Capítulo VII
Não demorou muito e a carruagem do rei aproximava-se do local em que
eles estavam. Danyl, atento, assim que a carruagem chegou pertinho,
correu em direção a esta, acenando com os braços e gritando:
- Socorro, socorro! Meu Amo, o Marquês de Racabás foi atacado por
bandidos do Comando Laranja e jogado no rio! Ele pode se afogar!
Salvem-no!
O rei reconheceu o gato e ordenou ao cocheiro que parasse a carruagem
e aos guardas que fossem ajudar o Marquês de Racabás. Os guardas
seguiram o gato até o rio e retiraram Iul de dentro da água...
- Leve essas roupas para que ele se apresente dignamente! - ordenou o
Rei Udib a um dos seus lacaios.
Por coincidência, as roupas que o lacaio levou ficaram muito bem no
"Marquês de Racabás". Agora composto, Iul, guiado por Danyl que lhe
disse que a brincadeira começara, apresentou-se diante do rei...
- Muito grato, Majestade! - disse Iul fazendo um salamaleque.
- Eu é que aproveito a oportunidade para agradecer-lhe os numerosos
presentes que recebi em seu nome, nobre Marquês de Racabás!
- Nada demais, Majestade... apenas quis demonstrar-lhe meu respeito e
amizade!
- Gostaria de apresentar-lhe minha filha, Senhor Marquês! Desça aqui,
Asoief!
Quando a princesa desceu da carruagem Danyl viu que a moça, embora
tivesse um corpinho de violão, era feia pra cacete...
- Caramba! Que princesa feia! - pensou Danyl.
Assim que a princesa chegou perto de Iul percebeu que ele era cego...
- O marquês é cego, Papai!
- O quê? Oh, coitadinho! - disse o monarca com tristeza.
- Majestade, eu sou apenas cego! O cego é capaz de fazer quase tudo
que uma pessoa que enxerga faz, embora os governantes não respeitem
os direitos do cidadão portador de qualquer deficiência!
- Isso é verdade, Marquês! Desculpe-me, não quis ser deseducado!
- Tudo bem, Majestade! A maioria das pessoas pensa isso do cego!
- Gostaria de convidá-lo para almoçar conosco! O Senhor nos daria a
honra da sua presença?
- Será um prazer, Majestade, privar da companhia de pessoas tão
especiais!
- Então vamos! Filha, ajude o Marquês a subir na carruagem!
- Venha comigo, Marquês! - disse a princesa segurando Iul pela mão.
Todos entraram na carruagem que partiu em direção ao castelo do Rei
Udib, à exceção de Danyl que, embora convidado, decidiu ficar para dar
continuidade ao plano que bolara. Assim que a carruagem desapareceu na
curva da estrada, o gato foi pegar as roupas que escondera e levou pra
cabana de Iul.
- * -
No trajeto para o castelo, Asoief conversou animadamente com Iul e
ficou tão encantada com a conversa e o charme do jovem "marquês" que
disse-lhe que, se ele a ajudasse, ela criaria uma "ONG" para auxiliar
os cegos das terras de seu pai. Iul achou interessante a proposta da
princesa e prometeu colaborar. Asoief ficou maravilhada e sorria com
todos os dentes alvos e alinhados. O Rei Udib, ao notar o entusiasmo
da filha, acreditou que dessa vez a princesa sairia do barricão.
Quando chegaram ao castelo, Asoief conduziu Iul ao salão de refeições
e ofereceu-lhe uma bebida para abrir o apetite...
- Gostaria de beber algo, Iul? - perguntou a princesa com intimidade.
- O que vocês bebem por aqui, Asoief? - perguntou Iul, já gostando do
jeitinho dengoso da moça.
- Temos batida de todo tipo,
caldo de cana, aluá.
Cerveja, chopp, quentão
e cachaça do Pará.
Suco de todas as frutas,
vinho, rum e guaraná!
- Hei, Asoief, eu conheço esses versos! São dum cordel do Blind Joker!
- Isso mesmo, Iul... sou fissurada em tudo que ele escreve!
- Eu também, Asoief! Tenho quase tudo que ele escreveu até hoje!
- Eu também, Iul! Agora mesmo estou lendo "Madame Mínima, a bruxinha
baixinha" e "A História do Danyl"!
- Eu também, Asoief! Acho esse cara o máximo!
- Eu também, Iul! Ele é atualmente uma das maiores expressões da
Literatura Universal! Também já li todas suas poesias!
- Eu também, Asoief! Também li algumas coisas da Rebeca Serra, do
Danilo Santana e do Cisco Devair muito boas!
- Eu também, Iul! Acho que temos muita coisa em comum, Iul, além do
fato de sermos personagens do Blind Joker!
- Eu também acho, Asoief!
- Você também, o quê, Iul?
- Eu também acho que falamos "também" demais nesse capítulo, Asoief!
- Eu também acho, Iul! E também acho que, com isso, o capítulo acabou!
- Eu também acho, Asoief! E acho Também que devemos tratar de comer!
Estou varado de fome!
- Eu também, Iul! Então acabe essa cerveja para irmos almoçar!
E eu também acho melhor acabar esse capítulo pra parar com tanto
"também"! Isso pode dar nos nervos do leitor! Rê rê rê!
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário