sexta-feira, 9 de março de 2018

A história de Danyl - Partes 8, 9 e 10.

A história de Danyl.
(Partes 8, 9 e 10).


@ Parte VIII


Após aquele papo tão "cultural", Asoief levou Iul até uma das varandas
do castelo...

- Sabe, Iul, daqui tenho uma vista maravilhosa: embaixo fica parte do
Jardim Real que, internamente, cerca todo o castelo. Papai adora e
respeita a natureza. À sua esquerda tem o Pomar Real, com todas as
espécies de árvores frutíferas que se conhece; à sua direita fica a
horta real, com todos os tipos de hortaliças conhecidas; próximo a
esta, estão o Aviário Real, a Estrebaria Real, o Chiqueiro Real e o
Canil real; À sua frente descortina-se uma paisagem indescritível...
tem a imensa Floresta Real, habitat de pássaros e animais silvestres
que termina na linda cadeia das Montanhas Reais. Pela manhã, até o
meio-dia, os píncaros das montanhas ficam encobertos por um espesso
nevoeiro, dando-nos a impressão de um lindo Cartão Postal Real!

- Você descreveu a paisagem tão bem que consigo imaginar a beleza do
lugar! Não tem nada a ver, mas eu me lembrei, Asoief... como vocês
conseguem gelar a cerveja?

- O Gelo Real vem do cume das Montanhas Reais e é conservado nos
Barris Reais de Carvalho Real!

- Humm!

- Humm, o quê, Iul?

- Nada! Entendi!

- Vamos sentar aqui na Varanda Real para sentirmos um pouco essa
Brisa Real, Iul!

- Antes gostaria que você me levasse ao Sanitário Real! Essa Cerveja
Real está querendo sair por uma torneira real!

- Claro, Iul! Agora mesmo! Vamos ao meu quarto!

- Sou todo seu, Asoief! - disse Iul já pensando bobagem.

Asoief conduziu Iul até sua Suite Real e mostrou-lhe onde ficava o
Vaso Sanitário Real. Iul fez seu pipizinho e saiu do banheiro. Asoief
o fez sentar-se em sua Cama Real. Iul sentou-se na beirada da cama ao
lado da princesa que, aproveitou-se por estar próxima ao moço para
fazer-lhe um Cafunézinho Real. Por pouco Iul não dormiu. Minutos
depois um Lacaio Real veio chama-los para o almoço. Asoief, segurando
a mão de Iul, o levou até onde estava servido o Repasto Real e o
fez sentar-se à uma das cabeceiras da Mesa Real, sentando-se ao lado
dele, enquanto o Rei Udib sentava-se na outra cabeceira...

- Bom apetite, Marquês!

- Obrigado, Majestade!

- Creio que minha filha terá prazer em preparar sua refeição, Marquês!

- Não tenha dúvida, Papai! - disse a moça com um brilho no olhar.

- Obrigado, Asoief!

- O que você quer comer, Iul? - perguntou carinhosamente Asoief.

- O que posso escolher, Asoief? - perguntou Iul educadamente.

- Temos arroz-doce e canjica,
paçoquinha, mungunzá.
Pão-de-queijo, caruru,
torresmo e vatapá.
Bolo de puba, aipim,
tucupi e tacacá!

Também churrasco gaúcho,
muita moqueca nortista.
Até tutu-à-mineira,
e o virado paulista.
Feijoada carioca,
amendoim, salsicha mista!

Pé-de-moleque, sequilho,
brigadeiro e rosquinha.
Pastel, jujuba, empada,
milho, quibe, queijadinha.
Sanduíche de presunto,
olho-de-sogra, coxinha!

Tem também algumas frutas,
melancia e jamelão.
Cupuaçu e laranja,
caju, uva e mamão.
Banana, manga, ameixa,
abacaxi e melão!

- Conheço esses versos também, Asoief, mas devo dizer que O cardápio
está bem variado e parece apetitoso!

- Claro que está, Iul! E os versos são do mesmo cordel do Blind Joker!

Realmente aquele repasto foi digno de um rei e à altura de um nobre
Marquês... mesmo que de mentirinha!
A mesa, repleta de iguarias, além de dar água na boca, encheria os
olhos de quem enxergasse e apreciasse uma boa refeição. Nas terrinas
e vasilhames havia "de um quase tudo". Após o almoço, arrotos de
satisfação, bucho cheio e falta de educação para a nossa cultura
tupiniquim, Asoief levou Iul mais uma vez para a varanda. Conversaram
até a noite cair, quando Iul disse que estava na hora de voltar pra
casa. Tristonha e com os olhos marejados, Asoief, da janela do seu
quarto, viu a carruagem que o rei mandara levar Iul, partir...

- * -

Na manhã seguinte, enquanto Iul fazia seu desjejum, Danyl prosseguia
com seu plano de torná-lo um nobre de posses aos olhos do rei e da sua
filha. Saiu andando pelos campos que se estendiam a perder de vista ao
longo do caminho que a carruagem real costumava percorrer durante o
passeio diário do rei e da princesa. Ao encontrar o primeiro grupo
de lavradores, o gato lhes disse ameaçador:

- O rei logo vai passar por aqui. Se ele perguntar a quem pertencem
estas terras, respondam-lhe que pertencem ao Marquês de Racabás, se
não quiserem virar comida de gato!

Os camponeses, amedrontados por pensarem que o gato era o Ogro Torgo,
obedeceram a Danyl...

- A quem pertencem estas terras, Senhores? - perguntou o rei aos
camponeses.

- São terras do Marquês de Racabás, Majestade!

O rei ficou impressionado com os muitos bens que o amável e educado
marquês possuía, pois, durante o passeio percorreu muitas terras e, em
todas, ouvia a mesma resposta à sua pergunta:

- A quem pertencem estas terras, Senhores?

- São terras do Marquês de Racabás, Majestade!

O soberano pensou que jamais encontraria melhor partido para sua
filha. O Marquês de Racabás, além de ser um nobre rico, era cego e,
assim, não se importaria com o fato da princesa ser feiosa. Também por
perceber os olhares que a filha dedicava ao jovem Iul, compreendeu que
ela já o amava...

- * -

Após andar por algumas horas, Danyl chegou ao castelo do Ogro Torgo,
verdadeiro dono daquelas terras e "Amo e Senhor" dos camponeses que
ele ameaçara pelo caminho. Bateu forte no portão e aguardou ser
atendido. Lá dentro, uma voz de trovão fez-se ouvir:

- Quem me importuna a essa hora?

- É Danyl, em nome do Marquês de Racabás!

O malvado Ogro Torgo veio pessoalmente abrir o portão e Danyl viu-se
diante de um gigante horroroso ...

- És tu quem se atreve a ameaçar os meus campesinos! - rugiu o ogro.

- Si-sim... po-porém foi só por cu-curiosidade! - gaguejou o gato.

- Curiosidade? Sobre o que você está curioso, seu gato atrevido?

- É-é ver-verdade que você po-pode transformar-se em qual-qualquer
cri-criatura? - perguntou Danyl, tremendo que nem vara verde.

- Sim... quer ver, gatinho? - respondeu o monstro já se transformando
num enorme leão que rugiu ameaçador.

Danyl, assustado, correu e escondeu-se sob um grande móvel. Do seu
esconderijo, provocou o Ogro Torgo:

- Mas virar leão para um gigante, deve ser fácil! Quero ver você virar
um bichinho menor do que eu, por exemplo!

Como da vez anterior, antes que Danyl terminasse a frase o gigante
transformou-se numa pequenina perereca. Saindo rapidamente do seu
esconderijo, Danyl saltou sobre a perereca e a engoliu. E esse foi o
fim das malvadezas do gigante Ogro Torgo... e o fim deste capítulo!

- - -

@ Parte IX


Alguns serviçais do terrível e malvado gigante Ogro Torgo presenciaram
os últimos minutos de vida do seu maligno Amo. Ao vê-lo ser comido por
Danyl, explodiram em gritos e palmas de alegria...

- UUUUU PLAC PLAC PLAC HURRA UUUUU PLAC PLAC PLAC HURRA UUUUU VIVA!

Danyl fez uma reverência de agradecimento pelo entusiasmo daquela
gente humilde que sofrera o pão que o diabo amassou nas mãos do tirano
Ogro Torgo e, subindo numa mesa, discursou:

- A partir de hoje vocês servirão ao Marquês de Racabás! Terão um
salário digno, direito à moradia, educação, assistência médica e à
aposentadoria por tempo de serviço!

- UUUUU PLAC PLAC PLAC HURRA UUUUU PLAC PLAC PLAC HURRA UUUUU VIVA!

- Obrigado, Senhoras e Senhores! Agora vamos pegar no batente para
pôr este castelo nos trinques e torná-lo habitável para seu novo Amo
e Senhor! Vamos pintar tudo, limpar, arrumar, trocar roupas de cama,
abrir todas as janelas para arejar o lugar e colocar flores e plantas
em todos os cantos, móveis e mesas!

- Não se preocupe, Senhor Gato... em menos de três linhas este castelo
estará mais limpo do que o bolso do autor dessa novelinha! - disse, em
nome dos demais, um senhor com cara de gente boa.

Dito e feito. O castelo ficou uma belezura... e nem precisou contratar
arquitetos ou decoradoras. Quando a Carruagem Real passou em frente
ao castelo, agora com aspecto de coisa nova e cuidada, o Rei Udib
perguntou a um dos homens que, cantando e sorrindo, cuidavam do jardim
que circundava todo o fosso do castelo:

- Senhor, a quem pertence este belo castelo que nunca vi antes?

- Ao Marquês de Racabás, Majestade! - respondeu o jardineiro.

Ao ver que a carruagem do Rei Udib parara, Danyl foi ao encontro desta
e convidou o rei e sua filha a entrarem...

- Será uma honra para meu Amo, o Marquês de Racabás, a visita de
Vossa Majestade e da Princesa ao seu castelo, embora ele não esteja em
casa no momento!

- Vosso Amo, o Marquês de Racabás, é muito simpático e um bom papo,
mas declinarei do convite pois logo a noite chegará! Dê-lhe meus
sinceros cumprimentos e diga-lhe que minha filha folgaria em vê-lo uma
outra vez!

- O recado será transmitido na íntegra, Majestade!

- Então até uma outra oportunidade, Senhor...

- Meu nome é Danyl, Majestade!

- Então, Senhor Danyl, nos veremos em qualquer linha dessa novelinha!

- Se for vontade do autor, certamente, Majestade!

A Carruagem Real partiu em direção ao castelo do Rei Udib. Danyl,
enquanto esta estivera parada diante do agora castelo do Marquês de
Racabás, observara que a Princesa Asoief olhava tudo à sua volta como
se procurasse alguma coisa ou alguém... e ele sabia a quem seus olhos
buscavam!
Sem perda de tempo, Danyl mandou que preparassem uma carruagem para ir
buscar Iul na sua cabana em Argen, uma das florestas de Satobedotag.
Assim que chegou, contou sua proeza ao amigo e ambos sorriram a valer.
Foi difícil para Danyl convencer Iul a deixar a cabana e ir morar no
castelo que ele conquistara para seu amigo, mas, quando o gato falou
dos olhares que percebera na Princesa Asoief quando esteve em frente
ao castelo que pensava ser do Marquês de Racabás, Iul não pestanejou
e rapidinho arrumou suas poucas coisas e entrou na carruagem, sem
esquecer de dizer ao amigo gato que esta cabana continuaria sendo seu
refúgio. Danyl concordou com o amigo, mas disse-lhe que a Princesa
Asoief estava acostumada ao conforto que seu pai, o Rei Udib, lhe
proporcionava. Nessa noite os amigos conversaram bastante e, no dia
seguinte acordaram quase às onze horas. Iul, conduzido pelo amigo,
conheceu todas as dependências do castelo e aos serviçais. A educação
refinada do rapaz conquistou a todos. O castelo, agora reformado e
limpo, exalava um perfume agradável. As flores e plantas dos vasos
ornamentais davam um toque especial ao ambiente. Durante o almoço, Iul
confessou ao amigo seu amor pela princesa e decidiu que a pediria em
casamento. Danyl gostou da idéia e disse a Iul que iria nesta tarde ao
castelo do Rei Udib para marcar a data do pedido.
O Rei Udib recebeu Danyl com grande pompa e, ao saber a razão da
visita do gato, Asoief não conseguia esconder seu contentamento.
Como Iul era simples, preferiu que o pedido fosse sem festa e a data
do casamento foi marcada e aconteceria no mês das noivas. Enquanto
Iul e Asoief namoravam quase todas as noites, os proclamas e convites
percorriam as terras do Reino dos Campos Livres. Embora Danyl se
sentisse um pouco entediado, prometeu a si mesmo ficar até que o
casamento se realizasse. Na data marcada, toda a corte estava presente
ao evento. A decoração da igreja estava simples e elegante, com vários
tipos de flores brancas, como lírios, rosas e orquídeas. Nos castiçais
de prata, ardiam grandes velas aromatizadas que traziam para dentro
da igreja o perfume dos bosques que cercavam o castelo. A ornamentação
da fachada da capela ressaltava sua arquitetura. Tudo estava muito
bonito e até o sol, ao se pôr, colaborou tingindo o céu de vermelho,
laranja e amarelo sobre aquele pedaço de azul claro, como dissesse que
nesse dia haveria festa no Céu, na Terra e no coração de todos que
amavam a jovem e simpática princesa, seu bondoso pai e agora a Iul,
futuro esposo de Asoief.

O casamento seria celebrado pelo Cardeal Laedrac que, na sacristia,
conversava com alguns nobres enquanto aguardava que a noiva chegasse.
Na nave da capela, Iul e todos que estavam por ali tiveram uma grande
surpresa. Ao entrar na igreja, o Rei Lui Sopmac ao ver Iul conversando
próximo ao altar principal, exclamou boquiaberto:

- Oh, meu Deus... é meu irmão Iul!

As pessoas presentes, observando a semelhança entre o Rei Lui e o cego
Iul, também exclamaram:

- Oh, eles são idênticos!

- Lui, meu irmão querido... há quanto tempo! - exclamou emocionado Iul
com lágrimas nos olhos.

A esta altura do campeonato, digo, do casamento, todo mundo chorava de
emoção pelo reencontro dos irmãos. Lui e Iul, abraçados, choravam aos
borbotões. A noiva ainda não chegara, atrasada como todas as noivas
que se prezam. Dizem que faz parte da etiqueta nupcial, mas que é um
saco, isso é. Enquanto a noiva não chega, vamos aproveitar para ouvir
um pouco mais a conversa entre os irmãos... se o choro deles deixar!

- O que houve, Iul? Por onde você andava, mano?

- Você sabe, Lui, que desde criança sempre gostei de aventuras e de
estar em contato com a natureza... aí saí pelo mundo!

- Mas precisava sumir, Iul? Por que nunca nos deu notícia do seu
paradeiro, mano?

- Ora, Lui... quem vive pelo mundo quer ser livre, quer distância das
convenções, quer fugir dos pesadelos da cidade, quer apenas viver!

- Mas mano, você gostava do nosso castelo e das nossas brincadeiras!

- Mas Lui, nós éramos crianças e, para uma criança, cada dia é uma
nova aventura!

- Quando você sumiu todos ficamos preocupados. Mamãe e papai choraram
de saudade e por falta de notícias suas, por muito tempo!

- E como estão eles, Lui?

- Muito bem, Iul... estão com Papai do Céu!

E ambos choraram mais um pouco. Nesse momento, ao som das trombetas,
conduzida pelo Rei Udib, a noiva adentrava a capela. Lui então disse
ao irmão:

- Vou levá-lo até diante do altar para você receber sua noiva, mano!

- Obrigado, Lui! Conversaremos na festa!

Após deixar o irmão diante do altar, o Rei Lui Sopmac voltou a ocupar
seu lugar junto aos demais padrinhos da noiva. O Rei Udib e a Princesa
Asoief, ao som de um reggae medieval, chegaram ao lado do rapaz. Iul
recebeu A princesa da mão do seu pai e dando-lhe o braço, virou-se
na direção do altar. O Cardeal Laedrac estava apenas aguardando que a
noiva fosse entregue ao noivo para iniciar a cerimônia. O Coral Real,
ao som do Órgão Real, entoou a marcha nupcial... e Danyl, ao ver a
Princesa Asoief, de queixo caído, pensou:

- Oh, ela está linda! Nem parece a princesa que conheci no sétimo
capítulo! O que uma boa maquiagem não faz... e um autor meloso!

Realmente Asoief estava irreconhecível, isto é, estava simplesmente
linda. Mas, como não sou desses que ficam olhando mulher alheia,
voltarei minha atenção para os trajes dos nubentes...
Iul vestia um terno grafite riscado, camisa cinza chumbo e gravata num
tom mais escuro que o da camisa, porém mais clara do que o terno.
Usava sapatos e cinto pretos e meias grafites. Iul estava elegante,
mas quem causava sensação era a noiva. Todos os olhares se voltavam
para ela. Asoief estava impecável. A princesa caprichara no visual e
estava muito bonita. Usava um vestido... o quê? Acabou o capítulo?
Sinto muito, caro leitor, mas vocês só saberão como a princesa estava
vestida no próximo capítulo! Até mais ver!

- - -

@ Parte X


Onde eu parei mesmo? Ah, eu descrevia os trajes dos noivinhos. Como eu
dizia, o Marquês de Racabás estava muito elegante, mas a Princesa
Asoief que, como todas as noivas, era a protagonista principal desse
maravilhoso, emocionante e inesquecível dia na vida de uma mulher,
estava simplesmente deslumbrante. Ela vestia um longo de corpo justo
em crepe de seda na cor rosa "bebê" (Será que já...? - Rê rê rê!), sem
mangas, com uma cauda saindo das laterais. O decote em "V" realçava a
beleza do seu busto, sobre o qual caía um exuberante colar de pérolas
da Tiffany, combinando com os brincos e braceletes da mesma marca.
O cabelo armado num coque alto e um pequeno véu davam-lhe um charme
especial. Os sapatos altos e de saltos finos tornavam mais esguia sua
figura. Ela trazia nas mãos um buquê redondo de pequenos botões de
rosas naturais e um terço à volta deste. Nos braços, além dos
braceletes, apenas duas singelas pulseiras com três coraçõezinhos de
diamantes incrustados. Os dedos finos das delicadas mãos não traziam
anel algum. Se Iul enxergasse veria o quanto sua futura esposa estava
encantadora. Após os noivos dizerem o "sim", trocarem as alianças e
os juramentos de praxe, o Cardeal Laedrac, desejando felicidades a
ambos, deu por encerrada a parte religiosa do casamento e os nubentes,
padrinhos e alguns convidados dirigiram-se à sacristia para assinar
a papelada que oficializaria a parte civil do enlace. Depois de quase
uma hora de assina aqui, assina ali, todos foram para o castelo do Rei
Udib onde seria realizada a festança. À porta da igreja uma carruagem
prateada com frisos dourados, puxada por oito cavalos brancos com
plumas de avestruz na cabeça e arreios de ouro aguardava os noivos
para levá-los ao local da festa. Por causa das mais de cem carruagens
estacionadas no pátio do templo, houve um pequeno congestionamento que
foi logo resolvido pelos cocheiros e escudeiros que aguardavam seus
senhores e todas seguiram a carruagem dos noivos em cuja traseira os
amigos destes amarraram alguns barris de carvalho, penduraram pequenos
sinos e ainda escreveram frases picantes com chantili, fazendo alusão
ao enlace e à noite de núpcias do casal. (Rê rê rê!)
Como o trajeto era curto, logo a comitiva chegou ao castelo, que fora
todo pintado, reformado e ornamentado para receber os convivas. O Rei
Udib contratara um buffet da Capital e a nobreza camposlivrense que,
como sabemos, não perde uma boca livre, estava ali em peso, disposta a
comer e beber à vontade. Assim que pisaram o salão, os noivos foram
recebidos por uma chuva de pétalas de rosas e aplausos. Após receberem
os cumprimentos, Asoief achou que era chegada a hora de, como manda a
tradição, atirar o buquê para trás, por cima da sua cabeça. As damas
presumivelmente solteiras, presentes, entre estas, as baronesas Aneli,
Ceni Tespon e Mexines; as condessas Écari Lin, Ramisa Yltau, Tair
Desmen e Taline; as duquesas Ahtri Gon, Anne Lucy, Eliami, Marnele
Gars; a marquesa Pat Braill e as princesas Dreana, Duds e Zialu,
faziam o maior alvoroço e, sorrindo e dizendo gracinhas, no afã de
pegar o buquê, empurravam-se umas às outras por pura brincadeira, mas,
por superstição ou não, viam-no como um talismã para arranjar marido e
sair do barricão...

VUPT! TUMP!

O buquê voou, voou, voou e foi apanhado, ainda no ar, pela... como é
mesmo o nome dessa moça? Ah, deixa pra lá! Depois eu descubro!

Assim que as damas dispersaram, a retreta contratada pelo rei para
animar o baile deu os primeiros acordes da valsa nupcial e os noivos
saíram dançando, trocando olhares apaixonados. Quando eles pararam de
dançar, a galera explodiu em aplausos. Como a orquestra tocava todos
os ritmos populares da idade desmédia, atacou um forró pé-de-torre e
os pares se formavam para dançar, esbaldando-se na pista de dança,
indo, de vez em quando, às suas mesas para descansar um pouco, beber
um drinque e comer alguma coisa. As cinqüenta e uma garçonetes não
paravam de servir bebidas e passar com as bandejas de salgadinhos
entre todas as cinqüenta e uma mesas. Tanto o Rei Udib, quanto os
noivos, fizeram questão que seus súditos participassem da festa que,
segundo Danyl, tinha gente saindo pelo ladrão. Numa dessas idas e
vindas do gato pelo salão, ele resolveu dar um pulo, não literalmente,
claro, na mesa do amigo Iul. O Rei Lui Sopmac conversava animadamente
com o irmão e Asoief, pendurada no ombro do marido, entre um afago e
outro, sorria ao ouvir as histórias das muitas travessuras dos irmãos
quando crianças.
Nas sete mesas à volta desta, via-se toda a nobreza camposlivrense.
Ao passar entre algumas pessoas, alguém o chamou...

- Danyl... Danyl!

Imediatamente o gato reconheceu a voz do Conde Rodavlas e foi ao seu
encontro...

- Papai! Que prazer revê-lo! Como estão mamãe e as manas?

- Com muitas saudades, filho! Venha vê-las, elas estão aqui! - disse o
conde abraçando o filho e levando-o até a mesa onde estavam seus
familiares.

- Mamãe... Anadria... Enidale! - exclamou Danyl sem conseguir segurar
algumas lágrimas que teimavam em cair.

A Condessa Anigroj, entre lágrimas, abraçou o gato, digo, o filho...

- Meu filho, meu filho... que bom revê-lo! Volte pra casa... estamos
morrendo de saudades!

- Eu também tenho saudade de vocês, Mamãe, mas meu destino já está
escrito e dele ninguém foge, Mamãe! Eu quero bater perna, Mamãe!

- Mas, filho, isto não é vida!

- Ora, Mamãe... eu tenho sete vidas... deixe-me ao menos estragar
umazinha!

Nesse momento Anadria e Enidale aproximaram-se do irmão e o abraçaram
também. O Conde Rodavlas, com os olhos marejados, observava os quatro
abraçados, mas não quis intervir para não quebrar o encanto daquele
momento sublime que desejaria levar de lembrança quando voltasse para
Samlasadzurc. Danyl sentou-se com seus familiares e prosearam cerca de
duas horas, quando o gato decidiu que iria embora, pois sabia que,
quanto mais tempo ficassem juntos, mais eles sofreriam...

- Mamãe, Papai, manas... tenho que ir!

- Mas já, filho? Fique mais um pouco conosco, filho!
Não vai nem esperar cortar o bolo, filho?

- Não se vá, mano! - pediu chorosa Enidale.

- Não posso ficar nem mais um minuto com vocês! - cantarolou Danyl com
um sorriso triste.

- Tudo bem, mano... até mais! - disse Anadria.

- Vê se manda notícias, mano! - completou Enidale.

- Não se preocupem, maninhas... é só ler os próximos capítulos dessa
novelinha e vocês saberão o que ando fazendo! - disse Danyl sorrindo.

- Tudo bem, filho... falarei com a Marquesa de La Moderación para
inscrever-me na "CL"! - disse o Conde Rodavlas.

- Vá em paz, filho... e Deus o abençoe! - disse a Condessa com a voz
trêmula.

Para que seus pais e irmãs não sofressem mais, Danyl decidiu ir embora
da festa. Deixando os seus, foi até a mesa de Iul e Asoief para
despedir-se destes...

- Marquês, Princesa, Rei Lui... Estou indo!

- Está bem, Danyl... nos falamos amanhã!

- Certo, Marquês!

- Tchau, Danyl! - disse a princesa.

- Até amanhã, Danyl! Iul me contou como vocês se conheceram!

- É uma longa história, Majestade!

- Eu também quero ouvir essa história, Danyl! - disse a princesa.

- Bem... se vocês querem mesmo saber como tudo começou, é só ler os
primeiros capítulos dessa novelinha. Fui! - disse Danyl sorrindo
enquanto se afastava dos amigos.

Antes de deixar o salão, Danyl foi despedir-se do Rei Udib e de alguns
nobres que conhecia. Segundo as revistas semanais Óia, Digo e Período,
a festa durou três dias, sem a presença dos noivos que viajaram ainda
na primeira noite para a lua-de-mel numa maravilhosa e afrodisíaca
praia do litoral nordestino no Lisarb, reino vizinho ao Reino dos
Campos Livres, só retornando a Satobedotag três semanas depois.
Durante esse tempo, Danyl administrava a vida no castelo e, nas horas
vagas e à noite, confortavelmente instalado sobre enormes e macias
almofadas de seda e veludo, lia os poemas e contos escritos por Iul,
os gibis do Blind Kid, do Mandblind, Capitão Blind, Super-Blind,
Inspetor Blind, entre outros da coleção que Iul guardava com o maior
esmero e carinho, ouvia a FM51, uma das emissoras de rádio local ou
assistia tevê em imagens captadas pela antena "paranóica" que Iul
mandou instalar para assistir desenhos animados, seriados, novelas e
filmes do Babenco, Chaplin, Fellini, Glauber, Hitchcock, Polanski e
Spielberg, bem como a alguns de faroeste e selva.

Quando a carruagem que trazia Iul e Asoief apontou na curva, Danyl
e os serviçais do castelo já os esperavam na ponte levadiça com buquês
de rosas brancas para ofertar à princesa. A carruagem adentrou o
castelo e todos foram atrás gritando hurras, vivas e batendo palmas.
Asoief, emocionada com a recepção calorosa dos seus futuros serviçais,
não pôde conter as lágrimas, mas, com um largo sorriso recebia as
flores e apertava a mão de todos que se aproximaram dela. Após essa
manifestação de carinho, os empregados se retiraram e o casal,
acompanhado pelo Danyl, foi até o salão de armas para prosear um
pouco. Duas horas mais tarde, o casal retirou-se para seus aposentos.
Durante o jantar, Danyl contou tudo que ocorrera na ausência de Iul e
o colocou a par das novidades e providências que deveriam ser tomadas
para o bom andamento dos serviços no castelo. Falou que os serviçais
estavam cientes de suas responsabilidades e vinham trabalhando com
afinco e dedicação, merecedores de todos os elogios. Segundo ele, Iul
e Asoief nunca teriam qualquer aborrecimento com seus serviçais.
No almoço do dia seguinte, Danyl disse aos amigos que iria partir...

- Mas por que quer nos deixar, Danyl? - indagou tristonha a princesa.

- Já fiquei tempo demais aqui, amigos... quero viver novas aventuras!

- Eu o compreendo, Danyl! Espero que volte para nos visitar, amigão!

- Claro, Iul! Talvez nos encontremos em uma outra novelinha!

- Eu espero que sim, Danyl! Devo a você minha felicidade, amigo. Se
não fosse você, eu nunca conheceria o amor da minha vida!

- Ora, Iul... ninguém foge ao seu destino, amigo!

- Eu também quero agradecer-lhe, Danyl, por haver dado uma mãozinha ao
meu destino e colocado Iul em minha vida!

- Mesmo que eu não tivesse ajudado, Princesa Asoief, seu destino já
estava traçado!

- Fique mais alguns dias, amigo Danyl... eu gostaria de ouvir algumas
das suas histórias! - disse a princesa.

- Não se preocupe, Asoief... haverá sempre alguém interessado em
narrar minhas aventuras!

Eles continuaram conversando enquanto almoçavam e, logo após a sesta,
Danyl estava pronto para partir...

- Bem, amigos... estou indo!

- Está bem! Ficaremos aguardando notícias!

- Eu escreverei para vocês, Iul!

- Vá com Deus, Danyl! - disse a princesa chorando.

Danyl deu um forte abraço no amigo, abraçou Asoief, beijou-lhe a mão e
desceu a escadaria que o levaria ao pátio externo do castelo. Ali, os
serviçais o esperavam para despedir-se daquele que os salvara do seu
terrível algoz...

E entre abraços, lágrimas e aplausos, Danyl deixou o castelo!

- - -

Nenhum comentário:

Postar um comentário