?

- Ora, Fran... se cru já é uma delícia, imagine assada? Hahahahahaha!

- Além de insolente, é metido a engraçadinho!

- Obrigado, Fran! Meu lado palhaço agradece o elogio! Hahahahahaha!

- Você deveria lembrar que uma criança pode ler essa novelinha!

- Ora, Fran... se duvidar, as crianças de hoje sabem muito mais do que
nós dois! Elas assistem a Globo, gostosa!

- Quer saber de uma coisa? Fui!

- Fique mais um pouco, Fran! Essa conversa está tão... excitante!

- Cego depravado! Acabou o papo!

- Só Mais uma coisinha, Fran: quando você olhar alguma coisa, dê uma
apertadinha nos olhos!

- Por que isso agora?

- Nada não... apenas faça isso! Hahahahahahaha!

- Fui, seu sem graça!

Fran, rangendo os dentes de raiva, se mandou...

- Que pena... eu tinha tanta coisa pra dizer a ela! Hahahahahaha!

_ * _

Fran foi até o outro lado do laboratório e, ao ver os cientistas,
apertou os olhos...

- Rapazes? Que diabo estão fazendo nus?

- A gente não tá nu, Fran!

- É mesmo, Crazy! Agora vocês estão vestidos!

- O que houve, Fran?

- Nada não, Worst! Apenas imaginei coisas!

Fran achou interessante ficar calada sobre esse "poder"...

Fran (Pensando) - Foi isso que aquele autorzinho quis dizer! Eu agora
tenho visão de raio-X, além de voar e ter superforça!
(Falando) - E agora, doutores? O que estará acontecendo comigo?

- Queremos submetê-la a um eletroencefalograma, Fran!

- Para que, Crazy?

- Para saber a quantas anda seu cérebro, Fran!

- Mas eu me sinto muito bem, Worst!

- Pra princípio de conversa, Fran, seus cabelos, que eram loiros,
ficaram pretos!

- E todos os outros pelinhos do corpo também, Crazy! Hahahahaha!

- Como? Deixe eu pegar um espelho!

- Mas você continua bonita, Fran! Né, Crazy?

- Como sempre foi, né, Worst!

- Obrigada, rapazes!

Fran pegou um espelho e ficou se olhando por alguns segundos...

- Não é que vocês têm razão? Eu não sou mais loira!

- Nós sempre temos razão, Fran, quando se trata de elogiá-la!

- Falou e disse, Worst!

- Vocês são uns amores, rapazes! Vamos logo fazer este exame! Preciso
saber se está tudo bem comi...

* CRAS!

- Oh! Quebrei o espelho!

- Xiiii, Fran! Você terá sete anos de azar!

- Isso é superstição, Crazy!

- M-mas eu não apertei o espelho tanto assim, doutores!

- Tá pensando o que eu tô pensando, Crazy?

- Acho que tô, Worst!

- O que vocês estão pensando? Que eu sou desastrada?

- Não, Fran! Acho que você...

- Diga logo, Worst!

- Acho que você adquiriu alguns superpoderes, Fran!

- Como pode ser isto, Crazy?

- Na ficção pode tudo, Fran... por mais inverossímil que pareça!

- Você disse tudo, Crazy!

- Obrigado, Worst... é só ler qualquer novelinha desse autor aqui que
teremos certeza disso! Hahahahahaha!

- É mesmo, Crazy! Esse cara escreve cada bobagem! Hahahahahahaha!

- Acho que ele não teve infância, Worst! Hahahahaha!

- E se teve, Crazy, deve ter feito miserinhas! Hahahahaha!

- É por isso que ele não escreve suas memórias, Worst! Hahahahahahaha!

- Também acho, Crazy! Hahahahahahaha!

- Ei! Vocês podem me dar um pouco de atenção?

- Diga, Fran! - Falaram os dois cientistas ao mesmo tempo.

- E agora, rapazes? O que faremos?

- Você, eu não sei, Fran, mas eu vou descer pra jantar!

- Eu vou com você, Worst!

- Calminha aí! Esqueceram que ainda não fiz o jantar?

- E agora, Fran? Tô com fominha!

- Eu também, Crazy!

- Ninguém aqui vai dormir sem comer alguma coisa! Nem que seja uma...
sopa de miojo!

- Oba! Fran vai fazer o jantar pra nós!

- Nada disso, Worst... eu vou pedir alguns pastéis na barraca do Seu
Rho Drigg!

- Oba! Eu quero de quatro queijos, Fran!

- Uau! E eu quero de filé au proivre, Fran!

E todos desceram para "jantar"...

_ * _

Depois que os pastéis chegaram...

- Eu quero três, Fran!

- Esse Crazy é guloso, né, Fran?

- Sem discussão! Cada um ganhará dois pastéis e pronto!

- Poxa, Fran! Só doiszinhos?

- Você sabe que esses pastéis são grandes, Crazy!

- Mas minha fome é maior do que dois deles, Fran!

- Sim, morte gulosa! Mas vai comer apenas dois, Crazy! Tome!
Tome aqui os seus, Worst!

- Obrigado, Fran! Mesmo que eu não encha minha barriga, eu não vou
reclamar, viu Fran?

- Certo, Worst! Você é um bom garoto! Tomem aqui os sucos!

E após comerem o lanche...

- Bem, doutores... quando farei os exames?

- Amanhã, Fran! já está muito tarde e estamos com soninho!

- Vão pro quarto que eu levo os ursinhos de pelúcia de vocês!

- - -

@ Capítulo VII


O dia amanheceu bonito. Fran, como sempre, acordou por volta das sete
horas e preparava o desjejum dos cientistas...

- Péssima hora para acabar o gás! Vou acordar Worst para trocar o
bujão! Pera aí! Se eu consigo ver através das coisas, é possível que
eu possa esquentar as coisas apenas com o olhar... pelo menos o
Superman faz isso! Hihihihihi!

E Fran colocou um pouco de água numa chaleira e concentrou seu olhar
sobre esta...

* FISSSSSSSSSSSSSS!

Um feixe invisível de luz atingiu a chaleira e em questão de segundos
a água fervia...

- Que maravilha! Vou economizar uma grana de gás! Deixa eu coar este
café, depois vou testar meus poderes de superfran! Hihihihihi!

Fran fez café, suco, preparou alguns sanduíches e colocou sobre a mesa
da copa. Comeu um sanduíche, um brioche, alguns biscoitos, tomou um
copo de "leitecau" (leite com chocolate) e após escovar os dentes foi
até o quintal do casarão. Ali encontrou alguns tubos de ferro e pegou
um deles...

* SCREEEEENCH!

Fran entortou o tubo galvanizado sem qualquer dificuldade. Ela pegou
mais um...

* SCREEEEENCH!

Após entortar o segundo tubo Fran comprovou sua superforça. Então ela
quis testar sua visão de raio-x olhando através de um velho sofá...

* FISSSSSSSSSSSSSS!

E o sofá pegou fogo. Fran correu, pegou a mangueira de regar a horta,
abriu a torneira e apagou o princípio de incêndio...

- Com o Superman isso não aconteceria! Preciso aprender a controlar
minha visão de raio-x! Agora tentarei voar. Vou até o telhado do
casarão!

Fran levantou os braços, deu um pulo...

* ZUUUUUUM! TUMP!

E esborrachou-se contra a quina do telhado...

- Caramba! Nem doeu! Preciso treinar mais!

E Fran realizou alguns vôos rasantes, sobrevoou umas árvores do seu
quintal, o telhado do casarão, umas montanhas próximas e depois foi
até as nuvens, voltando ao quintal...

* ZUUUUUUM! VUUUH! ZUUUUUUUM! VUUUUUUUUH!

- Acho que aprendi a controlar meu vôo! Resta saber se meu corpo é
indestrutível que nem o do Superman!

Fran foi até o quarto de bagulhos, pegou uma furadeira na caixa de
ferramentas e, colocando uma broca na máquina, ligou a bicha na tomada
e tentou furar sua perna...

* VRUUUUUUUM! SCRASH!

Após alguns segundos a máquina começou a enfumaçar, a broca avermelhou
e partiu-se...

- Uau! Virei uma superwoman! Hihihihihi!
Será que devo contar aos doutores essa minha descoberta?
Vou pensar nisso!

Fran resolveu guardar a máquina e entrar em casa para acordar os
cientistas. Ao sair do quarto de bagulhos, viu um retalho de tecido por
trás da máquina de lavar...

- Preciso varrer com mais atenção este pátio!

Fran abaixou-se para pegar o trapo e jogá-lo no lixo, mas notou que
havia mais alguns pedaços de pano e...

- Que coisa estranha é essa entre estes trapos?

Fran examinou seu achado ...

- Parece um ovo de passarinho! Será que alguma ave achou de fazer seu
ninho ali? Que estranho!

Com o pequeno ovo na mão, Fran entrou na cozinha, pôs o ovo sobre a
geladeira, bebeu um pouco de água e foi acordar os cientistas...

- Vamos levantar, dorminhocos! Bom-dia!

- Ah, Fran... eu quero dormir mais um pouquinho!

- Nada disso, Worst! Vamos levantando! Acorda, Crazy!

- Mas ainda é madrugada, Fran!

- Madrugada pra quem é preguiçoso! Levante-se!

- Poxa! Todo capítulo é a mesma coisa!

- Olhe, Fran... Crazy disse, "poxa"!

- E o que tem demais em dizer-se, "poxa", Worst?

- Tem sim, Fran! Na verdade, Crazy queria dizer por...

- Não diga isso, Worst!

- Mas eu não disse, Fran... você não deixou eu completar a palavra!

- E era pra deixar, era, Worst?

- Mas, Fran...

- Nada de "mas"... levantem-se! Aqui estão suas roupas! Vistam-se e
vão lavar o rosto! Dentro de dez minutos quero ver os dois na copa!

Fran saiu do quarto e voltou à cozinha. Os dois cientistas, de caras
amarradas, levantaram-se e dirigiram-se ao banheiro...

- Deixe-me arranjar um lugar quentinho para esse ovo!
Já sei! Vou colocá-lo na estufa do laboratório!

Fran subiu as escadas, foi até o laboratório, ligou a estufa no mínimo,
colocou o ovo dentro desta e desceu para a cozinha...

- Venham comer, rapazes!

Logo os dois cientistas faziam a primeira refeição do dia...

- E hoje, Worst... sonhou com o quê?

- Eu não lembro, Fran... só lembro de estar num parque de diversão
brincando no carrossel!

- E você, Crazy?

- Eu sonhei que estava num aniversário e tinha muitos doces... e eu
comia tudo sozinho!

- Crazy é um morte gulosa, né, Fran!

- Mas você também tava na festa, Worst!

- E eu também comia tudo, Crazy!

- Não, Worst... eu não lhe dei nem um docinho! Hahahahaha!

- Tá vendo, Fran? Crazy não me deu nem um docinho do aniversário!

- Foi só um sonho, Worst... mas eu lhe dou um docinho, tá?

- Então tá, Fran!

Fran foi até a geladeira, pegou alguns brigadeiros que fizera no dia
anterior e os levou pra mesa...

- Aqui estão uns brigadeiros, mas antes que briguem, são pros dois, tá?

- Oba! Vou comer tudo!

- Olha aí, Fran... o Crazy quer comer tudo! E eu?

- Ele está só brincando, Worst! Né mesmo, Crazy?

- Claro, Fran... é só pra abusar Worst! Hahahahaha!

- Eu não disse, Worst?

- Fran... Franzinha... você me dá um cavalo?

- O quê? Um cavalo? Um cavalo de verdade?

- É, Fran!

- E quem vai cuidar dele?

- Do cavalo ou do Worst, Crazy?

- Dos dois, Fran! Hahahahaha!

- Olha aí, Fran... o Crazy me chamou de cavalo!

- Ele está brincando, Worst... não é, Crazy?

- É, Fran! Posso pegar mais um brigadeiro, Fran?

- Pode, Crazy!

- Eu tenho uma coisinha pra contar a vocês!

- É fofoca, Fran? Adoro uma fofoquinha!

- Não é fofoca, Crazy!

- E o que é, Fran?

- Eu achei um ovo de passarinho lá no quintal e...

- Eu posso chocar ele, Fran?

- Worst virou galinha... Worst virou galinha! Hahahahaha!

- Olha aí, Fran... o Crazy tá me chamando de galinha!

- Não, Worst, você não poderá chocar o ovo porque já o coloquei na
estufa do laboratório!

- Então amanhã nasce o passarinho, Fran?

- Isso eu não sei, Worst!

- Não deve demorar, Fran... a estufa é melhor do que uma chocadeira!

- Isso veremos depois, Crazy!

- Eu posso cuidar do filhote, Fran?

- Pode, Worst, pode!

- Legal, Fran!

- Tenho uma coisinha pra mostrar a vocês!

- O que é, Fran?

- Calma, Crazy... venham comigo até o quintal!

E os três foram até o quintal...

- Sentem-se aí nesse sofá!

- Mas tá todo molhado, Fran!

- E tá um pouco queimado também, Worst!

- Eu esqueci, rapazes... sentem-se na escada da cozinha!

E os cientistas sentaram-se num dos degraus que desce da cozinha para o
pátio. Fran, diante deles, pegou uma barra de ferro e a entortou...

* SCREEEEENCH!

- Caramba, Fran! Que truque legal!

- Não é truque, Worst! Veja o que faço com este aqui!

* SCREEEEENCH! STROMBPC!

Fran, além de entortar o tubo galvanizado, ainda fez um xis com ele...

- Uau! Você é forte, hein, Fran?

- Eu sei, Crazy! E tem mais!

Fran pegou um velho caixote perto do sofá e...

* FISSSSSSSSSSSSSS!

- O caixote pegou fogo sozinho!

- Nada disso, Crazy... fui eu quem o fez queimar-se!

- Como assim, Franzinha?

- Com minha visão de raio-x!

- Que nem o Superman, Fran?

- Isso mesmo, Worst! Agora vejam isso!

Fran voou até as árvores, ao telhado e quase até as nuvens e desceu
suavemente, pousando diante dos cientistas que, admirados, sorriam com
as proezas de Fran...

- Que maravilha, Fran!

- Posso voar com você, Fran?

- Claro, Worst!

- Eu também quero, Fran!


Abraçando um cientista de cada lado, Fran alçou vôo e sobrevoou o
casarão, algumas árvores e, após uns três minutos, pousou com eles no
quintal...

* ZUUUUUUM! VUUUH! ZUUUUUUUM! VUUUUUUUUH! PUCH!

- Continua... -